Carta à Fraternidade pelo aniversário do reconhecimento pontifício

As palavras de Giussani por ocasião do vigésimo aniversário do reconhecimento pontifício da Fraternidade de Comunhão e Libertação
Luigi Giussani

Caríssimos amigos,

a carta que o Santo Padre me enviou por ocasião do vigésimo aniversário do reconhecimento pontifício da Fraternidade é o gesto mais decisivo da nossa história.

Com gratidão por esse sinal de grande paternidade de João Paulo II, somos ajudados por sua autoridade a reconhecer a linha única que nossa história seguiu. “O Movimento – escreveu-nos o Santo Padre – quis e quer indicar não um caminho, mas o caminho para chegar à solução desse drama existencial” do homem que nunca deixa de buscar. “O caminho [...] é Cristo. Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida, que alcança a pessoa no dia a dia de sua existência”. Por isso, abre-se hoje para nós um novo início: demonstrar, voltar a demonstrar a evidência da verdade do que, seguindo a Tradição da Igreja, sempre dissemos. Como também nos escreveu o Santo Padre: “O cristianismo, antes de ser um conjunto de doutrinas ou uma regra de salvação, é o ‘acontecimento’ de um encontro”.

Que trabalho imponente emerge dessa carta! Estamos de novo no começo, sempre! É uma coisa nova que deve acontecer, um passo extremamente sério da nossa história.

É um momento de responsabilidade, cujos desdobramentos se evidenciarão com o tempo, como urgência de fincar na nossa existência o juízo do Espírito, responsabilidade à qual cada um de nós pode concorrer ordenadamente, obedientemente, ou à qual pode resistir pela pretensão de uma carnalidade própria, que se torna impossibilidade de defender a serenidade ou de lutar contra a aparente destruição do que acontece. Tudo depende de vivermos nossa tarefa numa obediência serena e, portanto, construtiva da nossa tarefa. Essa tarefa é originariamente um sacrifício que segue a Cristo, Sua morte e Sua ressurreição. Seguir a Cristo, amar a Cristo em tudo: é o que deve ser reconhecido como a característica principal do nosso caminho.

Para tanto é preciso pedir uma grande clareza diante da nossa responsabilidade. O indivíduo, de fato, é responsável por toda a Fraternidade em que está mergulhado, qualquer que seja sua condição atual, de saúde ou de doença, de letícia ou de provação. É uma reflexão sobre isto o que nos ajuda a reconhecer o valor decisivo do nosso caminho, principalmente no trabalho da Escola de Comunidade, por meio do qual cada um de nós deve vir a ter uma razão consciente do milagre de sua adesão. Deus faz a cada um a proposta de estar na vanguarda da missão.

O maior exemplo, neste sentido, nos é dado por aqueles entre nós a quem são confiadas as responsabilidades mais árduas; isso também na esfera civil, para que, na dedicação a seu serviço, fique explicitada neles a novidade que reveste a nossa história. E essa novidade não é julgada primeiramente pelo comportamento moral do indivíduo, mas pelo tipo de responsabilidade que cada um reconhece em seu serviço dentro da própria comunidade na qual Deus o chama. Neste sentido, o responsável procure, em sua ação, prestar um serviço de caridade, pois aceitar a vontade de Deus é um fato que deriva do reconhecimento de Seu propósito último para o incremento da vida da comunidade toda e da Igreja. A caridade dos que são responsáveis é, antes de tudo, uma ajuda que oferecem a todos na tarefa que todos assumem perante o Mistério. Essa é a razão de mérito para todo homem que queira ser irmão de outro homem.

Por isso, a carta do Papa termina lançando-nos de novo na missão: a força da missão torna-se força do martírio (testemunho). Encaminhemo-nos livremente para o futuro, mesmo que outros sejam levados a não aceitar o que somos.

Rezemos a Nossa Senhora pelas nossas misérias e pelas misérias do mundo. Na aventura de cada dia, a miséria está em continuar desprezando a fidelidade de Deus à nossa história: esse é o maior de todos os pecados. Nossa Senhora insiste em que colaboremos com a grandeza do plano que Deus tem para a salvação de todos os irmãos homens.

Pondo-me à disposição, com o coração cheio de adesão e de força, sinto cumprir minha obrigação para com todos vocês.