Leigos, isto é, cristãos (Trechos do discurso do Papa na reunião plenária do pontifício conselho para os leigos)

Org. Comunhão e Libertação

Parece-me especialmente importante abordar neste ano, na Assembleia Plenária, o tema de Deus:“A questão de Deus hoje”.Não nos deveríamos jamais cansar de repropor tal questão, de “recomeçar a partir de Deus”, para restituir ao homem a totalidade das suas dimensões, a sua plena dignidade. Na verdade, uma mentalidade que se foi espalhando no nosso tempo, excluindo qualquer referência ao transcendente,mostrou-se incapaz de compreender e preservar o humano. A difusão dessa mentalidade gerou a crise que vivemos hoje, que é crise de significado e de valores, mais do que crise econômica e social. O homem que procura viver somente de forma positivista, no calculável e no mensurável, acaba por ficar sufocado. Nesse quadro, a questão de Deus é, em certo sentido, “a questão das questões”. Ela nos leva de volta às questões de fundo do homem, às aspirações de verdade, de felicidade e de liberdade presentes no seu coração e que buscam realização. O homem que desperta em si a questão sobre Deus abre-se à esperança, a uma esperança confiável, graças à qual vale a pena enfrentar o esforço de caminhada no presente (cf. Spe salvi, 1).

Mas como despertar a pergunta sobre Deus, para que seja a questão fundamental? Caros amigos, se é verdade que “no início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro comum acontecimento, com uma Pessoa” (Deus caritas est,1), a pergunta sobre Deus é despertada pelo encontro com quem tem o dom da fé, com quem mantém uma relação vital como Senhor.Deus torna-se conhecido através de homens e mulheres que o conhecem: a estrada até Ele passa, de modo concreto, por quem O encontrou.Aqui o vosso papel de fiéis leigos é particularmente importante. [...] Sois chamados a oferecer um testemunho transparente da relevância da questão de Deus em todos os campos do pensar e do agir.Na família,no trabalho, assim como na política e na economia,o homem contemporâneo tem necessidade de ver com os próprios olhos e tocar com as mãos como tudo muda com Deus ou sem Deus.

Mas o desafio de uma mentalidade fechada ao transcendente obriga também os próprios cristãos a retornar de modo mais decidido à centralidade de Deus. Às vezes esforçamo-nos para que a presença dos cristãos no social, na política ou na economia fosse mais incisiva, e talvez nos não tenhamos preocupado tanto coma solidez da sua fé, como se fosse um dado adquirido uma vez por todas. Na realidade, os cristãos não habitam um planeta distante, imune às “doenças” do mundo, mas compartilham as perturbações, a desorientação e as dificuldades do seu tempo. Por isso, não é menos urgente repropor a questão de Deus também no próprio tecido eclesial. Quantas vezes, não obstante definirem-se como cristãos, Deus de fato não é o ponto de referência central no modo de pensar e de agir, nas escolhas fundamentais da vida. A primeira resposta ao grande desafio do nosso tempo está, então, na profunda conversão do nosso coração, para que o Batismo,que nos tornou luz do mundo e sal da terra, nos possa verdadeiramente transformar.


Cidade do Vaticano, 25 de novembro de 2011