Franco Nembrini, com os rapazes da Escola de Bogotá

Em Bogotá, jantar com Zaqueu

Dois encontros em um dia com Franco Nembrini. De manhã, duas horas de Dante com aproximadamente oitenta jovens estudantes completamente fascinados. A noite foi a vez dos pais discutirem sobre o que quer dizer educar. Uma carta nos conta o que aconteceu

Final de março. Uma sexta-feira de manhã, 11:30h. Sala “Boggio” da escola Alessandro Volta, de Bogotá (Colômbia): 75 alunos dos 14 aos 18 anos, todos atentos e em silêncio por duas horas. Esteban é um daqueles que nunca consegue ficar parado e não consegue não conversar com os colegas, ali permanece em silêncio todo o tempo, respeitando os colegas que escutam com atenção. Ele também escuta, mesmo se em certo momento acaba cochilando. Hamachi, por sua vez, normalmente a única coisa que faz na aula é desenhar, ali ao contrário, permanece muito atento, sem a necessidade de fazer outra coisa. E também Anamaria, que muitas vezes dorme nas cadeiras, ali observa e escuta sem um sinal de preguiça no rosto.

Na mesa quem está falando é Franco Nembrini, um professor como eu, vindo da Itália. Um homem que conta como a sua vida foi mudada pelo o encontro com alguns grandes da história, através da leitura de seus textos. O primeiro foi Dante, através da leitura da Divina Comédia aos 11 anos: “Intui naquele segundo em que eu estava dentro daquele livro e que aquele livro estava dentro de mim, que estávamos fazendo a mesma experiência. E me perguntei: Como Dante sabe disso, como sabe de mim?”. Em suma, é dai que nasce a vida: um encontro que te doa de novo o seu desejo, que te dá novamente na mão você mesmo quando pensava que estava só e perdido.

Daquele momento em diante começaram os encontros mais bonitos de sua vida, com pessoas que ele nem mesmo sabia que existiam. Até os últimos, que, porém se tornam os primeiros no que diz respeito a capacidade de fazer renascer o desejo sempre: o músico da Estônia, o rapaz russo, o cartunista famoso, o escultor genial que fez a bela estátua de Dante no momento em que revê Beatriz. Semblantes, dentro de um caminho, de pessoas que desejam assim como eu “Rever Beatriz”.

Como os meus rapazes, que cheios de perguntas e revoltas, ficaram ali parados, fixados por todo o tempo diante deste homem! E como eu também, maravilhada por este simples e extraordinário movimento de tantos deles, que no fim descubro ser o mesmo do meu.

Alguns jovens apareceram também para o encontro da noite organizado para os pais e professores sobre o tema da educação. Foi impressionante ver de novo aqueles mesmos rapazes gastarem a sexta-feira a noite para rever Nembrini, enquanto falava de algo que tinha a ver com eles a 350 adultos que estavam ali para serem acompanhados na difícil tarefa de educar.

No final, as cópias dos livros do Nembrini, que estavam na saída para venda, não foram suficientes. Todos queriam como que levar um pouco daquela experiência feita, de sentir-se abraçados e ao mesmo tempo corrigidos. Nembrini fechou o encontro dizendo que os filhos tem somente uma necessidade, “aquela de serem constantemente perdoados: perdoados porque amados, amados e portanto perdoados”. A única coisa que, no fundo, um educador deve fazer é amar e acompanhar, para comunicar que a vida é bela. O exemplo que deu de Zaqueu fez todos se divertirem, mas ao mesmo tempo clareou bem os termos em jogo: “Normalmente se um pai está na rua com o filho e vê em cima da árvore, parado, Zaqueu, o pior da sociedade, o delinquente mais delinquente, o que ele faz? Tampa os olhos do filho e diz a ele para seguir em frente e não olhar para aquele lugar. O que ele obtém com isto? Além do fato que seguramente o filho ficará curioso e retornará naquele lugar para subir na árvore e ver o que tinha ali de tão interessante, terá sempre a imagem do pai como uma pessoa frágil, fraco, derrotado pelo mal do mundo. Diferente seria se o pai lhe dissesse: ‘Filho, fique aqui; o teu pai tem que fazer uma coisa”, e se aproximasse da árvore e dissesse: ‘Zaqueu, desce, esta noite vou jantar na sua casa’. E se, retornando ao filho, depois lhe dissesse: ‘Meu filho, ganhamos um jantar grátis!’”.

O filho terá a percepção que não existe mal no mundo que o pai não possa vencer, Nembrini disse ainda: “No fim, a realidade é um bem para mim. E depois entenderá a conveniência suprema do cristianismo, o ‘jantar’.... E não restará nenhuma curiosidade de voltar na árvore para subir e ver o que tem de tão interessante: não haveria mais nada, porque Zaqueu já haveria descido da árvore para ir preparar o jantar”.

Ainda com um sorriso, todos deixaram a sala contentes pela bela noite. Um testemunho tangível para entender o quanto é necessário ser filho para poder ser pai.

Chiara, Bogotá (Colômbia)