A CN Tower de Toronto

Canadá. «Deixa que eu vou»

Toronto, Montreal, Winnipeg… Em um ano difícil, a surpresa de uma nova vitalidade, que tem sua origem no caminho da Escola de Comunidade
Paola Bergamini

«Não, sinto muito, mas eu não vou.» A resposta de Kristina, fisioterapeuta do Hospital St. Mary em Montreal, é categórica. O pedido da direção do hospital é ir trabalhar em um asilo para idosos. «Eles estão quase todos infectados. Não quero ficar doente. Além disso, eu não sou enfermeira», ela pensa. A situação piora, há escassez de pessoal, e alguns dias depois o mesmo pedido é feito a uma de seus colegas, mãe de dois filhos. A mulher chora, está com medo, e Kristina, quase sem perceber, diz: «Deixa que eu vou». Três semanas para cuidar, nas necessidades mais básicas de limpeza, os hóspedes da casa residencial de idosos. Não é o trabalho dela, mas «trocar fraldas é a coisa mais “abençoada” que já aconteceu comigo», ela usa exatamente palavra “abençoada” na conexão da Escola de Comunidade. «Eu não parei na ideia que eu tinha, eu vivi dando tudo de mim mesma, ao ponto que chorei quando saí. Uma experiência que me surpreendeu. É uma vida nova que tem sua origem aqui mesmo agora.»

Esse “aqui” é a reunião da Escola de Comunidade. «Neste ano», diz John Zucchi, responsável do Movimento no Canadá, «vi em nossa comunidade uma fidelidade e uma riqueza de histórias que me surpreenderam. Todo mundo tem a urgência de estar presente, para ir até o fundo de sua necessidade neste período tão especial. Aqueles que vinham esporadicamente, agora não perdem uma reunião on-line. O que está em jogo é o significado da vida. Toda sexta-feira eu pareço ser como os apóstolos, tanto é a expectativa do que pode acontecer. Essa vivacidade gerou uma nova forma de estar no cotidiano, uma atenção à própria humanidade e à daqueles que se encontram. Tornamo-nos – quase inconscientemente, deve-se dizer – transparentes, testemunhas daquele “algo mais” que o encontro com o cristianismo doa. E então vamos tentar contar isso».



Cristiano, memor Domini, oncologista, está tratando uma senhora romena que vive sozinha. À medida que o mal avança e o sofrimento físico cresce, Cristiano pede a Paula, da Fraternidade São José, para visitá-la. «Eu te aviso, ela não tem um caráter fácil, às vezes ela é até agressiva, mas precisa de alguém para estar com ela», ele lhe diz. E assim Paula aparece na casa da senhora toda semana. Um dia, ela lhe traz uma garrafa térmica de café. A mulher pergunta quase com raiva: «Por que você faz tudo isso por mim? Por que você é assim?»

Entre os pacientes de Cristiano está também Ernesta, uma judia ortodoxa italiana. Durante uma consulta, a senhora lhe confidencia: «Eu não tenho parentes aqui no Canadá. Sei que o fim está se aproximando e gostaria de poder encontrar um rabino. Se por acaso o senhor conhece um…» Não, ele não conhece nenhum, mas entre seus amigos da comunidade está um casal, Joel e Nathaly, ele é judeu. Ele liga para eles naquela mesma noite para perguntar se podem entrar em contato com a mulher. «Só para dar a ela o nome de um rabino», diz. Mas Joel não pensa apenas em procurar. Quando a condição de Ernesta piora, ele vai visita-la junto com Annamaria, memor Domini que trabalha no hospital onde está internada. Poucos dias antes de morrer, a mulher diz a Annamaria e Joel: «O rabino veio. Estou em paz. Mas há uma coisa que eu quero lhes dizer: o Céu existe e nós três nos encontraremos lá».

Marco se agacha na frente do homem deitado no chão. Dá um tapinha no ombro dele para acordá-lo. «Isto é para o senhor» e lhe dá um saquinho quente. Uma vez por mês, muitos jovens e adultos da comunidade caminham pelos corredores do metrô de Montreal e de Toronto para levar uma refeição quente aos sem-teto que buscam refúgio no subsolo quando a temperatura cai vários graus abaixo de zero. Em casa as famílias preparam os pratos, que são então colocados em recipientes e montados em sacos com água, talheres, guardanapo. «Isso também é resultado da “vida” da Escola de Comunidade», explica John: «Eram poucos no começo e agora são mais de vinte».

Há 15 anos, Vicente mudou-se para o Canadá com a esposa do Paraguai, onde conhecera CL. Primeiro eles se estabelecem em uma ilhota do Pacífico, depois em Toronto e finalmente em Winnipeg. Sempre foi só ele e outro amigo Mik, que chegou há três anos. «Este ano nunca faltou uma conexão», continua John: «Fico sempre emocionado ao ouvir suas intervenções, porque coloca no centro a necessidade que ele sente de viver com profundidade. E nisso ele conheceu as cinco pessoas que agora acompanham a vida do Movimento em Winnipeg com ele. Isso me lembra da minha história com Giussani, quando voltei da Itália para Montreal e na comunidade éramos… quatro gatos. E comunicávamos pelo telefone. Eu revivo o mesmo frescor dos primórdios».

Parada no passeio, batendo os pés pelo frio, Paula olha para o relógio. Está na hora. Ela abre a porta e no limiar da rua aparece Cecília: «Oi, como vai?», ela lhe diz levantando a voz. Falam por dez minutos, tanto quanto a temperatura permite. Com o confinamento, na verdade, no Canadá não é possível ir para a casa de amigos e parentes (a não ser que se trate de idosos, sozinhos ou doentes).

«Visitar amigos na frente da casa parece uma coisa pequena», conclui John, «mas representa a nova vitalidade nascida este ano. O desejo de compartilhar a vida. Um desejo tal que, mesmo que para o trabalho você esteja o dia todo ligado ao vídeo, não desiste de se conectar à assembleia, ao grupo da Fraternidade, à Escola de Comunidade com Carrón… Não se trata de ouvir “palavras”, mas é a vida que urge. E é assim que ela se comunica ao mundo».