O macarrão e o batom

Um diálogo com alguns jovens colegiais italianos, que falam sobre sua caritativa num bairro de classe operária de Turim: «O que acontece comigo quando levo mantimentos?» (da Tracce abril/23)
Paola Bergamini

Sábado de manhã. É um dia tão claro e cheio de luz que até mesmo os blocos de apartamentos de Borgo Vittoria, um bairro da classe operária de Turim, parecem menos sombrios. Benedetto, 17 anos, percorre os nomes no interfone. Attilio, que o acompanha na entrega da cesta de alimentos, o interrompe: «É inútil, eles não funcionam. A mesma coisa para o elevador. Vamos subir, são apenas dois andares». No patamar, uma voz feminina os chama: «Venham! A porta está aberta. Eu estava esperando por vocês». No apartamento, quatro crianças correm. O tempo de um café, depois a mulher olha para dentro da caixa. Pega um pacote de macarrão e diz: «Não! Esse tipo penne não serve».

Benedetto fica atordoado. Pensa: «Ela acabou de nos dizer que não tem nada para o jantar… E não quer o macarrão por causa do tipo de massa». Isso ele não pode admitir. E no final da manhã, ele relata isso no encontro com os outros jovens da caritativa e Pe. Ângelo, pároco do bairro. O padre conta que, no início do Movimento, alguns jovens de Gioventù Studentesca [GS; primeiro núcleo de Comunhão e Libertação] ficaram escandalizados com uma mulher pobre que gastou o dinheiro recebido deles para comprar batom: «Dom Giussani lhes chamou a atenção dizendo que não tinham entendido nada. Que aquela mulher precisava se sentir cuidada. Talvez só para os filhos», comenta Pe. Ângelo.

«Uma lâmpada se acendeu para mim!», diz Benedetto. «Aquela senhora tinha recusado o macarrão porque aquele tipo penne não agradava aos seus filhos, era um ato de amor para com eles. Perceber isso foi um divisor de águas. Entendi o que significa estar atento às pequenas coisas. Que podem ser o pedido de um colega de classe ou dos meus pais. Não devo parar nas aparências. Ir para a caritativa está se tornando uma descoberta sobre a vida». É uma descoberta também para os outros vinte meninos do grupo de colegiais que se alternam em dois turnos todos os sábados. Eles chegam de manhã cedo a São José Cafasso, a paróquia de Pe. Ângelo, leem o texto O sentido da caritativa, rezam, preparam as cestas e, em seguida, acompanhados por adultos, saem para fazer as entregas.

Entrevistei Benedetto e alguns deles em uma lanchonete depois das aulas. Há aqueles que foram à caritativa apenas algumas vezes, aqueles como Benedetto, que começou há dois anos. Enquanto eles contam, percebo que esse simples gesto está mexendo com suas vidas. Há alguns meses, Chiara leva a cesta básica a uma senhora desesperada porque seu filho está esperando por um transplante de fígado há oito anos. Toda vez que se encontram ela despeja nela sua carga de dor. A moça fica ouvindo, mas não tem explicações, não tem respostas para dar e se sente impotente. Mas um belo dia, relendo o livrinho da caritativa, ela foi tocada por uma passagem: «Continuo a ir para a caritativa porque todo o sofrimento, o meu e o deles, tem significado». Esperando em Cristo, tudo tem um significado: Cristo. Agora, quando vai visitar a senhora, antes de entrar, sussurra: «Jesus, fica perto dela e ajuda-me». À noite, ela conta aos amigos sobre essa mudança de si mesma. «Quero compartilhar com eles tudo o que acontece comigo. Porque é assim que eles me ajudam a viver. A viver de verdade!»

Carolina fala sobre as manhãs em Borgo Vittoria com uma amiga que aparentemente não parece muito interessada. Mas, na semana seguinte e na outra ainda, ela lhe pergunta: «Diga-me o que aconteceu com suas famílias. Sabe? Graças aos seus relatos eu estou melhor». «Eu também a convidei para me acompanhar, mas por enquanto ela não tem intenção de vir», me diz. E acrescenta: «Ela vê que estou feliz. E eu me pergunto: o que acontece comigo quando entrego mantimentos?» A escolha dos alimentos para as cestas é sempre muito cuidadosa: para as famílias muçulmanas não colocam carne de porco, para o senhor da Calábria vai pelo menos um produto de sua terra…

Nada escapa. No primeiro encontro, Elisa percebe que a senhora a quem visitou não gosta de macarrão. «Ela não me falou, mas eu vi na cara dela. Então, na semana seguinte, eu levei sopa enlatada. A cada vez ficamos mais e mais tempo e vejo que ela está se tornando tão apegada que nos leva para ver toda a casa. Eu também me apeguei, sinto vontade de voltar para encontrá-la. Talvez seja isso o que li em Giussani: compartilhar um pouco da vida deles nos faz descobrir algo sublime e misterioso (é fazendo que a gente entende!). É a descoberta do fato de que, precisamente porque os amamos, não somos nós que os fazemos felizes». Antes de nos despedir, Gemma me diz: «Eu não faço caritativa, apenas os acompanhei. Mas ao ouvi-los falar… decidi que no próximo sábado eu também irei».