Passos N. 261/262, setembro-outubro 2023

Balões murchos

O que se espera do trabalho hoje? O salário e a carreira não são mais suficientes? Os mais velhos dizem que os jovens são frágeis, os jovens dizem que querem outra coisa: eles pedem algo melhor ou não desejam construir? É o medo do fracasso ou eles buscam uma satisfação diferente? Grandes demissões, empresas em busca de valores éticos e bem-estar dos funcionários, as exigências de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, para conciliar trabalho e vida, como se o trabalho não fosse vida e toda vida não fosse trabalho. Cresce a ansiedade com o desempenho, o esgotamento e o trabalho para ser reconhecido. Por quê? Por quem?

A pandemia, sem dúvida, marcou uma revolução nas relações trabalhistas e no relacionamento com o trabalho. Mas o que está em jogo não são apenas novas estratégias corporativas e pessoais. Tampouco as diferenças geracionais. Porque, para todos, o trabalho é um teste da consistência de suas vidas. Assim, surgem perguntas que talvez não tenham sido feitas de forma tão ampla e incidente antes: qual é o significado do trabalho? O que ele me realiza? Por que vale a pena fazer um sacrifício? É possível trabalhar e também viver? E o que é viver?

«Chama-se trabalho tudo aquilo que expressa a pessoa como relação com o infinito», diz um texto de Luigi Giussani no início desta edição: «O trabalho é a expressão do homem que usa, manipula, tudo que está ao seu redor». O homem dá forma às coisas. Mas o que dá forma ao próprio homem? Hoje «tudo está, por assim dizer, flácido». Padre Mauro-Giuseppe Lepori, nos Exercícios Espirituais da Fraternidade de CL deste ano, descreveu assim o que acontece com o nosso mundo se colocarmos a fé de lado: «Vivemos numa cultura murcha, numa sociedade murcha, numa vida familiar, numa educação, num trabalhar, amar, divertir-se, rezar, crer murchos, esvaziados, como um enorme balão ou como vários balões dos quais escapou, por um minúsculo furinho de agulha que ninguém tinha percebido, o ar que lhe dava forma, que lhe dava plenitude».

Diante de um panorama que escapa à análise e às generalizações, este número propõe diálogos e testemunhos para olhar as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho, e experiências em diferentes setores, do trabalho vivido como doação de si. Dom Giussani, de fato, não educou "para o trabalho", mas para viver a existência como um chamado à plenitude. «Tudo é trabalho, porque é expressão do eu», dizia: «E se essa expressão do eu é vivida na memória de Cristo, então tudo se torna diferente». Até aquela pergunta que pode surgir de um colega: «Por que você é assim?». Como aconteceu com Emanuela, uma jovem enfermeira italiana da ala de oncologia pediátrica. O encontro com um modo de ser no trabalho que reabre todo o jogo. «Precisamente para esse homem afogado em seu ego, esvaziado de si mesmo porque está esvaziado do relacionamento de amor e confiança com o Criador», continuou Lepori, «Cristo vem trazer em Si mesmo uma plenitude de conhecimento real, de conhecimento da realidade inteira».