Via Sacra em Salvador

Via Sacra. «Nesse convite ocorre sempre uma novidade»

Numa Via Sacra que se repete todos os anos, a novidade da «verdade que brilha e se impõe, límpida, sem nenhum artifício». Leia o testemunho de Fátima sobre o gesto organizada pela comunidade de Salvador

Em Salvador, realizamos a Via Sacra nas ruas centrais da cidade, gesto que se iniciou um pouco antes da caminhada, no momento em que percorremos as ruas do centro da cidade entrando em prédios, casas comerciais, igrejas e praças para convidar os moradores das redondezas a participar do gesto.

Nesse convite ocorre sempre uma novidade, desde o senhor que não aceitou sequer pegar no panfleto, alegando ser materialista até a medula, até a adolescente que, triste por haver esquecido a caminhada de Ramos da Arquidiocese, promete-nos participar da Via Sacra (acho que ela esqueceu novamente!).

Do gesto da Via Sacra participa conosco o bispo auxiliar Dom Estevão e, este ano em particular, o Pe. Eduardo do Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Há alguns anos, acompanha-nos também um grupo da Polícia Militar que permanece conosco durante todo o gesto.



Ao caminhar nestas ruas, provoca-me o cenário repleto de resquícios de uma bela história e cheio de pessoas tão diversas, pobres, pessoas nos pontos de ônibus ou praças que, diante de nossa passagem, reagem das mais diversas formas: fazem um sinal da cruz, inclinam-se diante do bispo, retiram o chapéu, rezam conosco com a mão cheia de compras, ou fazem uma foto furtiva. Sempre há uma reação.

Para mim, passar por aqueles rostos, olhar para eles, é um exercício de reconhecimento, de redescobrir a razão última de participar deste gesto. O olhar delas me faz perguntar: por que eu participo de um gesto como este? o que me atrai em caminhar pelas ruas da cidade, com este grupo de amigos neste escaldante sol baiano? Respondo-me: o que atrai é a verdade que brilha e se impõe, e que brota em cada umas das passagens, límpida, sem nenhum artifício. Ela me corresponde, preenche o meu coração e me faz desejá-la.

Acrescento a isto duas colocações de amigos de diferentes idades. Um deles, de 15 anos, disse-me que o que mais o impressionava era a possibilidade de ouvir, nas paradas, as palavras de Péguy e ser acompanhado, durante aquele gesto, por uma poesia; isto para ele parecia uma novidade. Para outra, uma amiga do CLU, ouvir os cantos lhe possibilitava reconhecer a concretude contida nas palavras que nós líamos.

Na segunda parada, diante da meditação da negação de Pedro, o bispo nos dizia que nós somos aquilo que nós contemplamos e provocava-nos a perguntar o que nós havíamos contemplado nestes dias.

Acolhendo esta provocação do bispo, surpreendi-me grata por esta companhia simples de amigos cujo frágil sim, de adesão a este gesto, me possibilitou contemplar a Paixão de Cristo nas ruas do Centro da nossa cidade.

Fátima Pereira, Salvador