Juventude Estudantil: reflexões sobre uma experiência

Extraído de Giussani, Luigi. O caminho para a verdade é uma experiência. São Paulo: Companhia Ilimitada, 2006, pp. 31-39
Luigi Giussani


Diretivas metodológicas para o chamado cristão
O chamado cristão deve ser:
- decidido como gesto;
- elementar na comunicação (condições para sermos elementares: liberdade, ação, concretude);
- integral nas dimensões, que são a cultura, caridade e catolicidade;
- comunitário na realização (os fatores da comunidade são: adesão pessoal, funcionalidade, autoridade, unidade sensível).

Decidido como gesto
1) A primeira condição para alcançar a todos é uma iniciativa clara face a quem quer que seja.
2) Pode ser uma ilusão ambiguamente cultivada a de se introduzir no ambiente ou de se propor às pessoas com uma indecisão tal que diminua o chamado, no temor de que o seu grito contra a mentalidade corrente indisponha os outros para conosco – e crie incompreensões e solidão insuperáveis. Pode-se, assim, procurar, talvez com ansiosa habilidade, acomodações e camuflagens que muito facilmente correm o risco de representar compromissos dos quais é depois muito árduo libertar-se.
3) Não devemos nos esquecer de que esta "mentalidade comum" não existe apenas fora de nós, mas nos permeia até o fundo, motivo pelo qual a indecisão no enfrentá-la pode constituir, uma posição desastrosa para. nós mesmos.
4) Para ser honestos, é preciso, em determinado momento, colocar-se diante dos problemas sérios, não apenas no âmbito interior da própria consciência, mas também no diálogo com os outros.
5) Por isso é necessária a força de colocar-se contra, que é o que Cristo nos pediu para fazer-nos entrar no Reino: "Quem tiver vergonha de mim diante dos homens, também eu terei vergonha dele diante de meu Pai" (cf. Mt 10, 33).
6) Força, isto é, coragem ("virtus" em latim): no fundo, o que é preciso é um pouco daquela virtude com a qual Mateus, Zaqueu e a Madalena afirmaram a sua descoberta cristã diante do ambiente em que estavam imersos. Ou, se preferirmos, o que é preciso é renovar o do testemunho de estêvão diante do sinédrio: desafiar a opinião de todos para seguir Jesus.

Elementar na comunicação
1) É por nosso intermédio que Cristo se propõe aos homens; é a nossa atitude e a nossa palavra que constituem o chamado por meio do qual os outros podem conhecê-Lo.
Para que esse chamado possa ser dirigido a todos, deve ser elementar na sua comunicação, ou seja, simples.
2) A simplicidade consiste não tanto em um modo de expor, uma vez que isto pode ser uma capacidade não comum, mas em prescindir de qualquer complicação, isto é, em ser essenciais.
3) Também o chamado de Cristo nas origens foi simples e essencial: de fato, propôs obrigatoriamente somente verdades precisas (os dogmas), os gestos sacramentais e a autoridade na comunidade.
Assim, a Igreja é muito discreta na fixação dos pontos obrigatórios.
4) É fácil compreender por que é bom esse comportamento de Cristo e da Igreja. De fato, somente a simplicidade tem a flexibilidade para uma referência a cada indivíduo. E somente a essencialidade tem a capacidade de fazer chegar ao objetivo, eliminando esforços desnecessários.
A precisão em identificar os fatores essenciais da existência leva:
- a sublinhar com força o seu valor, portanto a um forte apego a eles;
- a uma vasta compreensão de todas as posições que daí advêm, a uma capacidade de valorizar e abraçar infinitas variedades de traduções do valor.
5) Há uma observação que deve ser meditada. "Elementar" não significa "genérico", mas sim preciso nos elementos substanciais e livre diante de qualquer tradução.
Jesus disse: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a toda criatura". Cada um tem a responsabilidade de uma tarefa bem precisa: "ide e anunciai", mas é totalmente livre para escolher o modo, no âmbito da sua particular vocação.