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«Mãe, eu sou uma criança feliz»

Entre as dificuldades e o sofrimento de uma mãe diante da deficiência do filho, a descoberta de que ele «vive cada dia respondendo a um amor». Carta publicada na Revista Passos de abril

Temos três filhos maravilhosos, o mais velho tem 11 anos e é uma criança, como se costuma dizer, “especial”, um termo simpático, mas basicamente verdadeiro, para dizer que ele é deficiente. Apesar de fazer coisas que nenhum médico imaginava ser possível, tem muitas limitações e dificuldades, principalmente do ponto de vista cognitivo: não lê, mal escreve o seu nome e não consegue aprender nenhum número além de 1 e 2.

Há algumas semanas, eu estava pondo-o para dormir e ele viu o irmão lendo na cama e me perguntou: «Mãe, por que eu não sei ler?» Confesso que o meu coração se despedaçou, não só porque não tinha uma resposta para ele, mas sobretudo porque, num primeiro momento, o seu desconhecimento das suas limitações quase me confortou, enquanto naquela pergunta estava toda a sua vontade de ser como os outros, como os seus irmãos. Esbocei algumas frases e depois fiquei ao lado dele para adormecê-lo. A certa altura, ele disse: «Mãe, mesmo assim, sou uma criança feliz».

Fiquei sem palavras, e nos dias seguintes passei a observá-lo melhor para entender como é que podia dizer uma coisa assim, considerando a dificuldade que tem todo dia na escola, as limitações nas várias atividades que sempre tentamos que ele experimentasse, e percebi que ele vive em cada instante, pois responde a um amor que recebe. Acorda de manhã porque nós o chamamos, dedica-se na escola porque sua professora está lá, faz as lições porque fico ao seu lado, aprende com grande esforço a andar de bicicleta porque seu pai não o larga um único instante. Há alguns domingos passou a ser coroinha na paróquia: durante a missa ele nos olha sem parar, e seus irmãos nunca o perdem de vista. Toda noite ele me diz: «Mãe, eu quero que você fique comigo para sempre!»

Eu, que nestes meses me sinto tão dominada pela incerteza, pelo medo, tenho na minha frente um menino que não sabe cuidar de si mesmo, mas que vive cada dia porque sabe que é amado; e ele responde simplesmente a esse amor e basta.

Quantas vezes não vivi como injusto o fato de nos ter cabido esse peso, quantas vezes não invejei meus amigos por seus filhos saudáveis (e certamente não tenho orgulho desses pensamentos), mas é justamente através da contradição da doença desse meu filho e das suas dificuldades, através do olhar livre e afeiçoado dos irmãos dele, que está passando a vocação da minha vida, do meu casamento, da relação com meus amigos mais queridos.

Carta assinada