Salvatore Digilio

O perfume da felicidade

Salvatore morreu no início de abril após longa convalescência. Publicamos o que havia escrito pouco tempo atrás aos “quadradinhos”, um grupo de doentes que se encontram on-line para assistir à missa de Eugenio Nembrini e conversar sobre a vida

Caros amigos, houve um momento nos últimos meses, em que fui obrigado a ficar em casa por causa de fortes dores nas costas devido a metástases, quando me perguntei sobre a utilidade disto. E assim voltou à minha memória quando há meses o Pe. Eugenio nos falou sobre vocação. Pensei nos milagres que aconteceram em nossa Fraternidade dos Quadradinhos: a vida não corre em vão para o nada, meu nome está escrito no Céu, Cristo quer me abraçar porque sou feito para ser feliz. Eu desejo Jesus porque quero ser feliz.

Isto era o que eu costumava dizer àqueles que me visitavam, dizendo-lhes o que eu via em nossa Fraternidade. E que não é preciso estar doente para querer ser feliz e querer Cristo. E assim aconteceu uma coisa estranha. Cada vez mais pessoas, amigos que eu não via há anos, colegas de trabalho e amigos do Movimento pedem para vir me ver: uma, duas, três pessoas por dia… Isto me faz sorrir um pouco. E eu me pergunto: “Por que isso acontece? Para visitar uma pessoa doente? Acho que não, não era assim antes, exceto com amigos próximos”. Esta foi minha pergunta ao Senhor: por quê? Até ontem, quando uma amiga veio me visitar e eu lhe falei sobre isso e ela disse: “Eles vêm te ver porque todos nós somos feitos para ser felizes e aqui em sua casa eles sentem o cheiro, o perfume da felicidade, e eles seguem em seu rastro. E é o mesmo para mim, sou sua amiga porque também eu a sigo em seu rastro”.

Nada pode tirar minha necessidade de ser feliz, nem mesmo a doença; nada pode tirar meu desejo de buscar e conhecer Cristo até o último momento de minha vida, e se eu fizesse isso teria que ser surdo para mim mesmo. É realmente verdade que é preciso um Outro para lhe dizer quem você é, porque sozinho não podemos fazê-lo, muitas vezes vemos nossas limitações apenas como obstáculos e não como uma ferida aberta. Isto para mim é a nossa Fraternidade dos Quadradinhos. Um beijo para todos.

Salvatore, Varese (Itália)