(Foto: Roberto Masi)

Discurso de Bento XVI a CL

Por ocasião da audiência pelo XXV aniversário de reconhecimento pontifício da Fraternidade. Roma, Praça São Pedro
Bento XVI

Queridos irmãos e irmãs,

É para mim um grande prazer receber-vos hoje, nesta Praça de São Pedro, por ocasião do 25º aniversário do reconhecimento pontifício da Fraternidade Comunhão e Libertação. Dirijo a cada um de vós a minha cordial saudação, em particular aos Prelados, aos sacerdotes e aos responsáveis presentes. Saúdo de modo especial Monsenhor Julián Carrón, Presidente da vossa Fraternidade, e agradeço-lhe as bonitas e profundas palavras que me dirigiu em nome de todos vós.

O meu primeiro pensamento dirige-se ao vosso Fundador, Monsenhor Luigi Giussani, ao qual me ligam tantas recordações e que se tinha tornado para mim um verdadeiro amigo. O último encontro, como mencionou Monsenhor Carrón, foi na Catedral de Milão, em fevereiro de há dois anos, quando o amado João Paulo II me enviou para presidir o seu solene funeral. O Espírito Santo suscitou na Igreja, através dele, um Movimento, o vosso, que desse testemunho da beleza de ser cristãos numa época em que se ia difundindo a opinião de que o cristianismo era algo que se vivia com fadiga e opressão. Então, Monsenhor Giussani comprometeu-se a despertar nos jovens o amor a Cristo, “Caminho, Verdade e Vida”, repetindo que só Ele é o caminho para a realização dos desejos mais profundos do coração do homem, e que Cristo não nos salva apesar da nossa humanidade, mas através dela. Como recordei na homilia para o seu funeral, este corajoso sacerdote, que cresceu numa casa pobre de pão, mas rica de música, como ele mesmo gostava de dizer, desde o início se sentiu tocado, aliás ferido, pelo desejo da beleza, e não de uma beleza qualquer. Procurava a própria Beleza, a Beleza infinita que encontrou em Cristo. Como não recordar ainda os numerosos encontros e contatos de Monsenhor Giussani com o meu venerado predecessor João Paulo II? Numa circunstância que vos é querida, o Papa quis mais uma vez recordar que a intuição pedagógica original de Comunhão e Libertação consiste em responder de modo fascinante e em sintonia com a cultura contemporânea, ao acontecimento cristão, compreendido como fonte de novos valores e capaz de orientar toda a existência.
O acontecimento, que mudou a vida do Fundador, “feriu” também a de muitos dos seus filhos espirituais, e deu lugar às numerosas experiências religiosas e eclesiais que formam a história da vossa ampla e articulada Família espiritual. Comunhão e Libertação é uma experiência comunitária da fé, que nasceu na Igreja não de uma vontade organizativa da Hierarquia, mas originada por um encontro renovado com Cristo e assim, podemos dizer, por um impulso derivante por fim do Espírito Santo.
Ainda hoje ela se oferece como possibilidade de viver de modo profundo e atualizado a fé cristã, por um lado com uma total fidelidade e comunhão com o Sucessor de Pedro e com os Pastores que garantem o governo da Igreja; por outro lado, com uma espontaneidade e uma liberdade que permitem novas e proféticas realizações apostólicas e missionárias.
Queridos amigos, o vosso Movimento insere-se assim no amplo florescimento de associações, movimentos e novas realidades eclesiais providencialmente suscitados pelo Espírito Santo na Igreja, depois do Concílio Vaticano II. Cada dom do Espírito encontra-se originária e necessariamente ao serviço da edificação do Corpo de Cristo, oferecendo um testemunho da imensa caridade de Deus pela vida de cada homem. Portanto, a realidade dos Movimentos eclesiais é sinal da fecundidade do Espírito do Senhor, para que se manifeste no mundo a vitória de Cristo ressuscitado e se cumpra o mandato missionário confiado a toda a Igreja. Na mensagem enviada ao Congresso mundial dos Movimentos eclesiais, a 27 de maio de 1998, o Servo de Deus João Paulo II, repetiu que, na Igreja, não há contraste ou contraposição entre a dimensão institucional e a dimensão carismática, das quais os Movimentos são uma expressão significativa, porque ambas são coessenciais para a constituição divina do Povo de Deus. Na Igreja, também as instituições essenciais são carismáticas e, por outro lado, os carismas devem, de uma forma ou de outra, institucionalizar-se para ter coerência e continuidade. Assim, as duas dimensões, originadas pelo Espírito Santo para o mesmo Corpo de Cristo, concorrem juntas para tornar presente o mistério e a obra salvífica de Cristo no mundo. Isto explica a atenção com que o Papa e os Pastores olham para a riqueza dos dons carismáticos na época contemporânea. A este propósito, durante um recente encontro com o clero e com os párocos de Roma, recordando o convite que São Paulo dirige na Primeira Carta aos Tessalonicenses para não apagar os carismas, disse que, se o Senhor nos dá novos dons, devemos ser-Lhe gratos, mesmo se podem ser incômodos. Ao mesmo tempo, dado que a Igreja é una, se os Movimentos são realmente dons do Espírito Santo, devem inserir-se naturalmente na Comunidade eclesial e servi-la de modo que, no diálogo paciente com os Pastores, eles possam constituir elementos edificantes para a Igreja de hoje e de amanhã.
Queridos irmãos e irmãs, o saudoso João Paulo II, noutra ocasião, para vós muito significativa, confiou-vos esta recomendação: “Ide por todo o mundo levar a verdade, a beleza e a paz, que se encontram em Cristo Redentor”. Monsenhor Giussani fez daquelas palavras o programa de todo o Movimento e, para Comunhão e Libertação, foi o início de uma estação missionária que vos levou a oitenta países. Hoje, convido-vos a prosseguir por este caminho, com uma fé profunda, personalizada e firmemente radicada no Corpo de Cristo vivo, a Igreja, que garante a contemporaneidade de Jesus conosco. Terminemos este nosso encontro dirigindo o pensamento a Maria com a recitação do Angelus. Por Ela, Monsenhor Giussani nutria uma grande devoção, alimentada pela invocação Veni Sancte Spiritus, veni per Mariam e pela recitação do Hino à Virgem de Dante Alighieri, que repetistes também esta manhã. Acompanhe-vos a Virgem Santa e vos ajude a pronunciar generosamente o vosso “sim” à vontade de Deus em qualquer circunstância. Queridos amigos, podeis contar com a minha constante recordação na oração, enquanto vos abençoo com afeto a todos vós aqui presentes e a toda a vossa Família espiritual.

Sábado, 24 de março de 2007.