Foto Pexels-Rodnae Productions

Meu novo lar (temporário)

O vírus atinge Nando e o confina num quarto de hospital. Mas seu companheiro de quarto e o conforto dos que estão lá fora não o deixam só. Uma companhia que não dá trégua. Como quando ele ia ao parque de diversões...

«Não estamos sozinhos porque Alguém veio para nos acompanhar na vida» padre Julián Carrón.
Estou começando a minha quarta semana de doença: uma pneumonia bilateral por Covid19, definida pelos médicos como “muito séria”. Este vírus vil e tenaz te atinge e te chicoteia por todas as partes. Além da dor, do cansaço e da fadiga física pela falta de ar, a consequência mais grave é o isolamento de seus entes queridos, obrigando-o a ficar confinado em um quarto de hospital onde, se tudo correr bem (como no meu caso), você se encontra com um companheiro de quarto idoso que assim que você o cumprimenta ele te para, dizendo que o deixe rezar.

De um encontro tão banal pode nascer uma bela amizade, sustentada pelo fato de que ambos acreditamos em Jesus e nos ajudamos mutuamente dentro das condições que a realidade nos impõe. Esta situação, esta nova realidade, não domina, não prevalece, não é dona de tudo, porque além desta nova e inesperada amizade que me faz estar feliz, o que mais me surpreende, de maneira excepcional, é receber continuamente, nestes mais de vinte dias internado, mensagens e ligações dos meus familiares, dos meus amigos do grupo da Fraternidade e de todos os amigos da comunidade, que não me deixam você sozinho nem um momento ao longo do dia, que me acompanham constantemente com esse olhar de bem com que me cercam, com tanto carinho pelo meu destino. O mais bonito é que você não é o único a se dar conta disso, até o seu companheiro de quarto se surpreende e lhe pergunta quem são todos esses amigos «que não me dão trégua» me animando e se interessando pela minha saúde. É como sentir uma força centrífuga, como acontecia comigo quando era jovem, quando faltava alguma aula com meus amigos para irmos ao parque de diversões, onde continuamente você se lançava ao mais alto para sentir a vertigem de voar no vazio, mas voltando sempre o rosto para os seus amigos.

Agora que estou um pouco mais velho, também me vejo lançado continuamente, relançado e resgatado com mensagens, conexões por Zoom para rezar juntos o Angelus, o Rosário ou fazer Escola de comunidade. É incrível que a minha vida no quarto de um hospital agora seja meu novo lar, onde sinto igualmente o carinho da minha família, dos meus amigos que mais amo, incluindo o meu companheiro de quarto.

Pedir aqui, no hospital, «com humilde certeza, que o início de cada dia seja um sim ao Senhor que nos abraça e faz fecundo o terreno do nosso coração», tem outro valor, outro peso, uma gratidão consciente e diferente de como o era antes, ousaria dizer mais motivada.

Nando, Gerenzano (Varese, Itália)