Foto Unsplash/Connor Misset

«Chamado pelo nome, como Zaqueu com Jesus»

A pena alternativa numa casa de acolhida, e depois o encontro com alguns amigos derrubou os muros que «desde criança eu construí ao meu redor». A carta de Antonio

Antonio é um detento que está cumprindo a pena alternativa na Casa Betania, uma casa de acolhida da Comunidade Papa João XXIII inserida no percurso CEC (Comunità Educante con Carcerati), nascido na Itália seguindo o modelo das APACs brasileiras. Há pouco tempo, depois de um jantar, mandou uma mensagem a uma deles, como ele mesmo conta.

Eu me chamo Antonio. Tenho 44 anos. Manei esta mensagem porque não é fácil dizer certas coisas frente a frente. Quando encontrei ela e seus amigos, entendi que eu era detento desde pequeno. Detento significa que alguém te priva da liberdade: eu me privei da liberdade sozinho. Desde pequeno minha vida não foi fácil e me levou a construir como que uma prisão ao meu redor, para me proteger. A necessidade que aquele menino tinha – e que tem ainda hoje – de amar e ser amado, eu tentava anulá-la levantando um muro, tijolo por tijolo, sem portas nem janelas. E aí, em seguida, vieram os delitos… Aquele menino, porém, num determinado momento virou “Antonio”, e apareceu alguém que o chamou pelo nome, dando uma marretada nesse muro em que ele se tinha fechado. Aconteceu assim: passei a viver em liberdade, a ser eu mesmo, a não mais me envergonhar. Porque, quando uma pessoa começa a sentir-se amada, começa a entender que é valiosa. E começa a amar também aos outros. Eu mandei estas palavras para agradecer esses amigos pelo que aconteceu e acontece na minha vida.

«Querida amiga, estou mandando esta mensagem para lhe contar o que vivemos, aliás, o que eu vivi na outra noite. Em primeiro lugar, foi um momento de relação maravilhoso, no qual todos nos sentimos muito bem; e também a celebração, que fizemos com o padre, não foi um mero rito, mas estarmos todos juntos para agradecer a Deus por aquele momento e por tudo o que Ele nos dá. Mas também quero lhe falar do que vivi no meu íntimo durante a noite. Eu me espantei com o fato de ter-lhes contado sobre mim, pois acho que nunca me expressei assim de maneira tão profunda, deixando sair o menino que está em mim. Esse menino sempre teve medo dos outros, de ser ridicularizado, de ser mal entendido, e sempre ficou escondido. Desta vez foi diferente. Vocês me deram algo que não dá para comprar, nem pedir ou mendigar, mas que só se pode receber de forma totalmente gratuita no coração: o amor. Por isso, aquele menino quis, e quer, retribuir abrindo-se para vocês. Como se dissesse: “Dou-lhe minha pobreza, meu nada, pois é a única coisa preciosa que tenho”. Na outra noite aconteceu isso. Para mim é bonito, sinto-me amado de verdade por alguém. Isso me faz bem, faz bem a esse menino que está sempre em busca de alguém que o olhe de um jeito diferente e que o faça crescer, amadurecer, de modo que ele também possa dar seus frutos. Você, seu marido, seus amigos… talvez nem o percebam, mas para mim e em mim vocês estão fazendo milagres, são instrumentos de Jesus neste momento para mim, são Jesus chamando Zaqueu pelo nome. Vocês me chamaram pelo nome, e isso me despertou. Obrigado.»

Antonio, Rímini (Itália)