À esquerda, Mauro Prina

Mauro Prina. De um interruptor a Marte

A história de um italiano no Vale do Silício: a atenção para a realidade, as perguntas que se abrem a partir de um particular, o compartilhamento com os colegas. «Quando você para no que acha que já sabe, você se descobre à margem de tudo»
Paola Bergamini

Na oitava série, Mauro Prina tinha uma paixão: a máquina de escrever. Fascinava-o a mecânica desse instrumento, que tornava suas pesquisas escolares claras, precisas e organizadas. Ele decidiu inscrever-se no instituto técnico para peritos informáticos, porque um conhecido lhe dissera: «Os computadores são como máquinas de escrever potencializadas». Na época, em 1984, não imaginava que essa paixão o levaria de Baceno, a pequena cidadezinha ao norte do Lago Maggiore, onde morava, a Los Angeles, como diretor de Thermal Synamics da SpaceX, a empresa que Elon Musk, diretor executivo da Tesla Motorsn, um dos homens mais famosos (e um dos cérebros mais afiados) do Vale do Silício, fundou em 2002 para construir veículos espaciais para o transporte orbital de pessoas e coisas. O objetivo é simples: ir para Marte.

Em 1996, depois da formatura de Engenharia Mecânica, Marco Bersanelli, docente de Astrofísica, propôs-lhe ir a Pasadena, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, para estudar o sistema de resfriamento do satélite Plank, cujo projeto ele acompanha. «Naqueles anos, tinha amadurecido em mim a escolha vocacional, de uma dedicação total. E Guido, Memor Domini, estabelecido havia pouco em Los Angeles, tinha pedido que alguém encontrasse», conta: «Bersanelli era um amigo querido, alguém em quem podia confiar. Além disso, o método de pesquisa americano que eu tinha conhecido alguns anos antes na universidade de Chicago me entusiasmava. Enfim, sinais que parecia que o Senhor estivesse colocando na minha frente. Eu aceitei. E principalmente o professor com quem eu estava trabalhando favoreceu esse desejo».

Em Pasadena, por dois anos o trabalho dele esteve focado num interruptor. «Eu tinha escolhido aquele particular porque dentro da equipe de pessoas com quem eu colaborava eu tinha identificado um profissional que conhecia muito bem os materiais. Com ele eu podia conhecer e aprender». Num determinado momento apareceu o problema de uma soldagem. «Com o técnico que estava ao meu lado, começados a falar do problema com mais pessoas. Cada um me dava um elemento a mais para conhecer o assunto. Para mim, na raiz há uma curiosidade pela realidade. Isto porque no encontro com o cristianismo floresceu uma abertura ainda maior para a realidade. Quero descobrir onde o Mistério se faz presente, vem ao meu encontro. O conhecimento torna-se uma aventura até dentro de um particular como um interruptor. Por isso, diante de um problema a primeira pergunta é: eu conheço tudo? O que me falta? O que me diz aquilo que aprendi hoje? Conversando com todos, você recolhe os inputs e começa a seguir caminhos não predefinidos e muitas vezes não lineares. Aliás, às vezes parecem conduzir para fora do trajeto. Como quando você está dirigindo e acha que foi parar numa rua errada, e de repente você está num lugar maravilhoso que de outra forma você não teria visto. Pois então, a solução do problema da soldagem foi encontrada desse jeito. Até descobrindo novos materiais».

Depois do interruptor, a Nasa lhe ofereceu a contratação, e Mauro passou a se dedicar ao compressor. Depois, sua área de competência se expandiu até o ponto de assinar, como responsável do projeto, a documentação técnica de todo o sistema de resfriamento instalado no foguete.

Uma imagem da missão Sacom-1A

Terminado esse projeto, chegou a vez do sistema de resfriamento do rover espacial enviado para Marte, hoje chamado Curiosity. Em particular, as válvulas que precisam manter a temperatura. Como fazer? «A solução estava no chuveiro». Como assim? «Pensei nas válvulas que mantêm a temperatura debaixo do chuveiro mesmo quando se abre outra torneira de água quente. Não fizemos mais que modificá-las adaptando-as para o rover. Se você fica preso no dado técnico, como aconteceu com alguns colegas meus que tinham uma visão materialista da vida, você não consegue captar aquele mais que a realidade está comunicando. Você não consegue conhecê-la, encontrar os nexos».

Em 2007, Mauro decidiu mudar, porque na Nasa parecia que os ritmos de projeto e de trabalho eram lentos demais. No período de um dia, entrevista e contratação na SpaceX: uma start-up visionária para muitos, louca para outros. «Fascinava-me essa ideia que permeava o projeto todo, de que a consciência humana cruzava os limites geográficos da terra. Havia o desejo de dar uma contribuição para que a história do mundo progredisse». O primeiro lançamento positivo foi já em 2007. Mas Musk lançou um novo desafio aos mais de 300 funcionários: para tornar o projeto sustentável, o foguete não pode só partir, mas também precisa voltar, como um navio ou um avião. Na Nasa estavam planejando isso havia quarenta anos. Na SpaceX os passos são muito mais rápidos. Tentam, mudam, aprendem com os erros.

Em 2015, o primeiro estágio do Falcon 9, depois de ter entrado em órbita, aterrissou perto do local de lançamento. Mas o caminho ainda é longo. «Era claro que estávamos embarcando em algo nunca feito antes. Não sabendo o que te espera, o conhecimento do dado precisa ser compartilhado com os colegas da equipe. Isto porque os outros, olhando a mesma coisa, enxergam elementos que estão na frente dos seus olhos e você não reconhece. Querendo conhecer, não se tem medo de errar, de deixar-se ajudar, de arriscar. Quem não tem essa curiosidade cognitiva, pouco a pouco se descobre à margem de tudo, como acontece também comigo quando fico parado no que acho que já conheço. E nesses casos é só uma questão de tempo para você estar de fora».

O lançamento do foguete Falcon 9 na missão Sacom-1A

Neste verão europeu, a SpaceX vendeu a primeira passagem sideral. Yusaku Maezaa, empreendedor japonês, comprou para um grupo de artistas uma viagem ao redor da Lua, com a finalidade de ver o que isso vai produzir na inspiração deles. E ele rebate: Vocês se dão conta? Uma pessoa gasta rios de dinheiro para outros poderem inspirar-se para criar algo de bonito! Que haja uma pessoa assim mostra como o homem é grande, para que coisa tende».

Num projeto desse tipo, o envolvimento é total. Mas não basta. As dificuldades aparecem e às vezes as motivações iniciais, o fato de colaborar num grande empreendimento, diminuem. Dois colegas que Mauro tinha contratado pediram demissão e lhe disseram: Queremos mudar para reencontrar aquelas motivações. Gostaríamos de viver com o prazer que você ainda tem. «Eu ainda sinto prazer porque todo dia, na medida em que tenho consciência, quero descobrir o que há de novo do meu dia. Por isso preciso que o Senhor se faça presente, venha me encontrar: nas Laudes, no trabalho, nas relações».

Um dia, um dos chefes dele disse: De onde vem esse seu gosto por conhecer? Muitos outros o perderam. Mauro lhe contou a sua história. No fim: «Em alguns dias volto para a Itália para encontrar meus amigos. Onde tudo nasceu». E o chefe: «Ok. Vou com você».