Mensagem para a XXXIV peregrinação a Czestochowa

Julián Carrón

Queridos amigos, este é o drama do homem: desejar algo que não pode dar a si próprio, porque a nossa necessidade é incomensurável em relação àquilo que podemos fazer ou gerar com as nossas forças. Qual seja a nossa necessidade, é algo que não decidimos nós, mas a encontramos em nós como experiência de uma «desproporção estrutural» - diz Dom Giussani – que nos torna desejo de infinito, de totalidade. Podemos ter maior ou menor consciência de que essa é a questão, mas é impossível que o desejo de totalidade não esteja presente em tudo o que fazemos. Por isso, dizemos com Cesare Pavese que «o que um homem busca nos prazeres é um infinito, e ninguém jamais renunciaria à esperança de conseguir essa infinitude» (O Ofício de Viver).

Se com tudo o que geramos e fazemos não somos capazes de responder, a única possibilidade é que a resposta venha de fora de nós. Sem se abrir a algo de outro, o homem não pode se realizar. Mas como pode acontecer essa abertura, se muitas vezes pensamos que perderemos a nós mesmos se nos abrirmos a um outro? Somente experimentando uma atração tal (pensemos no amor) que seja capaz de abrir a própria “fortaleza”, somente se a atração de uma presença for potente a ponto de vencer a tentação de se fechar no próprio círculo, o homem poderá se abrir. Foi por isso que o Mistério entrou na história, mostrando-se de um modo tão atraente que torna possível ao homem a relação com uma presença que o abre – digamos -, o desarma, tirando-o de trás das barricadas, tirando-o da defensiva, para se abrir a uma coisa que o realiza.

Nós vamos a Czestochowa para pedir a esta Presença que seja tão real em nossa vida que nos permita abrirmo-nos à sua atração. Porque é inevitável que cada um, se não encontra este Outro, tente realizar a sua vida com a própria ação, uma vez que, seja como for, o desejo permanece como gigante «em solitário campo» (G. Leopardi, «O Pensamento Dominante»). Toda a pretensão de Jesus é esta – não no sentido de querer impor alguma coisa, mas porque carrega uma promessa –: o homem só poderá se realizar se deixar entrar em sua vida a Sua presença. Mas quem está disponível a isso? Como vemos no Evangelho, diante de semelhante pretensão surgiram tantas resistências que quase todos o rejeitaram. É necessário um amor para reconhecê-lo, é um problema de afeição. O problema da vida não é o sucesso, mas um amor. Entender bem isso dentro da própria experiência, é crucial.

A peregrinação é um momento privilegiado porque, pela própria dinâmica do gesto, pelo cansaço, pelo esforço, pela dureza do caminho, cada um pode perceber mais facilmente a natureza da própria necessidade, cada um é ajudado a tomar consciência de si e, por isso, a pedir algo de Outro.
«A vida é minha, irredutivelmente minha» («Movimento, “regra” de liberdade», 1978), dizia Dom Giussani, e nada é tão sério como a vida, porque está em jogo a felicidade, isto é, a razão do viver.
Ir a Czestochowa para pedir essa consciência que nos foi dada desde o primeiro instante em que tivemos uma experiência séria da vida, graças à qual descobrimos em nós o desejo de ser feliz, pedir que não falte esse desejo, é a coisa mais imprescindível.

Peço-lhes que caminhem até Nossa Senhora de Czestochowa acrescentando a todas as suas intenções, esta: que o Movimento Comunhão e Libertação, no seu sexagésimo ano de existência, permaneça fiel ao carisma recebido, porque nós vimos com os nossos olhos a fecundidade do carisma que vimos encarnado em Dom Giussani e que fascinou a todos nós.
Só poderemos dar a contribuição a que o Papa Francisco nos chama – levar Cristo às periferias da existência, aos lugares onde se desenvolve a vida de todos – se nós, em primeiro lugar, formos testemunhas do carisma agora, testemunhas de um cristianismo vivido com essa atração.

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