Da esperança à plenitude da alegria

Texto de 1961 publicado em Realidade e juventude: O desafio, Lisboa: DIEL, 2003, pp. 139-144 (esta tradução, brasileira, não corresponde à publicada na obra).

É do fato das coisas, é do dado da sua existência que o homem extrai o conhecimento de si e do seu destino.

A primeira característica do fato humano é esta: que ele nasce como ímpeto incoercível para realizar-se a si mesmo. Desde as mais inflamadas instintividades e desde a banalidade das expansões confortáveis, até às mais nobres urgências da consciência e às mais altas aventuras do pensamento, uma “força atuante nos fatiga de movimento em movimento” (Foscolo), um “aguilhão quase nos punge” (Leopardi) em direção a uma realização da própria semente original, numa explicitação intensa de significado e eficácia. “Realizar a si mesmo”: O programa é claro para todos, mesmo que sujeito a diversas interpretações teóricas e práticas.

Há um fenômeno fundamental que expressa esse ímpeto original: o anseio, o desejo. Fenômeno fundamental para qualquer gesto nosso, que é inflamado por ele e lançado na trama da realidade. Tão gratuito e inevitável, o fenômeno do desejo é, assim que nos afastamos da simpatia original com que a natureza nos vincula a si, uma promessa de realização.

A promessa também é um fato, e o desejo atesta que a promessa é o fato que está na origem de todo o acontecimento humano. A confiança nessa promessa, em que se expressa nossa natureza, fundamenta a simpatia inexorável com o próprio ser e a vida – torna possível, portanto, a atenção a si mesmo –, gera aquele “senso de si” que não é apenas mera consciência, mas algo mais intenso, um reconhecimento amoroso de um destino carregado de valor…