Passos N. 240, outubro 2021

Não há preço

Entre as diversas exposições apresentadas durante o Meeting de Rímini – grande evento cultural que ocorreu no final de agosto na Itália por ocasião do verão europeu –, havia uma sobre a secularização, da qual falamos nas próximas páginas desta edição. Ali havia imagens de igrejas transformadas em restaurantes, museus ou piscinas; e um depoimento do filósofo canadense Charles Taylor dizendo que para ele o mais interessante a se perguntar é por que ele não se afastou da Igreja como tantos fizeram nos anos sessenta.

No vídeo, essa pergunta aparecia na frente das fotos de gerações inteiras até à nossa: flashes de aspirações autênticas, expressas em todas as formas e que seguem o trágico impulso em busca de uma resposta que não nos podemos dar. Mas há quem “escute” nelas o pressentimento de algo mais forte do que os ventos que as abalam.

E é aqui que entra ainda hoje a pergunta de Taylor. Julián Carrón quis repropô-la no Dia de Início de Ano, encontro que todos os anos marca um passo no caminho do Movimento de CL e que vocês podem encontrar na página 19: “Como foi que não terminamos como tantos dos nossos contemporâneos, que abandonaram a Igreja?”.

Encarar essa pergunta é não considerar óbvio o fato mais evidente: “Se não pertencemos ao deserto, é pela graça que recebemos, pela graça do carisma dado pelo Espírito Santo a Dom Giussani em função de toda a Igreja”, ou seja, “pela forma que Cristo escolheu para nos atrair a Si”. A fé abriu caminho, penetrou na vida, só “porque respondeu à nossa sede de plenitude e de destino”, continuou Carrón antes de introduzir o áudio de uma fala de 1976, na qual Dom Giussani diz com toda a sua pessoa: “Não existe coisa mais humanamente perturbadora e verdadeira do que essa”, referindo-se à pergunta de Cristo que percorreu a sua vida e o deixava sem fôlego: “Que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, mas arruinar a sua vida? Que poderia dar em troca de sua vida?”.

A graça da vida é o encontro com uma voz assim, como a de Cristo que fala como mais ninguém do valor ilimitado da pessoa. “Se pronunciamos a palavra ‘eu’ com um mínimo de ternura atenta”, disse Giussani, veríamos que nada é comparável, nada é tão importante e irredutível: “Não há preço para esse eu!”.

No meio da tempestade ou de qualquer desastre em que nossa vida possa parar, nasce e renasce a possibilidade de uma consciência de si nova: por causa da surpresa de um olhar único com que deparamos. Por isso é que retornamos ao Meeting de Rímini, para aprofundarmos algumas propostas que tiveram grande incidência para muitos, a fim de olharmos para elas com os olhos de quem se deixou tocar, de quem lá esteve pela primeira vez ou de quem o construiu, envolvendo-se com o trabalho de uma exposição ou alinhando as cadeiras no salão. Há pessoas e fatos que têm um peso diferente, uma novidade de vida concreta que existe porque plasmada por um encontro.