Renascer num quarto de hospital

Luisa é internada e se encontra com outra mulher no quarto do hospital. É um encontro para ambas. Do mal-estar inicial aos jogos de cartas, os conselhos... até aprender a rezar. Uma amizade que as acompanha mesmo quando não estão juntas

Alguns anos atrás, tive a graça de encontrar o Movimento. Convivo com problemas crônicos de saúde aos quais, nos últimos meses, foi acrescentada uma grave infecção óssea que me obrigou a permanecer hospitalizada muito tempo. Ao entrar no andar do quarto perguntei-me: «Com quem será que vou dividir o quarto?». Tudo o que me preocupava era eu mesma e a minha saúde.

Ao entrar no quarto me vi diante de uma mulher com uma voz muito frágil que imediatamente me cumprimentou, e me senti aliviada. Mas durou pouco, o meu mal-estar voltou quando soube do motivo de sua internação: ela era soropositiva.

Mas tinha que partir de algum ponto, intuía que essa situação também me estava sendo dada pelo Senhor. Aquela mulher tinha que estar lá para mim. Começamos a conversar e não tardou em mudar o meu olhar sobre ela. Eu me perguntava: «Mas quem me mudou o olhar e tirou os meus medos?».

O que se segue é o testemunho desta nova amiga, que agora está internada em razão de um tumor, mas que espera poder estar conosco na Jornada de Outubro.

Luisa, Carate Brianza


Lembro-me perfeitamente do dia em que recebi alta do hospital. Eu me sentia perdida, chorava e pensava: «Volto a estar sozinha». Tudo me dava medo. A rua era uma selva cheia de perigos para o meu corpo doente, mas, no fundo, sabia que já não estava só. Agora tinha amigos de verdade, embora estivessem longe: Luisa, Gheri, Betta, Bianca, Davide, Federica e os outros... Eles estavam comigo com suas orações e o meu coração sentia isso.

No dia seguinte, voltei ao hospital. Sentia muita falta da Luisa. Ela imediatamente percebeu que eu não estava bem e me animou, como sempre. Eu me sentia importante porque tinha diante de mim uma pessoa que me amava incondicionalmente tal como sou, com as minhas virtudes e os meus defeitos. Graças a ela e aos seus conselhos consegui reunir forças e entrei em uma casa para pacientes com HIV, proposta pelo hospital.

Na verdade, não gostava da ideia da comunidade em função de suas regras muito rígidas: nada de visitas, nem telefonemas, nem saídas. Comecei a rezar como a Luisa tinha me ensinado e, entre uma oração e outra, pensava nos dias que tinha passado com ela, nos jogos de cartas, nossos risos... Fazia muito tempo que não ria com tanto gosto, com tanta alegria. Ela sentia muita dor física, mas sempre sorria, nunca a vi se queixar de nada.

Esta experiência mudou a minha vida. Para mim foi um renascer. Aconteceu um milagre: não a cura da minha doença, mas a cura da minha alma. O Senhor me enviou um anjo da guarda.

Carta assinada