Passos

Passos N. 267, Maio/Junho 2024

O que tem a ver com as estrelas?
“O que o homem busca nos prazeres é infinito, e ninguém jamais renunciaria à esperança de alcançar essa infinitude”. São as palavras do poeta italiano Cesare Pavese que Dom Giussani cita no quinto capítulo do livro O senso religioso, ao abordar a desproporção estrutural em que o homem se encontra em relação à “resposta total” que espera, pela qual não pode deixar de esperar, porque “esperar é a essência de nossa alma”. Ele diz: “A promessa está na origem, desde a própria origem da nossa criação. Quem fez o homem o fez ‘promessa’”. Somente um olhar tão radical pode entender e iluminar o surgimento de uma fragilidade afetiva sem idade – da qual ouvimos falar nos noticiários, nos debates dentro e fora das escolas, nas músicas, nos especialistas, nos livros, no dia a dia – e ver nessa fragilidade o sintoma de uma incerteza mais profunda, acerca do sentimento supremo, o de ser desejado.

O céu estrelado da capa é dedicado a um fato, entre muitos, que marcou a vida de Dom Giussani e que será relatado no início da revista. A pergunta explodiu em sua mente numa noite de verão, na rua, diante do abraço de dois namorados: “O que é que isso que vocês estão fazendo tem a ver com as estrelas?”. Contrariamente a qualquer moralismo, ele partiu em sua bicicleta feliz, sentindo aquele sopro de verdade que investe tudo, na relação com o Destino que enche de dignidade cada momento e cada gesto humano, especialmente a experiência do amor. Porque o amor é o teste de toda a pessoa, seja no relacionamento com a namorada, com o marido, os filhos, os pais, os amigos… E ele sabia, em virtude de um grande amor, que nenhuma posse é suficiente para o coração, porque São Tomás de Aquino está certo ao afirmar: “A vida do homem consiste no afeto que principalmente o sustenta e no qual ele encontra sua maior satisfação”.

Nesta edição, perguntamos a vários colaboradores o que torna possível amar a si mesmo e aos outros, como Erik Varden relata nas páginas seguintes, falando sobre Maria Madalena, alguém que viveu uma “escola de amor” que é, antes de tudo, uma “escola de liberdade”: “Ela entra na cena do Evangelho cheia de sede, de amar e de ser amada. O encontro com Cristo transforma o sentido do seu desejo mais pr ofundo, mesmo que o processo leve tempo. Maria Madalena ouve e aprende. Seu percurso de mulher vulnerável até testemunha da Ressurreição é algo que nosso tempo precisa olhar”.