Homilia do padre Julián Carrón no funeral de Manuela Camagni

Julián Carrón

“Ninguém vive para si mesmo, e ninguém morre para si mesmo” (Rm 14,7). As palavras de São Paulo vêm em nosso auxílio neste momento de dor, para podermos olhar até o fundo o gesto que celebramos: sepultar a nossa irmã e amiga Manuela.
Os que passaram com ela a tarde anterior à sua morte, e em seguida a noite junto dos amigos, descrevem-na radiosa, contente, resplandecente. E é esta imagem que fica nos nossos olhos, porque esta luminosidade era o sinal, o fruto amadurecido da sua vocação. Aquilo que São Paulo acaba de nos dizer, ou seja, que “Ninguém vive para si mesmo, e ninguém morre para si mesmo”, significa que se nós vivemos, vivemos para o Senhor, e quando vivemos para o Senhor, como ela, o Senhor nos leva a uma plenitude, a uma alegria, a uma felicidade tais que extravasam relativamente a qualquer imaginação nossa.
E justamente por termos visto Cristo em ação quando toma um ser humano, quando o chama a Si, quando o chama para o fazer participar da Sua vida, da Sua plenitude, se nós o vimos em ação, como podemos agora não reconhecer também a verdade das palavras seguintes: “Se morremos, morremos para o Senhor”? Aquele que brilhava na luminosidade da nossa Manuela é Aquele que brilha, agora, também na sua morte. Por isso nós podemos encarar a morte com a mesma certeza, com a mesma segurança com que O vimos e certificamos brilhar no rosto da nossa amiga.
Compreendamos bem o significado profundo destas palavras, meus amigos! “Quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor. É para isso que Cristo morreu e voltou à vida: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos”. A sua vida e a sua morte gritam a mesma coisa, e se nós deixamos entrar Cristo na vida, o Senhor leva-a a uma plenitude como vimos e constatamos nela. Não é imaginação nossa, o cristianismo não é um pensamento nosso ou um sentimento nosso, mas é o que vimos na obra de Deus em Manuela. A sua morte e a sua vida gritam o significado da sua vocação, que dar a vida a Cristo é poder gritar a todos os homens – agora também a sua morte o grita – que só Cristo pode preencher a vida do homem.
Cristo é a única razão para viver e para morrer. E Cristo é aquele que nos permite chegar a uma plenitude capaz de enfrentar a morte sem medo. Hoje podemos estar certos de que Ele acrescenta Manuela para sempre à Sua Companhia, porque nós vimos como a uniu a Si na Sua companhia durante a vida.
Por isso estamos certos, e neste momento de dor não podemos deixar de estar agradecidos, profundamente agradecidos por termos tido a sorte de ser cristãos. Por termos tido a sorte de conhecer o significado profundo do viver e do morrer, como nos testemunhou a nossa amiga.

(Funeral de Manuela Camagni
San Piero in Bagno, 29 de novembro de 2010)