Bolonha. De uma história, um método
Três dias de mostras, espetáculos, encontros. De tempo ruim e de surpresas. A Campus by Night, construída pelos universitários, para partilhar com todos uma pergunta: Vale a pena ouvir o grito de felicidade que temos dentro de nós?Sendo muito longa a preparação da Campus by Night, os três dias foram cheios de expectativa. Na nossa imagem, por exemplo, achávamos que o tempo ia ser bom e dizíamos: «Tudo vai dar certo, nós rezamos, entregamos à Nossa Senhora de São Lucas, teve até gente que fez promessa…» Mas, exceto na última noite, não parou de chover, e foi pior do que indicava a previsão. Foi recorrente e grande a aflição que sentíamos durante o dia. Tanto trabalho para nada. Além disso, alguns dos nossos colegas de faculdade lutaram para conseguir chegar ao evento, por causa da chuva. Esse fato, encarado com lealdade, foi a possibilidade constante de uma conversão. Quando estávamos consternados, pontualmente acontecia um fato. Podia ser o olhar alegre de um voluntário, ou um colega que exclamava a partir da mostra que falava da relação entre sucesso e realização nos dias de hoje: «Eu achava que só eu fazia essas perguntas», ou ainda o convidado Fabio Cantelli (escritor e vice-presidente do Grupo Abele) que, no fim de um encontro, concluiu dizendo: «Vendo vocês, vejo a esperança».
Esses fatos nos devolveram a consciência de que o que tínhamos na frente dos olhos – presenças transformadas por um encontro – eram de longe mais fascinante e verdadeiro do que nossos projetos, inclusiva o bom tempo. Isso converteu o nosso olhar diariamente e nos permitiu não afundarmos no pensamento de que, apesar de nossos esforços, estava chovendo. Terminados esses três dias, o que fica é um método: deparar com presenças vivas que me tiram da minha medida. É por isso que podemos dizer que a Campus continua, pois o que descobrimos foi um método. O método é um caminho, e faça chuva ou faça sol, o caminho permanece. Ao mesmo tempo, ficou evidente que a Campus não é nossa, pertence a uma história. Ou melhor, é de uma história a novidade que nós somos e carregamos, o modo como olhamos.
Matteo e Pietro, Bolonha
Abaixo, alguns trechos do que Matteo, estudante de Economia, disse na inauguração da Campus by Night
«Você é feliz neste mundo?» É possível ser feliz agora? Ou melhor, é possível ser feliz de verdade agora sem adiar a questão para um amanhã desconhecido? Esta provocação ganhou força durante os meses de preparação. Por um lado, as consequências da pandemia, psicológicas e econômicas, por outro, o novo cenário europeu nos puseram à prova. Ver as imagens transmitidas pelos telejornais nos últimos dois meses sobre a situação da Ucrânia faz crescer um sentimento de injustiça e de medo. Que felicidade pode haver num mundo ameaçado pela guerra? O que é que faz o homem feliz? E que sentido tem fazer todas estas perguntas?
Vale a pena ouvir grito de felicidade que temos dentro de nós? Poderíamos dizer que é o mais sensato. E, por outro lado, não existe resposta a uma pergunta que não se faz. Só quem se faz a pergunta pode identificar um vislumbre de resposta se e quando se apresenta. Provavelmente seria mais confortável evitar certas questões. Podemos buscar distrações constantes, mas sempre permanece o amargor de uma vida vivida por algo menor do que o que no fundo desejamos. Esta situação diz respeito a todos, pois todos queremos ser felizes, no fundo. Quando o cansaço vence e não temos ninguém com quem partilhar as perguntas mais íntimas e verdadeiras, é fácil procurar um remédio na distração vazia.
A Campus by Night é uma iniciativa, um lugar onde as perguntas são bem-vindas e com o qual querermos dizer à comunidade acadêmica, aos professores, aos colegas e à cidade que vale a pena olhar para elas. Foi o que nós voluntários tentamos fazer nestes longos e intensos meses de preparação. Um amigo, conversando conosco, disse-nos: «Para vocês, a Campus já começou». Portanto, toda a proposta cultural se desenvolver a partir do interesse de um, depois acolhido por outros. Assim foi com a mostra sobre o sucesso: o que acontece depois que você alcança o maior sonho da sua vida? Ou o que permanece da felicidade após uma prova em que você foi bem? Isso foi o que se perguntaram os organizadores da mostra “E daí?” O desafio do sucesso. Da mesma forma, outras perguntas nasceram diante do tema da guerra e dos ataques à liberdade: o que torna o homem livre? Pode um homem ser feliz sem saber quando poderá rever sua casa ou seus parentes? Enfim, diante das provocações da pandemia que nos roubou a caráter diário de tantos relacionamentos: quem é o outro? Qual é o valor da relação com o outro?
Há quem ache que não há resposta a essas perguntas e que não vale a pena fazê-las. A vida parece feita só de sofrimentos. Mas diante de alguns rostos, da forma como vivem a cada instante, dá para ver que há algo pelo qual vale a pena esforçar-se. Então não podemos responder à pergunta do título com um “não” seco. É um conjunto de pessoas vivas, e que desejam estar vivas, o que sustentou a construção da Campus. O que nós descobrimos e vamos contar nestes dias, queremos compartilhar com todo o mundo, como expressão da simpatia e do interesse pelo destino de cada um.#OutrosMeetings