Discurso de João Paulo II aos sacerdotes participantes de Comunhão e Libertação

Publicado com o título «Renovai continuamente a descoberta do carisma», in L'idea di movimento, suplemento de «Litterae comunioni-CL, n. 3, março 1987, p. 18
João Paulo II

Caríssimos irmãos no batismo e no sacerdócio.

1. Estou muito feliz por me encontrar com vocês ao final deste vosso encontro anual de oração e de meditação, os exercícios espirituais, que reúnem, já há algum tempo, os sacerdotes participantes da experiência de Comunhão e Libertação ou próximos a ela.
Muitas vezes, principalmente durante as minhas viagens na Itália e nos vários países do mundo, tive a ocasião de reconhecer o grande e promissor florescimento dos movimentos eclesiais, e os indiquei como um motivo de esperança para toda a Igreja e para os homens.
A Igreja, com efeito, nascida da Paixão e Ressurreição de Cristo e da efusão do Espírito, difundida em todo o mundo e em cada tempo sobre o fundamento dos Apóstolos e dos seus sucessores, foi enriquecida através dos séculos pela graça de sempre novos dons. Estes, nas diversas épocas, permitiram-lhe estar presente em formas novas e adequadas à sede de verdade, de beleza e de justiça que Cristo vinha suscitando no coração dos homens e do qual Ele mesmo é a única, satisfatória e completa resposta.
Como a Igreja necessita renovar-se continuamente, reformar-se, redescobrir de modo sempre mais autêntico a inesgotável fecundidade do próprio Princípio!
Muitas vezes foram os próprios Papas e Bispos os portadores dessa energia carismática de reforma, outras vezes o Espírito quis que fossem sacerdotes ou leigos iniciadores e fundadores de uma obra de renascimento eclesial, que permitiu viver, por meio do surgimento de comunidades, de institutos, de associações, de movimentos, o pertencer à única Igreja e o serviço ao único Senhor.

2. Dos movimentos eclesiais, junto com os leigos, em geral participam também sacerdotes, os quais, em comunhão de obediência com as Igrejas particulares, levam à vida das comunidades o dom do seu ministério, principalmente mediante a celebração dos Sacramentos e a oferta de um maduro conselho. Portanto, é a vós sacerdotes que agora quero me dirigir para vos ajudar a compreender melhor e a viver melhor o vosso pertencer eclesial no contexto da adesão ao movimento de Comunhão e Libertação.
O que eu disse acima sobre a vida da Igreja é verdadeiro também para todo fiel e especialmente para todo sacerdote. O surgimento do corpo eclesial como instituição, a sua força persuasiva e a sua energia de agregação possuem a sua raiz no dinamismo da Graça sacramental. Esta encontra, porém, a sua forma expressiva, a sua modalidade operativa, a sua concreta incidência histórica mediante os diversos carismas que caracterizam um temperamento e uma história pessoal.
Como a Graça objetiva do encontro com Cristo chegou a nós veiculada por encontros com pessoas específicas das quais recordamos com gratidão o rosto, as palavras, as circunstâncias, da mesma forma Cristo se comunica com os homens por meio da realidade do nosso sacerdócio, assumindo todos os aspectos da nossa personalidade e sensibilidade.
Deste modo, todo sacerdote, vivendo plenamente a graça do sacramento, torna-se capaz de dar um rosto ao seu povo, e de ser assim “modelos do rebanho” (1Pd 5,3).

3. Quando um movimento é reconhecido pela Igreja, este se torna um instrumento privilegiado para uma pessoal e sempre nova adesão ao mistério de Cristo.
Não permitais jamais que na vossa participação se aloje o caruncho do costume, da “rotina”, da velhice! Renovai continuamente a descoberta do carisma que vos fascinou e ele vos levará de forma mais potente a vos tornardes servidores daquela única potestade que é Cristo Senhor!
Em seus documentos, várias vezes o Concílio Vaticano II, cujo vigésimo ano de encerramento celebraremos em breve com um Sínodo Extraordinário, encorajou as agregações sacerdotais como caminho no qual se incrementa o inesgotável rosto pessoal da obra apostólica do sacerdote: “Devem ter-se em especial apreço e promover diligentemente as associações, que com estatutos aprovados pela competente autoridade eclesiástica promovem a santidade dos sacerdotes no exercício do ministério, por uma apropriada regra de vida e ajuda fraterna, e assim estão ao serviço de toda a Ordem dos presbíteros”.
Os carismas do Espírito sempre criam afinidades, destinadas a ser para cada um o sustento para a sua realização objetiva na Igreja. É lei universal criar-se tal comunhão. Vivê-la é um aspecto da obediência ao grande mistério do Espírito.
Um autêntico movimento existe portanto como uma alma alimentadora dentro da Instituição. Não se trata de uma estrutura alternativa a ela. Ao contrário, é fonte de uma presença que continuamente regenera a sua autenticidade existencial e histórica.
O sacerdote deve por isso encontrar num movimento a luz e o calor que o tornam capaz de fidelidade ao seu Bispo, que o tornam pronto para as incumbências da Instituição e atento à disciplina eclesiástica, de modo que seja mais fértil a vibração da sua fé e o gosto da sua fidelidade.

4. Na conclusão deste encontro não posso deixar de vos convidar a serem dispensadores daqueles dons que estão impressos em vós pelo caráter sacerdotal.
Sede antes de mais nada homens do perdão e da comunhão, doados ao mundo pelo coração aberto de Cristo e operantes mediante os sacramentos da Eucaristia e da Penitência.
Não poupeis esforços nessa tarefa e, antes, fazei da celebração sacramental uma escola para a vossa vida, conscientes de quais são as necessidades mais importantes do homem de cada tempo. Na oração pessoal e comum, levai à presença de Deus os pedidos e as necessidades daqueles que vos são confiados e pedi a assistência do Senhor sobre a vida do vosso movimento.
Sede os mestres da cultura cristã, daquela concepção nova da existência que Cristo trouxe ao mundo e sustentai as tentativas dos vossos irmãos para que essa cultura se expresse em formas sempre mais incisivas de responsabilidade civil e social.
Participai com dedicação daquela obra de superação da fratura entre Evangelho e cultura, para a qual convidei toda a Igreja italiana no recente discurso durante o congresso eclesial de Loreto.
Senti toda a grandeza e a urgência de uma nova evangelização do vosso país! Sede as primeiras testemunhas daquele ímpeto missionário que confiei ao vosso movimento!
Sustente-vos a energia de Cristo Senhor que “morreu por todos a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5,15).
Acompanhe-vos a proteção de Maria Santíssima: confiai a Ela os vossos propósitos e as vossas esperanças.
Com estes votos concedo a vós e àqueles aos quais se dirigem a vossa atividade pastoral a minha Bênção.