Foto Unsplash / Josue Isai Ramos Figueroa

Meeting 2021. Qual o caminho para o trabalho?

A cada dia um encontro, ao vivo da Feira de Rímini, com vários convidados que vão trazer diálogos, histórias e experiências reais. Uma viagem pela programação dos seis “momentos” organizados pela Fundação para a Subsidiariedade
Paolo Perego

Um percurso em seis etapas, feitas de diálogos, números, histórias, experiências reais. O protagonista? O trabalho, que junto com saúde e educação foi um dos aspectos mais atingidos pela pandemia e ainda é grande fonte de incertezas. E “o trabalho que virá” é justamente o fio que vai acompanhar a presença diária da Fundação para a Subsidiariedade no Meeting de Rímini de 2021. A fórmula é a já experimentada na Edição Especial de 2020: uma conversa televisiva ao vivo da Feira, guiada pelos veteranos da TV Massimo Bernardini e Enrico Castelli, enriquecida com vídeos, infográficos e debates com especialistas e comentadores. E com a presença do público, dentro de todas as limitações atuais.

«O nosso ponto de partida é que a pandemia piorou condições que já existiam», explicou Giorgio Vittadini, estatístico e presidente da Fundação para a Subsidiariedade. A fotografia da Itália diz que quem estava mais agora está pior: entre paralisação de demissões e a suspensão de auxílios às empresas, aumentaram os contratos temporários e os estágios, por exemplo, pondo de joelhos a quem trabalha nos serviços, principalmente jovens e mulheres. Mas, diz Vittadini, «um dos dados mais relevantes e surpreendentes diz respeito à taxa de desemprego, a mais alta da Europa. Mas as ofertas de trabalho estão aí». Por que isso acontece? É precisamente a tentativa de encontrar respostas e percursos de trabalho o que vai animar as conversas, às 19h (horário local) ao vivo e por streaming da Sala Ravezzi da Feira de Rímini.



Primeiro encontro, “Trabalhar é mudar”. «O trabalho não é um mecanismo, mas implica uma postura humana nova e diferente», explica Vittadini. No salão, os ministros Elena Bonetti e Andrea Orlando, Marco Ceresa (Randstad), Renzo Sartori (Assologistica) e Luigi Sbarra (Confederação Italiana dos Sindicatos Trabalhistas). «Abordaremos a imagem de um trabalho “em movimento”, de um percurso além da lógica de um posto fixo». Uma ideia há anos ausente, em prol de um assistencialismo que não ajuda e que é anacrônico. «Segundo o Fórum Econômico Mundial, em 2030 um bilhão de trabalhadores terá trabalhos que hoje não existem. É preciso mover-se em direção ao trabalho. Mas isso é uma atitude humana. Se o impulso para o movimento faltar, até a retomada, que já se vê, corre o risco de ser uma oportunidade perdida.»

Entra aqui o tema da segunda conversa, “Um trabalho sem fronteiras”, com Pe. Antonio Loffredo, pároco em Nápoles, Maurizio Martina (FAO) e Anberto Sinigallia (Projeto Arca). «As imigrações são mesmo um prejuízo ou são uma resposta das pessoas em busca de trabalho? Na Itália, onde em 2050 haverá 5 milhões de pessoas a menos no Sul, a imigração terá de ser um recurso, nem que seja para pagar as aposentadorias…», observa Vittadini. «Vamos olhar para o mundo, com exemplos do Quênia, Venezuela, Polônia… Em todos os continentes há pessoas que se locomovem para ir encontrar trabalho. E, em vez de algo do qual se defender, a imigração fosse uma possibilidade para viver?» É uma tese alternativa, mas na história sempre foi assim: «O ponto é ter uma identidade: se você sabe quem é, então absorve e integra».

No terceiro dia abre-se um parêntese sobre a formação, com o ministro Patricio Bianchi, Marco Hannappel (Philip Morris Itália), Remo Morzenti Pellegrini (Universidade de Bérgamo) e Begona Villacis (vice-prefeito de Madrid). “Parênteses” por assim dizer, pois o tema do ensino está totalmente entrelaçado com o do trabalho: «Se o trabalho tem que ver não mais com os recursos humanos, mas com o homem como recurso, como disse François Michelin, então o propósito da educação e a formação – o lugar onde esse sujeito novo é formado – não podem deixar de estar implicados neste discurso», para Vittadini. O lockdown e o ensino remoto, em parte, deram a oportunidade de evidenciar ainda mais o quanto é prioritária a ideia de ensino como relacionamento, interação: «É uma necessidade. Mas por que algumas escolas fizeram e fazem melhor que outras? Porque entenderam que a relação não pode ser construída conforme o esquema de antes. O ponto central da formação não pode ser criar um mecanismo diferente, mas um sujeito novo. Que é o que as empresas exigem já hoje.».

No quarto encontro, será a vez da “retomada” dar o pontapé inicial à conversa dedicada ao Plano de Recuperação, “O dinheiro da Europa”, com Francesco Baroni (GiGroup), Dario Odifreddi (Associação Consórcio Escola e Trabalho), Pedro Velasco Martins (Comissão Europeia). «Uma grande oportunidade para o país», observa Vittadini. Em termos econômicos, sobretudo, com os grandes recursos que virão de Bruxelas: «Mas não só isso. O que a Europa nos está pedindo, com todos os seus vínculos, não são apenas investimentos e infraestruturas, mas também que todos cooperem na construção. É uma dificuldade que temos há anos, tanto que sempre devolvemos a maior parte dos fundos que chegavam. Trata-se de uma mudança cultural necessária que deve ser acompanhada também por reformas que a sustentem, na ótica daquela mudança de que falamos».

Chegamos então ao quinto dia, dedicado a “Os trabalhos que virão”, com Francesco Mutti (Centromarca), Sabina Nuti (Sant’Anna di Pisa), Roberto Tomasi, (Autostrade per l’Italia) e, por vídeo, o ministro Roberto Cingolani e o presidente emérito da Câmara dos Deputados, Luciano Violante. «Como o trabalho vai mudar? Já está mudando», para Vittadini. «Um exemplo entre tantos. Nós vimos médicos, acostumados a trabalhar seguindo protocolos, terem de lidar com algo como a covid, que fugia de qualquer esquema. Tiveram de experimentar, testar, tentar. Lidar e aprender com a realidade que acontecia. As doenças do futuro terão de ser enfrentadas assim, provavelmente». E o mesmo vai ocorrer no mundo do trabalho. Digitalização, economia circular, sustentabilidade… «Veremos mudanças nos produtos, mas também na produção e nos serviços. E isso não vai deixar de incidir, desde já, também no tema da formação, cada vez menos conceitual e mais voltada a tornar os profissionais mais flexíveis e prontos para o novo». Enfim, um mercado de trabalho que cada vez mais submete a procura pelas competências à necessidade de contratar indivíduos curiosos, criativos, empreendedores e abertos: «É o tema das habilidades não cognitivas, das quais falamos faz tempo», acrescenta Vittadini.

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Último dia de Meeting e último debate: “O trabalho ou a vida?”, com o ministro Giancarlo Giorgetti, Roberto Giacchi (ItaliaOnline) e Gian Carlo Blangiardo (Istat). É o coração do percurso, explica Vittadini: «O trabalho é algo que nos separa da vida ou nós é que o concebemos separado? O que ele tem a ver com a construção de uma família, com o tempo livre, com a “vida verdadeira” que contrapomos ao escritório?» O ponto, acrescenta logo Vittadini, é que «o trabalho só resiste se for vida, se for relação, se for família, se for nexo com a vida humana». Só partindo de uma concepção assim é que se podem compreender, vividas no trabalho, palavras como sustentabilidade, paridade de gênero, conciliação do tempo, salário justo, impacto ambiental, segurança… «Fora disso, o trabalho só pode ser um peso insuportável.»