Foto Unsplash/Headway

«Além da minha medida»

Um ano como voluntário acompanhando um aluno no reforço escolar, com as dificuldades próprias do ensino pela internet e os poucos resultados, ao menos aparentemente. Até o vestibular de engenharia…

No ano passado comecei a participar do Portofranco (o reforço escolar para alunos do ensino fundamental e médio), que em Désio se chama “Fronte del Porto”, acompanhando o estudante que me tinha sido confiado para ensinar à distância por chamadas no celular. Quando, no fim do ano, nos encontramos com os outros voluntários, fiquei tocado pelos relatos de alguns deles. Alguns tinham que convencer os alunos a se conectar; outros a princípio não tinham nenhum problema, mas depois, com o fim do lockdown, passou a ter que insistir para se encontrarem presencialmente. Um deles disse que num primeiro momento chegou a desistir, mas, vendo a fidelidade e o cuidado que os outros voluntários tinham ao contatarem os alunos, voltou a convidar sua aluna.

Esses episódios me esclareceram o propósito da experiência de Portofranco, que não é apenas auxiliar no estudo, mas sair das nossas próprias medidas, medos, hesitações, comodidades. Enfim, acompanhar no enfrentamento ao desafio da vida, que às vezes pode dar medo até nas suas formas mais elementares, como sair de casa.

Esse “sair de si” é algo que eu também preciso aprender, como pude notar numa ocasião em particular. O aluno que acompanho frequenta um instituto técnico. Eu o ajudo em Italiano e História, e várias vezes constatei problemas no método de estudo. Com o tempo, foi ganhando mais consciência e determinação, mas sem que suas dificuldades diminuíssem. Na última vez que nos vimos, quando me pediu ajuda com os testes de lógica e de interpretação de texto que precisaria fazer para o exame vestibular de Engenharia, eu o ajudei, mas confesso que achava que ele nunca ia passar. Na semana seguinte me escreveu uma mensagem: «Passei de primeira!» Pois é, no Portofranco a gente vem para aprender a sair da própria medida. Principalmente a minha.

Francesco, Désio (Itália)