(Foto: Unsplash/Jose Martin Ramirez Carrasco)

«Pelo desejo de viver»

De Florença a Treviso, duas cartas enviadas como contribuição para a assembleia dos novos inscritos na Fraternidade de Comunhão e Libertação, no dia 12 de outubro

Minha família é do Movimento e sempre me surpreendeu como meus pais nos deixaram livres para escolher o que queríamos para nossa vida. Nunca houve uma exigência da parte deles. E eu escolhi seguir a experiência da banda no ensino fundamental, depois os Colegiais e então o CLU. Mas não foram anos que lembro com felicidade, sempre tive um pouco de dificuldade, invejando aqueles que encontravam o Movimento pela primeira vez, porque ficavam maravilhados com tudo e todos maravilhados com eles, e ninguém se maravilhava comigo, pelo contrário, na maioria das vezes eu errava tudo. Eu era um pouco polêmica, mas porque realmente não entendia. Eu queria que aquela felicidade que via nos outros também chegasse a mim. Claro que aconteciam coisas boas, mas nada durava.
Me formei em enfermagem e terminou a experiência do CLU, onde consegui discutir com muitas pessoas. Mas eu pensava: «E agora? Pelo menos na faculdade, mesmo que eu discutisse nove vezes em dez, sempre tinha meus amigos. Agora que vou trabalhar, quem está comigo?»
Em outubro do ano passado comecei a trabalhar numa casa de repouso. Mas foi uma experiência que estava me fazendo perder a fé. Até 28 de fevereiro de 2023, quando morreu Silvia, irmã de Caterina, uma das minhas amigas mais queridas. Um golpe não pequeno. Naquele dia a Cate me escreveu: «Pode vir dormir na minha casa esses dias?» Tirei férias até o funeral e fui para a casa de Silvia e Matteo, seu marido, no meio de amigos e familiares.
Sempre tive medo de morrer. Eu pensava: a vida acaba e é isso, fim. Mas naqueles dias desejei viver como Silvia e morrer como ela. Conheci bem Matteo e finalmente fiquei feliz como todos os amigos e familiares que eu invejava. Porque ele sempre levou em consideração cada uma das minhas perguntas. Ele me dizia, e é algo que aprendi a fazer: «Pergunte a si mesmo o que isso diz sobre a verdade de você». Aprendi a perguntar tudo a Cristo como pergunto a Matteo, a um amigo.
Fiz um encontro que determina minha vida, meu presente e o juízo sobre minha vida. Olhando para este ano, mas também para os anteriores, penso que se sou assim é por causa do Movimento, é pelo encontro com Cristo. E para tomar consciência de quem sou, sempre em diálogo com meus amigos, me inscrevi na Fraternidade, porque parecia a coisa mais adequada depois do que me foi dado.
Bianca, Florença

Conheci o Movimento cerca de dois anos atrás, quando no início da especialização conheci um colega, que logo se tornaria meu namorado. Assim que começamos a sair, ele estava ansioso para me apresentar seus amigos, enquanto eu queria esperar, para estar mais segura do relacionamento que estava surgindo. Mas ele insistia: «Quero que você os conheça porque, conhecendo-os, você me conhece melhor também». E assim, entre jantares, passeios fora da cidade, viagens do Vêneto à Lombardia, férias juntos, aos poucos me surpreendia com essas pessoas com quem me sentia surpreendentemente livre, livre para falar de mim completamente, sem deixar nada de fora sobre minhas fraquezas e fragilidades.
Depois de conhecer esses amigos, comecei a participar da Missa da comunidade de Pádua, comecei a conhecer a Igreja. Nunca tinha visto uma igreja tão cheia numa missa durante a semana. Pouco depois, um pouco por curiosidade, um pouco porque esses amigos, que também se tornaram meus, me convidavam, comecei a ir à Escola de Comunidade. «Onde eu me meti? Por que não consigo entender o que dizem?», foram meus primeiros pensamentos, mas aquelas conversas me atraíam, eu não queria perder um encontro, achava que perderia algo bonito ficando em casa. Percebi que precisava dessas noites de quarta-feira, que eu também desejava ter as perguntas que os outros faziam, sobre trabalho, amizades, relacionamentos, desejava viver uma vida visando uma beleza que via naqueles rostos, naquelas palavras pouco claras para mim, mas que falavam de coisas grandes. Essa companhia se tornou cada vez mais próxima, aquela liberdade que tinha saboreado desde o início crescia, eu me sentia amada de uma maneira imerecida.
Antes do verão, veio a proposta de fazer parte do pequeno grupo de Fraternidade do meu namorado. Não hesitei em juntar todas as “peças”. A presença de uma companhia, de um lugar onde pudesse ver com meus próprios olhos o Senhor presente se tornaram elementos indispensáveis para mim, percebia como minha vida havia mudado. Não podia mais ficar sem tudo isso, só podia aceitar plenamente aquela proposta inscrevendo-me na Fraternidade.
Chiara, Treviso