Romênia: O panfleto da comunidade de CL
Se nos afadigamos e sofremos ultrajes, é porque pusemos a nossa esperança no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, sobretudo dos fiéis (I Tim 4, 10).
É fato que o nosso trabalho – nós que educamos as crianças, cuidamos dos doentes e defendemos a ordem e a tranquilidade pública –, que é um bem para todos, agora é evidentemente contestado pelas recentes medidas de austeridade propostas e assumidas pelo Governo.
Estamos conscientes dos efeitos da crise sobre os cidadãos de muitos países europeus, inclusive o nosso, mas a solidariedade a que somos chamados, pelas medidas do governo, é apenas “discurso vão que engana” (Ef 5, 6), considerando-se que, acerca dessas medidas, não foi pedido o consenso dos cidadãos nem houve um diálogo social ou um debate. As soluções que nos foram oferecidas, em nome da solidariedade, não terão os efeitos para os quais foram pensadas, considerando-se a falta de confiança que domina entre os governantes e o conjunto da sociedade, e considerando-se o fato de que afetam, em maior medida, as pessoas e as famílias mais vulneráveis, ou seja, aquelas de renda mais baixa.
Diante desta situação de crise econômica, política, social e moral, afirmamos a dignidade do trabalho pelo bem comum, ao qual cada um de nós tem direito, conforme os ensinamentos da Igreja, bem como a um salário justo, que permita às famílias uma vida digna e condições adequadas para crescer e educar os filhos. Afirmamos que os idosos não são um peso para a sociedade, mas pessoas que têm pleno direito de gozar de uma vida não sobrecarregada pelas preocupações seguramente produzidas por este tipo de medidas. Afirmamos que a equidade e a justiça social são princípios que asseguram a uma sociedade a verdadeira coesão e a verdadeira solidariedade. Não encontramos nas medidas propostas por este Governo nada destes princípios, nenhuma transparência a que são obrigados aqueles que foram escolhidos para representar os nossos interesses e muito menos a garantia de que, no nosso país, sejam respeitados o direito à livre expressão e a liberdade de manifestar uma opinião diferente. O estado de direito está ameaçado: as liberdades democráticas, conquistadas com o sacrifício do sangue, vinte anos atrás, estão sofrendo ataques repetidos. “Ter poder, se não for definido por uma responsabilidade moral e não for controlado por um profundo respeito pela pessoa, significa destruição do humano no sentido absoluto” (Luigi Giussani).
As situações que vivemos, ainda que graves, devem ser uma ocasião privilegiada para levar ao amadurecimento uma verdadeira consciência, de forma que é necessário que permaneçamos juntos e resistamos, como homens dignos, como cristãos. Mas, como podemos não ceder ao perigo da resignação, do individualismo, da impossibilidade de construir algo que dure? A esperança que Cristo traz ao mundo provoca uma luta em nós mesmos contra o poder do mundo, ou seja, contra a mentalidade comum, que quer sufocar, transformar o drama do nosso eu diante do Mistério em um drama interior. Portanto, o nosso relacionamento com Cristo tem um significado social e cultural de ordem cósmica, visto que, na realidade cotidiana, está em jogo, em cada instante, a salvação da pessoa. Toda circunstância da nossa vida, inclusive aquelas que estamos vivendo agora, são uma ocasião de conversão e de comunhão. Assim, como cristãos, tornamo-nos um bem para a Igreja e para a sociedade. A humanidade frágil tem necessidade do nosso testemunho para mudar.
“O poder tenta exatamente sufocar e reduzir os desejos, atrofiá-los em sua fonte. Por isso, o início da luta contra o poder consiste no tomar consciência do próprio desejo e manifestá-lo. É a pobreza do coração – exigência de verdade, de felicidade, de justiça e de amor – que vence o poder” (Luigi Giussani).
Comunhão e Libertação Romênia
25 de setembro de 2010