Para lá do muro dos sonhos

Conversa de Dom Giussani com alguns jovens de Gioventù Studentesca. Publicado em Realidade e juventude: O desafio, Lisboa: DIEL, 2003, pp. 59-71

O coração da experiência do nosso movimento não se vê; não é uma pessoa e, no entanto, identifica-se com uma pessoa, e vive em cada pessoa na medida em que esta adere ao mistério de Cristo, abre os olhos e escancara o coração.
Existe uma coisa que com o tempo, em vez de envelhecer se torna cada vez mais jovem: o coração. O coração de um jovem é muito mais lento e paciente do que o de um ancião, Porque o coração de um ancião já viu a vida, viu muitos jovens atravessar o umbral dos vinte anos, uns de um modo diferente de outros. Tudo mudava neles, mas uma coisa permanecia inalterável – Eu diria, quase blasfemando, que gangrenava – e esta coisa era o seu coração. O coração é o que é e não se pode mudar. Podemos inclusivamente chegar a matar-nos, mas sob o impulso do coração. O coração é aquilo de que está feito o homem.
A primeira vez que me veio à ideia «fazer alguma coisa» (não tinha, certamente, em mente o movimento) foi justamente fazendo o mesmo trajecto que hoje fiz. Ia de comboio de Milão a Rímini, e nele encontrei uns rapazes. Pus-me a conversar com eles e verifiquei que desconheciam totalmente a religião e o cristianismo. O seu cepticismo, a sua atitude chocarreira, a sua incredulidade, não davam raiva; davam pena, porque nasciam evidentemente da ignorância. Foi este contacto que fez nascer em mim a «raiva» de que conhecessem, de que soubessem mais, de que fossem mais os que pudessem conhecer o que a mim me tinha sido dado…