Acontecimento, a imponência do Mistério
EditorialPropomos como editorial as notas das palavras conclusivas de padre Giussani no Conselho Nacional italiano de CL de 17 de fevereiro. Trata-se um aprofundamento das provocações oferecidas na “Palavra entre nós” da última edição (“Carisma e história”), em torno do grande tema do acontecimento, que está marcando a vida do movimento de CL nestes tempos
Devo expressar a forte gratidão que tenho por cada um dos que falaram, e também por cada um de vocês que estão presentes hoje, pois eu nunca teria entendido, sem a sua companhia nunca teria entendido as coisas que o Senhor me fez entender nestes tempos.
A palavra “acontecimento” cobre toda a vastidão e centra toda a dignidade que o fato cristão erige e vive na história.
Há um pormenor interessante, que eu lhes indico: nunca se pode dizer que forma tem o acontecimento sem o bem da correção, da autocorreção.
O acontecimento não é um produto da intelectualidade: é uma preferência por alguém inteiro.
Como na concepção hebraica, se a pessoa tem de falar de cristianismo como acontecimento, não pode preparar uma série de observações lógicas, logicamente expressas, pois não é tanto uma lógica, mas é a imponência, a imponência do Mistério o que o acontecimento indica: o acontecimento é Mistério, é a sua suprema expressão, mesmo que provisória. Espero poder desenvolver também esse pensamento com vocês. Mas eu quis intervir para que a sua consciência e a sua consciência ética sintam o impulso inexorável do Senhor, que nos fez para si.
O Senhor nos fez para si, Ele é Aquele do qual São Paulo diz que todo o universo é feito.
Faço votos de que a tensão com a qual vocês trabalharam nestes meses faça com que não fiquem escondidas a grandeza e a luminosidade do seu empenho, não as deixe ficarem escondidas, mas que os primeiros a sentirem seus frutos sejamos nós, vocês e eu.
Que o nosso movimento, que o nosso carisma seja uma coisa grande na história, na história da humanidade, parece-nos hoje como que uma perspectiva de possibilidade real, que de qualquer forma não se realiza se todos os dias da nossa vida não previrem as relações de consciência com Deus e as relações de consciência da moralidade com todos os outros homens. Eu teria vontade, teria vontade de começar tudo de novo. Qual é a palavra que mais contém o que o cristianismo é na história do homem - na história do homem, desde os crentes mais límpidos e tranqüilos até os Galli Della Loggia e os Scalfari -? Acontecimento.
São os votos que temos de fazer, mas são os votos que a pessoa, celebrando a Santa Missa todas as manhãs, ou dizendo as últimas palavras à noite, as últimas palavras no final das Completas, faz a si mesma como destino, e assim tudo na sua vida é assegurado pelo Senhor ao qual pertence, e a pessoa é assim tão livre, tão intensamente livre, pois nada nos faz sentirmo-nos tão superiores aos outros quanto ser pertencentes a Deus. É o coração da nossa vicissitude humana.