Até a esquerda lamenta a morte de don Gius
Não a chamemos de fascinação teocon, porque seria muito forçado. E depois deturparia a beleza de um funeral que foi uma festa serena. A morte como reviravolta, como o ato mais autêntico de uma vida extraordinária. Foi isso a morte de Gius, do padre Giussani. Não há dúvida, porém, de que no mainstream da esquerda italiana a morte desse pequeno padre de Desio e a contemporânea doença do papa provocaram alguma coisa.
Em suma, bastava estar, ontem, na Catedral (ou apenas fora dela) para também fazer essa leitura do funeral doce e sereno do padre Giussani: gente de todos os tipos e do mundo todo, numa reunião festiva e calma, e não só o pessoal do movimento CL. Gente, por exemplo, com o jornal La Repubblica em baixo do braço (e alguns com Il Manifesto). (...) O funeral de Gius pode ser lido também assim: como uma grande “praça” mental que se abre repentinamente para a esquerda e liberta o pensamento, remove certezas. Induz a escavar. E ninguém como o padre de Desio podia fazer isso, com a sua capacidade de juntar histórias diferentes, cultura e tradições opostas. Tanto que, ontem, a Catedral parecia um Panteão, religioso e ao mesmo tempo laico. Naturalmente, falamos de uma atração que pode também deixar embaraçado quem está habituado a viver uma fé menos exposta.
(“Il Reformista”, 25 de fevereiro de 2005).