Para quem tem fé, nenhum problema

Entrevista publicada na revista italiana «Panorama», pp. 64-65
Luca Grandoni

Alvos da zombaria dos membros da nova esquerda da sua idade, mas sem qualquer medo de na prática serem os únicos jovens que ainda exaltam a abstinência, os membros de Comunhão e Libertação parecem ter encontrado a melhor receita para dominar as tentações da carne. E isso sem se retirar para um convento, ou fugir da promiscuidade dos sexos: entre os grupos de jovens desta época, poucos têm uma vida em comum tão intensa. Eles conversam, cantam, brincam, organizam férias sempre juntos. Mas não fazem amor antes de colocar a aliança nupcial no anular esquerdo. É fácil levar essa vida? E ela realmente gera uma harmonia, uma paz espiritual, uma maturidade de caráter, como CL insiste em declarar?
Panorama pediu a Dom Luigi Giussani que falasse sobre como esses novos cristãos encaram a sua vida sexual. Ele é docente de Moral na Universidade Católica de Milão, inspirador e orientador espiritual de Comunhão e Libertação, fundador da antiga Gioventù Studentesca, outra organização juvenil que nas décadas de 1950 e 1960 angariou desde cedo muitas simpatias por seu trabalho social avançado, mas também muitas gozações e ironias pelo rígido moralismo de seus militantes.

O sexo ainda é visto (no contexto eclesial) como algo em função do matrimônio e da procriação?
A primeira preocupação naquilo que me foi ensinado é que a maneira de conceber a existência humana deve ser razoável. E tenho para mim que, para ser razoável, é preciso em primeiro lugar não isolar um detalhe de todo o problema do homem. A tradição cristã nunca deixou de reconhecer, justamente graças ao que a Bíblia ensina, a importância da relação homem-mulher para a educação integral da personalidade, ou seja, para a consciência do nexo que a pessoa tem com o mundo, para a consciência da sua tarefa e do seu destino. Além disso, no matrimônio, âmbito da função mais radical para a natureza, o Concílio Vaticano II diz que o sexo é “sinal especial da amizade conjugal, dom livre e mútuo de si mesmo”, do qual os filhos são a expressão que mais nos enche de surpresa.

Os jovens católicos ainda aceitam a equação “sexo fora do sacramento igual a pecado”?
Um jovem católico que procure viver seriamente a sua fé, ou seja, a concepção e o sen-timento cristão do homem e do seu destino, deseja justamente um desenvolvimento da sua pessoa que seja unitário, intenso e equilibrado, e, por isso, ordenado, “governado”. Pelo ensinamento católico, fica claro que o uso coerente do sexo está implicado numa responsabilidade socialmente fundamental, a responsabilidade procriadora e educadora, e, portanto, na estabilidade necessária a essa responsabilidade. “Pecado” significa “faltar” a uma ordem ideal. A fragilidade do homem no governo de si quanto a esse ponto é grande: essa não é uma questão de escândalo ou de tormento; é uma questão de dor.

Em relação ao passado, os jovens sentem hoje maior ou menor necessidade de se confrontar com o sacerdote? Será que não resolvem sozinhos as suas dificuldades?
Para quem entende a vida como um caminho, o fato de confrontar as próprias posições é como uma companhia. Os jovens o desejam e o procuram. Mesmo que a responsabilidade do juízo e da decisão seja deles.

Como mudou a linguagem dos educadores?
Mudou muito. A meu ver, na direção de dar maior peso ao problema central: como suscitar e educar à fé, ao sentido verdadeiro e global da vida.

Qual é a posição de vocês a respeito de virgindade e relações pré-matrimoniais, castidade? O que isso significa concretamente para um católico?
Tenho a impressão de já ter respondido a isso. Para um católico, a questão é usar as próprias capacidades para atingir a finalidade integral que elas têm, não para uma finalidade reduzida de maneira egoísta. No que diz respeito à virgindade, ela é uma maneira mais profunda de viver os relacionamentos, à imitação de Cristo. O próprio Jesus disse no Evangelho: “Nem todos entenderão esta palavra”. Dificuldades e incoerências não tiram a vontade de vivê-la de quem se encaminhou para ela com seriedade consciente.