República Tcheca. Quando tudo muda
As palavras de um artigo, a nova vida no exterior, o marido e os filhos que achamos que já conhecemos bem... Claudia conta o que, em sua experiência, resiste aos muitos desafios da vida. Da Passos de julho“Numa terça-feira de maio, encontrei, no Site de CL, um artigo sobre a assembleia dos responsáveis europeus em Cracóvia. O texto se iniciava com estas palavras: ‘O cansaço da vida cotidiana, a aridez que sempre volta’. Isso me fulminou! Como assim? Aconteceram os Exercícios da Fraternidade, passou a Páscoa, mas a base da vida é sempre aquela!”. Exatamente como padre Carrón tinha explicado em Rímini: você está em um momento difícil (A); encontra algo que o move e faz você dar um passo à frente (B). Mas dura pouco e se encontra como antes (A).
A italiana Claudia Piccinno não estava presente em Rímini, mas acompanhou tudo por videoconferência em Esztergom, Budapeste. Ela vive em Praga há cinco anos, com o marido e os dois filhos. Uma vida em CL, desde 1985, quando conheceu padre Paolo Bargigia na escola, em Florença. Com a nova vida no exterior, “precisei mudar tudo”, conta hoje. “Deixar o trabalho como advogada, cuidar dos meus filhos em tempo integral, estudar uma língua difícil…”: as coisas normais, cotidianas, tornam-se complicadas se até comprar pão é uma prova. Mas “eu quero ser feliz ali, nas situações banais da vida”, afirma.
A contribuição de Claudia foi uma das cartas lidas por Carrón na meditação de sábado de manhã durante os Exercícios. “Como é que Tu resistes, ó Cristo, ao impacto da passagem do tempo, como é que resistes no meu casamento, com os amigos, na relação com os filhos que crescem, nos desafios da vida diária, nos medos que me afligem, nas coisas de que antes eu gostava tanto e que agora me deixam quase indiferente?”, havia escrito. E havia contado sobre uma amiga com câncer que havia lhe confiado: “Do meu casamento, eu espero que Deus ainda faça acontecer grandes coisas”. Claudia, ao contrário, diz: “Eu me dei conta de que, no ‘meu belo casamento com tudo em ordem’, eu já não esperava mais aquelas grandes coisas que Deus poderia fazer”. Contudo, conta, “retomar a tenacidade de um caminho” (palavras de Giussani na Jornada de Outubro) fez com que ela e seu marido iniciassem a caritativa em Praga, entre os doentes de um hospital.
Aquelas duas horas por mês colocaram, novamente, “Jesus entre nós”: “Meu marido é muito diferente de mim e quanto mais anos passam, mais eu descubro que, na realidade, não sei ‘quem ele é’. Estamos juntos, somos casados, mas cada um tem o seu relacionamento pessoal com o Senhor. Espalhar o creme sobre a pele frágil do doente nos fez perceber que temos em comum o desejo de seguir a Cristo, através da companhia que nos uniu há tantos anos”.
Os Exercícios, e depois o artigo sobre o encontro em Cracóvia, a recolocaram em um trabalho. “Iluminaram o que aconteceu depois”. Na tarde daquela mesma terça-feira, ela tinha reunião sobre a turma de um de seus filhos. “A professora disse para mim e aos pais dos dois piores alunos da classe que aguardássemos um pouco. Eu fui ali achando que não havia nenhum problema… Ela diz: ‘Já faz um tempo que estes três tiram sarro pesadamente de uma garota da classe, beirando o bullying. Nós os enviamos para o diretor, envolvemos o psicólogo, é uma situação ruim, com risco de suspensão’”. Claudia se sente afundando. “Você acha que conhece bem os filhos, e descobre que são totalmente diferentes. O que eu tinha ensinado a esse menino... com todas as tentativas de mostrar o bem?” Pensa sobre o que ouviu em Rímini, nas páginas sobre as quais está trabalhando com a Escola de Comunidade e onde tinha lido na Introdução: “Quanto mais tento controlar, quanto mais guardo para mim, menos se salva, menos renasce. Sei que tenho que aprender a oferecer justamente o que mais faz mal, o que eu não posso consertar e, no máximo, consigo esconder, como a gente faz com a sujeira embaixo do tapete”.
Ali, na escola, junto com as mães dos “piores”, tem um flash: tudo aquilo que se vive “é ocasião para entrar na familiaridade contigo, Cristo, e ali, naquele instante, Ele ressuscitou para mim. Escutei os professores, disse aquilo que tinha para dizer, e em casa, ao meu filho, demos uma grande bronca, mas pude olhá-lo em sua totalidade e não por causa do erro que ele havia cometido, porque havia um Outro que estava olhando para ele através de mim. Eu estava em paz. À noite, eu disse: esta é a ‘esperança que está em mim’. Existe: e é poder estar em relação com Ele, esperando para vê-lo ressurgir novamente”. A cada momento.
(Texto inicialmente publicado na Revista Passos, julho/2019)
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