“Uma grande testemunha de Cristo. Reavivou o sentido original da palavra cristão”

Orazio La Rocca

Entrevista com o arcebispo de Bolonha, Dom Carlo Caffarra


Excelência, o que o senhor sentiu ao saber da morte de um amigo como padre Giussani?
Não tive a graça de ser seu aluno. Nos conhecemos quando eu era professor no departamento de Ciências Religiosas da Universidade Católica de Milão, e depois desse encontro mantivemos uma profundíssima amizade, cercada de grande estima e afeto, recebendo eu muito mais do que podia dar-lhe. Ao saber de sua morte, logo pensei que se calava a voz de uma grande testemunha de Cristo. Ontem a Igreja celebrou o dia da Cátedra de S. Pedro. Vi nessa não-casual coincidência o selo de uma existência doada apaixonadamente à Igreja.

A perda de Giussani, um vazio para CL e para a Igreja: é possível preencher esse vazio?
A consistência da relação que liga os discípulos de Cristo é muito mais forte do que a ausência da pessoa física. Mons. Giussani havia recebido um dom, um “carisma fundacional”, uma semente que ele plantou na vida da Igreja. O vazio da sua presença é preenchido com os frutos dessa semente, o movimento eclesial de CL. (...)

O que permanece, do ensinamento do padre Giussani?
O anúncio evangélico em sua substância. Primeiro: Deus se fez homem, morreu e ressuscitou, e você pode encontrá-lo hoje, na Igreja, de tal modo que toda a sua humanidade será regenerada. Segundo: esse fato, se ocorreu com você, não será mais possível ignorá-lo; você precisará testemunhá-lo. Ele gostava de repetir uma frase de são Tomás de Aquino: “Se tudo o que é possível conhecer fosse escrito num livro, eu deixaria de lado todos os demais livros e leria esse. Pois esse livro existe, e é Cristo”.

CL, sem o seu fundador, passará por momentos difíceis?
O desaparecimento do fundador constitui sempre, em qualquer movimento, um momento delicado. Estou certo de que padre Giussani gerou homens e mulheres dotados de um tal ardor generativo que serão capazes de guardar com fidelidade criativa a sua experiência.

(Orazio La Rocca, Jornal La Repubblica, 23 de fevereiro de 2005).