Essa grande força do Papa de joelhos
Palavra entre nósCaro Diretor,
a atenção que seu jornal dedicou ao gesto do Papa no início da Quaresma e as inúmeras colocações publicadas em La Repubblica nestes dias – começando pelo editorial de Eugenio Scalfari –, levou-me a pedir-lhe hospitalidade para uma minha contribuição pessoal.
Ver o Papa, surrado como Cristo profeta e humilhado em nome da Igreja toda, pedir perdão pelas culpas cometidas pelos cristãos comove-me profundamente, como impressionou a tantos nestes tempos.
Esse pedido de perdão parece-me a coisa que mais faz brilhar e documenta a novidade do cristianismo, assinalando com isso a diversidade irremediável entre o cristão e o não-cristão.
Para nós, é difícil compreender a importância do gesto papal, que poderia facilmente ser reduzido dentro dos esquemas do revisionismo histórico. Não é um objetivo político ou de propaganda que move o papa Wojtyla; creio, pelo contrário, que João Paulo II, provocado por uma circunstância favorável – a festa pelos dois mil anos da Encarnação –, tenha desejado demonstrar a verdade de Cristo e da Igreja. Essa verdade é carregada por homens de carne e osso, pois esse é o método que Deus escolheu para fazer-se conhecer na história. Com efeito, o Mistério que de outra forma permaneceria desconhecido comunica-se utilizando o fator humano: Deus veio ao mundo como uma criança no seio de uma jovem judia, nascendo na carne exatamente como qualquer um de nós.
Por isso, nenhuma desproporção, inadequação, erro dos homens pode ser objeção ao cristianismo. O limite existencial do qual o homem faz experiência – a que a Bíblia chama “pecado” – não é objeção à transmissão e à tradução do cristianismo na história, pois nenhuma miséria poderá eliminar o caráter paradoxal do instrumento, ou seja, o fator humano, escolhido por Deus para fazer-se conhecer.
A Igreja é uma realidade humana na qual podem ser encontradas pessoas indignas, gente grosseira e de pouco valor, muitas vezes violenta, homens frágeis ou presunçosos, pais desacertados e filhos rebeldes. Mas a Igreja não está do outro lado, ou seja, do lado dos fariseus e dos sem pecado. Assim, o cristão sabe que é pecador, e justamente a consciência de sê-lo é o primeiro e mais honesto passo que possa ser dado diante de si mesmo e dos outros, se ele não quiser tornar-se presunçosamente intolerante e violento.
Por isso, o pedido de perdão dos homens a Deus é o ato mais puro do homem que crê nEle e que grita ao Deus, como todos os Salmos de Israel nos tornam evidente a cada dia.
É, portanto, para afirmar uma positividade, a positividade de Cristo presente na história e vencedor, que o homem pede perdão. E é para que essa positividade seja para o mundo inteiro que o Papa se põe de joelhos, tomando sobre si as culpas de todos e de cada um. Precisamente: não julgando-as em nome de uma moral abstrata ou de leis impostas pelos homens, mas renovando a dinâmica da conversão e do perdão, que não é fraqueza, mas força que recria o humano diante da grande Presença. Aqui está a diferença.
O cristão não está apegado a nada, a não ser a Jesus. Todas as ideologias têm um aspecto pelo qual o homem está seguro ao menos de uma coisa, que é aquela que ele mesmo faz, aquela à qual nunca desejará renunciar nem colocar em discussão. Mas o cristão sabe que as suas tentativas e tudo o que possui ou faz sempre têm de ceder à verdade. Por isso ele é o único que verdadeiramente luta pela purificação do mundo e pela justiça. Pois a justiça é a relação com Deus, é o desígnio de Deus; assim, quem encontrou a Cristo não espera um instante para ajudar o mundo a ser melhor ou, ao menos, mais suportável. Mas ele está também profundamente convencido de que o mundo sempre o perseguirá, acusando-o de todos os males.
O Papa de joelhos não me sugere uma imagem de fraqueza. Lembra-me muito mais o Espártaco antigo, que se ergue em toda a estatura da sua humanidade em um gesto supremo de liberdade, como exemplo oferecido pela sempre desejada felicidade de todos e de cada um. Este Papa renova em mim e em meus amigos a coragem necessária para sustentar a esperança dos homens.
La Repubblica, 15 de março de 2000