Eclipse solar (Foto: Scott Szarapka / Unsplash)

Diante da beleza do eclipse

Alguns amigos americanos se encontraram nas zonas rurais de Ohio, no coração dos Estados Unidos, para assistirem juntos à passagem da Lua na frente do Sol. O relato de Massimo e Giuliana

Iniciamos nossa viagem de oito horas como uma pequena expedição, aventurando-nos pela I-70 de Baltimore até o “faroeste”. Com pouco tráfego, ouvindo boa música e animados por uma tranquila expectativa, atravessamos Maryland, chegando a Cumberland e às montanhas Apalaches. Passando pela Virgínia Ocidental, Pensilvânia e Ohio, finalmente chegamos a Cincinnati, na fronteira entre Kentucky e Indiana. Nossos amigos da comunidade de CL haviam organizado um belo jantar para nos receber e a outros que vinham de ainda mais longe para o evento que todos aguardávamos ansiosamente: o grande eclipse solar de 2024. Na longa mesa, tanto os adultos quanto as muitas crianças continuavam perguntando o que esperar, o que observar, por que era um evento tão excepcional. Logo a conversa se voltou para questões ainda maiores, sobre o universo e sobre nós. Fomos para a cama cheios de gratidão por nossos novos amigos, esperando por um céu limpo.

E no dia seguinte o céu estava realmente limpo. Participamos da festa organizada num celeiro a noroeste de Dayton, onde parecia que estávamos no meio do nada, para quem, como nós, estava acostumado à movimentada Costa Leste. Naquele lugar, com um horizonte perfeitamente plano, tínhamos a garantia de 3 minutos e 40 segundos de fenômeno total, uma eternidade em termos de duração de um eclipse. Foram instalados dois telescópios e, por turnos, observamos o Sol, suas manchas solares e a cromosfera animada por protuberâncias. Essas vistas eram como ímãs: entre uma mordida num cheeseburger e um gole de cerveja, continuávamos voltando para observar aqueles maravilhosos fenômenos de novo e de novo. Faz pensar por que nunca pensamos nisso, dado que o Sol está lá em cima para nós todos os dias!

Então começou o eclipse, inicialmente um leve entalhe no disco do Sol que nos obrigou a usar os óculos especiais escurecidos. Quando o perfil da Lua escura ficou mais nítido, o mundo inteiro começou a mudar. Primeiro uma leve brisa fria, depois os pássaros pararam de cantar, então a temperatura começou a cair e a luz ficou mais tênue; mas, em vez de ficar vermelha como acontece no crepúsculo, estava de um azul surreal. Minuto após minuto, ficávamos cada vez mais silenciosos. Lentamente o disco do Sol foi virando uma meia-lua e as sombras começaram a mudar. As crianças, com um escorredor, descobriam divertidas que os buracos iluminados projetavam uma série de pequenas meias-luas. E todas as sombras – nossas sombras – tinham bordas perfeitamente nítidas. Nos últimos segundos, viramos para o oeste e a visão era apocalíptica: a noite estava sobre nós, alta e nos atingindo, devorando tudo como uma nuvem negra impenetrável. Então o último raio de luz solar se apagou e pudemos ver o disco solar eclipsado: uma visão magnífica. O disco do Sol era negro como piche, cercado por um fino colar de pérolas e rubis luminosos; era possível ver os fluxos brancos da coroa com seus longos filamentos. Mais distante, Vênus e Júpiter brilhavam no céu escuro. Olhando para o horizonte distante, uma luz dourada alaranjada ou um crepúsculo impossível nos cercava de todos os lados.

O tempo parecia ter parado enquanto contemplávamos com espanto algo que superava todas as nossas expectativas. Pareceu durar uma eternidade, mas justo no momento em que sussurrávamos “Glória…”, um violento feixe de luz atingiu de repente nossos olhos, agora adaptados à escuridão. Corremos para pôr os óculos escuros novamente e olhar para cima: a fase total havia terminado. Nesse ponto, sabíamos que o que estava por vir era a repetição do que tínhamos visto alguns minutos antes. Logo o ar começou a esquentar novamente, a luz e as cores voltaram e lentamente também voltávamos à nossa vida normal: um último biscoito, a limpeza do local, um abraço em quem estava partindo para a longa viagem de volta para casa. Mas nossas vozes estavam mais baixas, nossos gestos tinham ficado mais gentis, pois ainda tínhamos nos olhos o maravilhamento de um acontecimento excepcionalque ficaria para sempre gravado na nossa memória. Voltando para o carro, repetíamos as palavras que Dom Giussani havia ouvido de sua mãe enquanto iam à missa numa fresca manhã de março: «Como o mundo é belo e como Deus é grande!»

Massimo e Giuliana, Baltimore (EUA)