Passos

Passos N. 268, Julho/Agosto 2024

Sem cálculos
O Jubileu de 2025 será dedicado a um problema que todos nós, e cada vez mais todos os dias, enfrentamos: a esperança. Na Bula de Convocação, o Papa Francisco faz algumas perguntas: onde está a nossa certeza, qual é o fundamento da nossa esperança, o que é a felicidade, que felicidade esperamos e desejamos? E nos mostra a experiência de São Paulo, que não era exatamente – diz ele – uma pessoa engenhosa ou iludida, mas alguém “muito realista”. A certeza do apóstolo é surpreendente: “Quem nos separará do amor de Cristo? tribulação? angústia? perseguição? fome? nudez? perigo? espada?”. Se ele pode dizer tal coisa, continua o Papa, é porque “a esperança cristã não engana nem decepciona”, ele pode dizer isso em virtude de sua experiência real desse amor, que enche seu desejo de certeza.

Nesse sentido, Charles Péguy diz que a esperança “não caminha sozinha”, que para ter esperança “é preciso ser muito feliz, é preciso ter obtido, recebido uma grande graça”. Ele é o autor que deu o título e acompanhou o curso dos Exercícios Espirituais da Fraternidade CL, e esta revista reúne alguns testemunhos que ilustram as palavras daqueles dias, como a confiança que se reacende no coração do homem, contra todas as probabilidades, pela novidade de vida que nasce do encontro com Cristo. Aquela confiança que levou o missionário Matteo Ricci, por exemplo, a se doar sem reservas, sem esperar nenhum fruto. Isso aconteceu há quatro séculos na China, assim como acontece hoje, no mundo inteiro, entre as paredes de uma casa, nas escolas, nos hospitais.

“O que me espanta, diz Deus, é a esperança”. Péguy se identifica com a surpresa de Deus pelo homem que espera, por aquela “pequena esperança que tem o ar de não ser nada”. Esse é o método de Deus, esse é o seu comportamento, “discreto”, como o definiu Bento XVI: “Só lentamente Ele constrói na grande história da humanidade a sua história. Ele bate continuamente à porta dos nossos corações e, se lhe abrimos, lentamente torna-nos capazes de ‘ver’”. E, assim, de nos maravilharmos, e de termos esperança. Uma palavra forte, mas que é palpável ao ouvir a história de amigos do Rio Grande do Sul, região que sofreu uma terrível inundação no início de maio e levará muito tempo para retomar as atividades como antes. Mas através dessa prova, pode revelar o melhor que há no homem, com inúmeras ações de solidariedade e doações do país inteiro. Ajuda material, mas sobretudo de gestos e olhares, muitas vezes à distância, capazes de manter o homem de pé quando ao redor tudo desmorona.