(Foto: Unsplash/Nick Fewings)

«O verdadeiro protagonista da minha história»

A doença, o transplante, as complicações. E depois o renascimento, aos poucos. E uma nova consciência. Com uma «alegria nunca antes sentida» pela qual «cada coisa, mesmo a mais banal, começou a ser um presente». A carta de Alberto.

Há dois anos, às vésperas da aposentadoria, depois dos últimos quinze anos trabalhando como diretor da Escola Profissional Dieffe de Valdobbiadene, fui diagnosticado com uma grave forma de insuficiência renal. Seguiram-se meses de exames, biópsias e duas longas internações. No início de 2023, comecei a fazer hemodiálise. Enquanto isso, procurei o chefe de nefrologia no Hospital Sant’Orsola em Bolonha para uma segunda opinião. Depois de examinar os documentos, o professor disse a mim e à minha esposa Luisa que havia a possibilidade de proceder com um transplante de doador vivo. Ainda hoje, ao pensar nisso, fico surpreso com a simplicidade e prontidão com que Luisa se disponibilizou imediatamente para a doação. Quando saímos da consulta, eu estava um pouco envergonhado, não sabia o que dizer. Sussurrei apenas: «Obrigado».

No dia 7 de novembro, eu e Luisa estávamos em Bolonha para o transplante. Após a cirurgia, tudo parecia correr bem, mas no dia seguinte houve uma queda. Fui atacado por dores terríveis causadas por uma grave hemorragia e, ao mesmo tempo, sofri um choque séptico. Depois, os médicos me disseram que, nas condições em que eu estava, poucos pacientes estatisticamente sobrevivem. Os dez dias seguintes foram um suplício para mim: numa sala com outros catorze pacientes, intubado, com dificuldades respiratórias, extremamente sedento, sem conseguir dormir, no meio de um barulho de máquinas que apitavam o tempo todo e, principalmente, atormentado por terríveis pesadelos. Assim que fechava os olhos, as imagens mais absurdas e terríveis apareciam.

No dia 16 de novembro, os médicos da UTI decidiram me transferir para a unidade de terapia semi-intensiva. Fui acomodado num quarto individual, finalmente com um pouco de paz. Os pesadelos começaram a diminuir e, aos poucos, comecei a tomar consciência da realidade. Primeiramente, do grande presente que minha esposa Luisa me deu, doando um de seus rins. Eu já sabia disso antes, mas agora seu presente me abriu para outra vida. Junto a isso, a grande companhia dos meus filhos, que se revezavam viajando de Pádua a Bolonha. Depois comecei a perceber todos os amigos que me acompanharam com orações e pensamentos. Tudo isso foi para mim um testemunho que me encheu de infinita gratidão.

A segunda grande demonstração veio dos colegas professores de Valdobbiadene. A secretária da escola me ligou e disse: «Alberto, agora podemos te contar. No dia da operação, adiamos o início das aulas por algumas horas e todos os professores foram à pequena capela da Madonna della Rocca e participaram da missa das 7h30. “Todos” vieram, até os que não acreditam. Eles queriam estar lá por você». Foi um presente imenso. De repente, aquela expressão tão querida por Giussani se tornou clara para mim: «Ó Nossa Senhora, vós sois a segurança da nossa esperança».

Desde aquele momento, tudo em mim e ao meu redor mudou. Senti uma paz e uma alegria nunca antes experimentadas. Cada coisa, mesmo a mais banal, começou a ser um presente. Desde aquele dia, as noites tornaram-se serenas, comecei a adormecer suavemente e a repassar na mente muitas coisas, até mesmo muito simples: o caminho que leva à minha casa, o prazer que teria em caminhá-lo a pé; o presente de Natal para minha mulher; alguns amigos meus que vieram me visitar em Bolonha, as férias de verão, o carro novo que eu e Luisa pensávamos em comprar antes da operação. E então muitos episódios da minha história, agora finalmente iluminados de forma clara por uma Presença amiga, que constitui a verdadeira substância da história, minha pessoal e de toda a realidade. Fiquei surpreso com a nitidez e a clareza com que agora via todas essas coisas.

A primeira vez que pus as pernas para fora da cama, senti como se tivesse duas tábuas no lugar das pernas. Não conseguia ficar de pé. Pensei: «Talvez eu nunca mais ande». Meu filho Luigi, fisioterapeuta, veio para Bolonha várias vezes e me deu coragem: «Você vai ver que, passo a passo, andará como antes ou até». No dia 4 de dezembro, recebi alta do hospital. O rim da minha mulher imediatamente mostrou funcionar muito bem, os parâmetros físicos continuaram melhorando.

Mas foi sobretudo a minha consciência que saiu totalmente renovada desta experiência. Cada instante dos meus dias, incluindo as muitas horas noturnas que continuaram a ser de insônia, vivi e vivo à luz da graça e do testemunho que recebi. Comecei a fazer videochamadas para amigos e entes queridos. Com o prefeito de Valdobbiadene, que me ligou várias vezes, com os amigos de Pádua, com alguns viticultores de Valdobbiadene que se mantiveram constantemente informados sobre minha condição, telefonemas cheios de uma surpreendente gratidão mútua. Chegando em casa, tudo realmente se mostrou mais bonito: a estradinha que leva à minha casa, a espera do Natal, ao lado do presépio que minha esposa e eu fizemos, talvez menor do que nos anos anteriores, mas com um gosto infinitamente mais intenso.

«Para ter esperança, minha filha, é preciso estar muito feliz, é preciso ter obtido, recebido uma grande graça», dizia Charles Péguy, e é exatamente isso o que passei a sentir. Agora me parece tão claro o que Giussani afirmava naquela maravilhosa expressão: «O verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem e o coração do homem mendicante de Cristo». O verdadeiro protagonista também da minha história pessoal é Cristo, mendicante de mim, e eu pobre mendicante de Cristo. O que hoje domina os meus dias é o constante pedido para que esta memória permaneça viva pelo tempo de vida que me resta.