A pessoa renasce em um encontro

Antologia
Luigi Giussani

Notas de um diálogo com um grupo de universitários, em fevereiro de 1987, publicado em “Un avvenimento di vita, cioè una storia”, Ed.Il Sabato, 1993, pp. 209-211.

O efeito Chernobyl
Gostaria de iniciar esta nossa conversa observando uma diferença entre a atual geração de jovens e a que encontrei trinta anos atrás: a diferença consiste numa fraqueza de consciência nos jovens de hoje; uma fraqueza não ética, mas relativa ao próprio dinamismo da consciência.
Não é por nada que depois de tantos anos colocamos como tema a influência nefasta e decisiva do poder, da mentalidade comum e dominante – dominante no sentido literal.
É como se todos os jovens de hoje tivessem sido investidos por uma espécie de Chernobyl, de enorme explosão nuclear: o seu organismo estruturalmente é como antes, mas dinamicamente não é mais como antes; houve como um plágio fisiológico, operado pela mentalidade dominante.
É como se hoje não houvesse evidência real alguma, a não ser a moda – que é um conceito e um instrumento do poder.
Assim também ao anúncio cristão custa muito mais tornar-se vida convicta, tornar-se vida e convicção. Aquilo que se ouve e que se vê não é verdadeiramente assimilado: aquilo que nos circunda, a mentalidade dominante, a cultura que tudo invade, o poder, realizam em nós uma estranheza em relação a nós mesmos. Isto é, permanece-se, de um lado, abstrato na relação consigo mesmo e afetivamente descarregado (como pilhas, que em vez de durarem horas duram minutos); e, de outro lado, por contraste, refugia-se na comunidade como proteção.

A pessoa reencontra a si mesma num encontro vivo
Se hoje a evidência mais convincente parece ser a moda, onde a pessoa pode reencontrar a si mesma, a própria identidade original? A resposta que estou para dar é uma resposta que não cabe apenas na situação em que estamos, mas é uma regra, uma lei universal (desde quando há e até quando houver o homem): a pessoa reencontra a si mesma num encontro vivo, deparando-se com uma presença que suscita uma atração e a provoca para que reconheça que o seu “coração” – com as exigências com as quais é constituído – existe.

O eu reencontra a si mesmo no encontro com uma presença que carrega consigo esta afirmação: “Existe aquilo de que é feito o seu coração ! Veja, por exemplo, em mim existe”. Porque, paradoxalmente, a originalidade do próprio eu emerge quando se dá conta de ter em si algo que está em todos os homens (isto é aquilo que realmente coloca em relação com qualquer pessoa e não deixa sentir ninguém como estranho).

O homem redescobre a própria identidade original deparando-se com uma presença que suscita uma atração e provoca um despertar do coração, um movimento cheio de razoabilidade, pois realiza uma correspondência às exigências da vida segundo a totalidade das suas dimensões – do nascimento à morte. Portanto, a pessoa se reencontra quando nela predomina uma presença que corresponde à natureza “exigencial” da vida: somente assim o eu não está mais na solidão. Normalmente, dentro da realidade comum, o homem, como “eu”, está na solidão, da qual procura fugir com a imaginação e os discursos.

Esta presença que corresponde à vida, é o contrário de uma imaginação. O encontro que permite ao eu redescobrir a si mesmo não é um encontro “cultural”, mas vivo; não é um discurso feito, mas um “fato” vivo – que, naturalmente, pode esclarecer-se também ouvindo alguém que fala; quando ele fala, porém, é com algo vivo que o eu é colocado em relação, não com uma ideologia ou um discurso destituído da força da vida.

Não se trata, insisto, de um encontro cultural, mas existencial. Este encontro carrega consigo duas características que constituem a sua inconfundível verificação: introduz na vida uma dramaticidade, que consiste em perceber uma provocação à mudança de si e em tentar um início de resposta e, ao mesmo tempo, introduz pelo menos uma gota de alegria, mesmo na condição mais amarga, ou na constatação da própria mesquinhez. Enfim, para usar uma outra expressão, o que deve acontecer para que o eu redescubra a si mesmo é um encontro evangélico, capaz de reconstituir a vitalidade do humano: como o encontro de Cristo com Zaqueu.