Foto: Giorgio Grani/Unsplash

O Povo de Deus

Ao participar do processo Sinodal, Luca testemunha a presença de Cristo que tudo transforma: «Quem és tu, Cristo, que podes mudar o nosso coração de pedra e transformá-lo num coração de carne?»

Em vários dos últimos meses, estive envolvido com a minha paróquia no processo Sinodal. Há alguns meses, tivemos um grande encontro com o Bispo e todos os fiéis das paróquias locais dispostos a participar, onde atuei como facilitador de um dos grupos de discussão.

A primeira coisa que realmente me impressionou foi encontrar mais de 300 pessoas interessadas, como eu, em se envolver no processo. «Por que eles estão aqui?» Imediatamente me perguntei. O que os faz investir uma noite de sua semana de trabalho para se reunir na paróquia para discutir o Sínodo? Durante a noite, percebi uma vez mais que o que nos une é mais importante e atraente do que qualquer ideia compartilhada por cada um de nós.

No meu grupo de discussão, havia catorze pessoas vindas de diferentes paróquias e nos foi pedido que dialogássemos acerca de várias questões sugeridas pela comissão Sinodal.

No início da reunião, eu estava com muito medo de toda aquela situação: não conhecia ninguém, o que as pessoas iam dizer e quais discussões poderiam surgir, porque essas conversas podem facilmente se tornar um momento de reclamação sem muito diálogo.

Os primeiros minutos confirmaram meus temores: algumas pessoas imediatamente expressaram suas preocupações e reclamações sobre a Covid e como as diferentes paróquias lidaram com isso, e a discussão ficou tão acalorada que uma pessoa decidiu sair.

Antes de continuar o diálogo, fizemos um momento de silêncio, para reler as perguntas e tentar nos concentrar novamente no que nos foi perguntado. O que aconteceu depois realmente me surpreendeu: não porque as pessoas mudaram de ideia, nem porque as contribuições se tornaram menos polêmicas, mas porque quanto mais conversávamos, mais todos se abriam (inclusive eu) para ouvir o outro, mesmo que ele ou ela não concordasse com o que foi dito.

Eu não me vi mais com medo do que as pessoas poderiam compartilhar, mas estava curioso e aberto para ouvir o outro, não importava o que estivesse dizendo, como uma contribuição e uma provocação para aprofundar minha vida e minha fé, agora. Uma pessoa compartilhou que hoje é improvável as pessoas falarem mais sobre assuntos sobre os quais discordam e estava se perguntando se esse era o caso também para nós. Ocorreu-me que o que estava acontecendo diante dos meus olhos era exatamente a resposta para essa preocupação. Meus medos se foram e fui completamente tomado por um evento de uma impossível comunhão e unidade que estava se passando ali, entre as mesmas pessoas com quem havia tanta tensão no início. Quem és tu, Cristo, que podes mudar nosso coração de pedra e transformá-lo num coração de carne?

Ao término, as pessoas tiveram que compartilhar uma palavra para resumir sua experiência naquela noite, e quando li o que eles escreveram (“esperançoso”, “mudado”, “relacionamento”), encontrei descrita minha mesma experiência de ser mudado e atraído pelo acontecimento de Cristo ocorrendo na minha frente e em mim.

O que estou descobrindo, o que foi aprofundado por esta experiência, é que preciso implorar para que o acontecimento de Cristo ocorra diante de mim, preciso deixar para Ele o espaço de tomar a iniciativa em minha vida. Não preciso estar no controle, mas abrir meu coração para a realidade, implorando por Sua presença e Sua misericórdia para me abraçar. Ao mesmo tempo, fiquei maravilhado com o nosso bispo, que não temia a liberdade do povo, porque somos o povo de Deus escolhido pelo próprio Cristo para caminharmos juntos.

Luca, Flórida (EUA)