Mensagem aos participantes da XXXI JMJ 2016

Mensagem de padre Julián Carrón para a XXXI Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia (27-31 de julho)
Julián Carrón

A vida é cheia de imprevistos. «O mundo foi conquistado pelo cristianismo, em última instância, por esta palavra que resume tudo: “misericórdia”» (Dom Giussani). Quem é que teria apostado na misericórdia para “conquistar” o mundo?
Para não findarmos no desnorteamento, a Igreja sempre nos propõe gestos, que oferece à verificação da nossa experiência. Vocês aceitaram uma dessas propostas: participar da JMJ de Cracóvia, juntamente com jovens do mundo inteiro.
Não se esqueçam daquele a quem vocês disseram sim: ao Papa, que convidou a todos vocês. O sim de vocês é para educá-los a uma ligação que para nós não é discutível, mas substancial: a ligação a Pedro, baluarte estabelecido por Cristo para a segurança do nosso caminho. Os que vão a Cracóvia fazem isso para descobrir ainda mais o valor da Igreja, a pertença a algo que é estável, que tem um ponto de referência com um nome preciso: Papa Francisco. Sem essa consciência, a nossa pertença seria frágil.
Vocês vão a Cracóvia com uma razão precisa: um pedido a Cristo para que nos liberte. Vão pedir de joelhos, mendigar-Lhe – como pedintes – a Sua misericórdia. Será que alguém pode achar que não precisa da Sua misericórdia? Isso significaria não reconhecer a vastidão da sua própria necessidade, para a qual só Cristo é a resposta adequada: «Jesus Cristo veio anunciar e realizar o tempo perene da graça do Senhor, trazendo a libertação» (Mensagem para a JMJ).
O Papa nos convida a mergulhar no Ano Santo da Misericórdia, reconhecendo que o Senhor continua a ter piedade de nós. Nós somos objeto do Seu amor visceral que não nos abandona e se preocupa com o nosso destino. «Deixai-vos alcançar pelo seu olhar misericordioso, que sacia a sede profunda que habita nos vossos corações jovens: sede de amor, de paz, de alegria e de verdadeira felicidade» (Mensagem para a JMJ).
Indo à JMJ, não tenham pressa de encontrar uma resposta para as suas perguntas; a pressa é sinal daquela insegurança que os leva a querer agarrar logo alguma coisa. Como acontece com a escolha do estado de vida: devo casar-me ou não? Devo ser padre, monge ou memor Domini? Preocupem-se antes de mais nada em percorrer o caminho. Se a pessoa percorrer o caminho, encontrará a resposta. Uma resposta que o Mistério dará quando cada um estiver pronto a recebê-la, quando estiver verdadeiramente disponível. Peçamos essa disponibilidade de coração. O Mistério lhe dá a vocação – a você! – e o fará entender, pouco a pouco, os fatores, os dados para decidir, porque no final será você a decidir, ninguém poderá substituir-se a você, pais, amigos, padres ou chefes. Ninguém! Por isso temos de pedir constantemente, aprendendo a abandonarmo-nos ao Mistério que nos dá todo o tempo de que precisamos.
«Senhor, acorda, não te importas que afundemos?». «Por que temeis, homens de pouca fé?» (cfr. Mt 8,25-27), diz Jesus aos seus discípulos aterrorizados no lago tempestuoso. Eles estão assustados e Ele dorme pacificamente na barca agitada pelas ondas. Ou imaginem quando Jesus é preso no horto das oliveiras e Pedro diz: «Não, não, isto não pode ser!». Puxa da espada e começa a cortar orelhas (cf. Jo 18, 10-11). E Jesus: «Mas estás doido?». De onde nasce a reação de Pedro? Da sua insegurança. E a reação oposta de Jesus? Da Sua segurança: Jesus confia-se ao Pai. Quem é que tinha mais fatores da realidade? Pedro ou Jesus? Mas nós pensamos que somos mais inteligentes do que Deus. Por que Pedro se sente só e perdido no horto das oliveiras e Jesus não? «Eu e o Pai somos Um, o Pai não me abandona nunca» (cfr. Jo 10,30). Jesus olha para o essencial, tem a consciência clara de Quem é a companhia profunda do seu caminho no mundo.
Tomar consciência disto já é uma introdução à JMJ, o primeiro passo é ajudarmo-nos nisso. E lembrem-se: quem os ajuda a dar um passo, este é um amigo. Porque a amizade, sempre nos disse Dom Giussani, é caminhar para o destino, é uma «companhia guiada ao destino».
Desejo que vocês vivam os dias da JMJ como obediência a Cristo, à modalidade com que o Mistério os alcança hoje, bate à porta da sua juventude e pede, submissamente, para poder entrar para realizar em vocês a promessa que vocês são.
Como treino para a JMJ, convido-os a olharem de frente para as perguntas que o Papa lhes dirigiu na sua Mensagem: «E tu, caro jovem, cara jovem, já alguma vez sentiste pousar sobre ti este olhar de amor infinito que, para além de todos os teus pecados, limitações e fracassos, continua a confiar em ti e a olhar com esperança para a tua vida? Estás consciente do valor que tens diante de um Deus que, por amor, te deu tudo? Como nos ensina São Paulo, assim “Deus demonstra o seu amor para conosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós” (Rm 5, 8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?».
Desejo-lhes que as palavras do Papa vibrem em vocês, para que ao regressarem possamos reconhecer em vocês amigos verdadeiros, testemunhas daquilo que mais agrada a Jesus: «Deixai-vos tocar pela sua misericórdia sem limites, a fim de, por vossa vez, vos torneis apóstolos da misericórdia, através das obras, das palavras e da oração, neste nosso mundo ferido pelo egoísmo, o ódio e tanto desespero (...) nos ambientes da vossa vida diária e até aos confins da terra. Nesta missão, eu vos acompanho».

Também eu vos acompanho, oferecendo os meus dias pelo vosso caminho.

Julián Carrón

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