Foto Unsplash/Texco Kwok

«Protagonista da política, porque vivo»

A história de Emanuele, Giacomo e seus amigos. A descoberta do que significa responder à realidade e de como isso leva a «interessar-se pela coisa pública desinteressadamente», e a encontrar os outros

«A primeira política é viver», dizia Václav Havel. Quando encontrei o Movimento na faculdade, uma das primeiras coisas que ouvi de Dom Giussani foi: «Viver intensamente o real». Para mim, hoje, viver significa responder. Vou contar três pequenos episódios que ocorreram em tempos de eleição. Sou amigo de Giacomo desde a época da faculdade, quando eu encontrei o Movimento. É um dos rostos importantes pelo qual sempre me senti querido. Ele mora em San Giovanni Lupatoto (perto de Verona) desde que se casou e sempre definiu a cidade como «um dormitório onde não há nada, espero poder ir lodo para um lugar melhor, mais vivo».

Depois veio o lockdown. Pela primeira vez, Giacomo foi obrigado a olhar para o que havia, principalmente procurando rostos amigos para ter companhia. Assim, durante todo o ano passado fizemos companhia um ao outro com nossas famílias. E ele finalmente começou a sentir-se em casa, e a olhar também para como é feita essa casa: as calçadas, os jardins e as árvores… Como deixar tudo mais bonito e acolhedor?

Neste verão nos encontramos em cinco amigos no almoço para falar justamente disso. Com as eleições batendo à porta, queríamos compartilhar o que nos interessa. Sem planejarmos, saiu dali um panfleto, no qual tratávamos do desejo de que todos possam começar a sentir-se em casa neste município, porque quando a gente se sente em casa, então passa a cuidar do que temos e a construir juntos com quem está perto. Íamos usar o panfleto para encontrar outras pessoas.

E assim foi, antes ainda que começasse a campanha eleitoral, confrontando-nos também com pessoas que estavam envolvidos em alguns âmbitos importantes da cidade. Penso, por exemplo, no encontro com um famoso arquiteto que mora aqui, com quem conversamos de urbanística e desenvolvimento de construções, para entendermos mais e termos a visão de um especialista. Enfim, uma abertura total.

E, se no início estávamos muito entusiasmados, depois topamos com a realidade e com o pouco tempo à disposição. Em julho, depois de vários dias complicados, eu fiquei sem dar sinal de vida a ninguém. Uma semana depois encontrei Giacomo, que estava tocando a coisa meio sozinho. Eu me sentia culpado, porém, pela forma como ele me olhou, eu simplesmente me senti amado. Para ele, só interessava a minha pessoa e como eu estava. Abriu-se uma conversa interessante que nos pôs de novo em movimento: precisávamos partir da realidade, de modo que até a questão política, por como ocorreu, precisávamos olhar para ela no nosso contexto cotidiano: ambos com família, filhos pequenos… E lhe disse: «Eu estou aqui para te ajudar, mas só pelo fato de que somos amigos e nos olhamos com liberdade. Fazemos o que conseguimos com o que nos é dado e sem deixar de nos olhar assim». Somos chamados a responder onde as circunstâncias nos levam, não conforme um projeto, mesmo com todas as ideias e os bons propósitos. Isso para mim é responder e viver intensamente levando tudo em conta.

Quando foi oficializada a data das eleições, saíram também os nomes dos candidatos a prefeito. Entre eles estava Anna, ex-vereadora, minha colega de classe no colegial. «Tenho de mandar para ela o panfleto», pensei logo. Fazia quinze anos que não nos falávamos. Além disso, ela era candidata numa área política que não me pertence, mas o panfleto, com o título “O que está em jogo? A possibilidade de verificar a fé”, ia além das preferências políticas. Depois de dez minutos ela me respondeu: «Nossa, estou impressionada e muito curiosa. Vamos nos encontrar com certeza». Combinamos de nos vez dali a dez dias, mas depois de apenas dois ela me ligou: «Continuo pensando no panfleto. Nunca vi uma posição assim. Por que você não se candidata comigo?» Não esperava por essa. Quando nos encontramos, perguntei-lhe o que a tinha tocado tanto. E ela: «Poderia ter sido escrito por mim. O gosto pelo belo, pelo bom, pelo justo; o amor pelo lugar onde mora… Quando, meses atrás, eu me reuni com os outros da lista para decidirmos se nos candidataríamos, pensamos nas mesmas motivações que você e seus amigos escreveram. Só que vocês não estão se candidatando, e mesmo assim chegaram a fazer uma espécie de programa. Nunca vi gente tão interessada de um jeito desinteressado. Por isso pedi que você se candidatasse comigo».

Quando o desejo de uma pessoa é verdadeiro, descobre-se que o ponto de partida do coração é o mesmo e permite abrir um diálogo bom. E a maior coisa da política que tenho descoberto é a gratuidade, que é o elemento que mais marcou também à Anna.

Eu não me candidatei. Mas me sinto protagonista da política porque, acima de tudo, estou vivendo: vivo minha família, meu trabalho, minha cidade. Nada é negado, e cada encontro vem se tornando precioso. Quando descortinamos o nosso coração, deixa de haver qualquer barreira ou limite ao diálogo. Aliás, é aí que nasce e cresce algo novo.

Emanuele, San Giovanni Lupatoto (Verona)