Façam como o Martim: perguntem porquê!

Fim de semana em Ferreira do Zêzere com os Youngzillion, família e amigos, a fazer perguntas sobre a vida.
Maria Seabra Duque

“Acho que devemos refletir muito sobre o testemunho do Martim” – assim começou a primeira intervenção da “assembleia final” do fim-de-semana passado em Ferreira do Zêzere. “Ele tinha tudo e sentia um vazio” – continua o Vítor – “Antes, como era a vossa vida? Tinham amigos assim? Há uma diferença entre antes e agora na nossa vida? Eu acho que sim!”.

E avança um diálogo aberto, vivo, sem “formalidades” mas totalmente determinado pelo entusiasmo e pela alegria do que se viveu juntos naqueles dias, em que cantámos, rezámos, fizemos uma caminhada... É uma “assembleia” improvisada, sem pretensões nem esquemas, proposta com o único objetivo de não se perder a experiência feita juntos. Este desejo de não perder nada é fruto do carisma de don Giussani, que, sem esperar convite, já encontrou lugar nestas vidas, em que entrou pelo desejo do Carlos Miguel Cruz de propor o que vivera, muitos anos antes, no “Rainha” com os Liceus, com amigos que se reencontraram e outros novos que se juntaram.

Estamos em Ferreira do Zêzere, numa casa que alberga uma fundação local e aloja os grupos que lá quiserem ir. Neste fim de semana de Maio, acolhe os Youngzilion, jovens praticantes de Jiu Jitsu, seus mestres, suas famílias e alguns amigos, num total de pouco mais de 30 pessoas, dos 2 aos 52 anos.

Já é o segundo ano que este grupo se junta neste lugar para passar alguns dias juntos, respondendo ao desejo de uma amizade que não se limite ao “combate” do treino e competição, mas que faça entrar uma proposta maior na vida, um interesse maior pelas coisas, que agora parece não ter limites: “não ser só jiu jitsu, mas vivermos também fora”, pede a Lygia.

“Muitas vezes somos como robots, as coisas do dia-a-dia passam, e não pensamos porque é que fazemos as coisas” – diz o Wilson, que veio pela primeira vez – “É bom ver que da Youngzilion também fazem parte estas coisas”!

E “estas coisas” são já uma história considerável. Começou com a amizade com o Carlos Miguel Cruz, a Zoé e o Martim, que conheceram este grupo, e em especial o Bruno Borges (Tchola), por uma dor familiar terrível, destinada a dar muitos e grandes frutos, para lá do que se poderia imaginar. E, depois disso, o grupo de estudo e explicações que a Zoé começou, para que os estudantes não descurassem as notas: um grupo que se junta para estudar duas vezes durante a semana e ao sábado à tarde, agora acompanhado por universitários e jovens trabalhadores. E a seguir, indo atrás do desafio do Padre João depois da missa celebrada por um grande amigo, o William, que morreu inesperadamente, "apareceu" o grupo que se preparou com a Sofia para fazer o Crisma e agora canta uma vez por mês na missa de Domingo da Igreja da Encarnação ao meio-dia, com a ajuda da Zoé. E ainda a ida a Roma ao Papa, num Jubileu da Misericórdia que nos levou das “periferias”! E depois disso, porque era demasiadamente grande o que se tinha encontrado, começaram os encontros de escola de comunidade para os “mais velhos” e de catequese para os "mais pequenos" (que se preparam para a Primeira Comunhão), depois do treino de sábado de manhã. E agora, e já pela segunda vez, Ferreira do Zêzere!



Chegámos sexta-feira, acomodámo-nos, jantámos juntos e tivemos uma noite de testemunhos. “Foi a minha parte preferida – diz a Rossana, na assembleia – especialmente o do Martim”. Ao contrário do Martim, “nunca tive dúvidas – deixa claro a Rossana – mas desde que começámos com este grupo mais inserido na parte católica, comecei a pôr-me mais questões”.

O Martim Ferreira foi um dos amigos que neste fim-de-semana se “juntou” e passou a fazer parte desta história! Com a Madalena, vieram de Lisboa para que o Martim contasse a maneira como, no encontro com os amigos que levavam a sério as suas “perguntas mais profundas”, foi obrigado a rever a sua posição de ateu decidido a não acreditar em Deus. “Estava com uma grande amiga minha, que até foi minha madrinha de Crisma, e estava-lhe a dizer: eu tenho tudo, pá! Tenho tudo para ser feliz! E, no entanto, chego a casa, e é aquele silêncio… e percebo que afinal não sou assim tão feliz como achava…. E esta minha amiga respondeu: olha, se calhar é Deus que te falta…”. Do “isso não é possível!” ao reconhecer como “a vida é que me converteu”, esteve no meio a amizade e seguimento simples de uns amigos “que agora percebia porque é que eram tão felizes”: “foi o reconhecimento de uma felicidade que não encontrava em mais lado nenhum”.

Depois do Martim, falam a Daniela, o Bernardo e a Lygia, três atletas Youngzilion que no fim de semana anterior se juntaram ao grupo de 2.000 jovens do “Eu acredito” que caminhou para Fátima ao encontro do Papa, com a professora Luísa e alguns Liceus. Contaram do caminho, longo, de sete horas, mas sobretudo como conheceram pessoas novas, em especial um seminarista que, numa altura “em que ninguém queria falar com ninguém, só queríamos ver o fim àquela caminhada”, em vez de ficar fechado em si mesmo, “chegou ao pé de nós e começou a falar assim de repente”: perguntou como é que tinham chegado lá e “começou a contar a história dele”. A Lygia conta também como nunca deixou de acreditar, “simplesmente, ganhei mais fé em mim”, quando encontrou quem a olhava com uma “positividade” nova sobre si.

Sábado de manhã chegam mais amigos (o Tiago, a Catarina e a Teresinha) e partimos para uma caminhada, que nos levou a uma praia fluvial e piscinas junto à barragem e uma tarde de canoagem, na qual já contamos com o Tonico, a Susana e os seus quatro filhos.

Entretanto, os trabalhos domésticos – fazer o jantar, arranjar as sandwiches e os sacos para o almoço, lavar a loiça e arrumar tudo no fim – foram distribuídos e feitos por todos, com o mesmo entusiasmo com que se andou de canoa. E é surpreendente este gosto em fazer coisas que geralmente custam, como se admite, no fim: “Gostei de fazer as sandes, por fazer trabalho de equipa”. Explica o Ivan: “é melhor que sozinho…!”.

Nesta assembleia final, não se quer perder nada do que aconteceu! “Foi bom!” é a expressão mais vezes usada por todos. “Obrigada, Tomás, por me teres convidado!”, desabafa o Ivan, e a Sofia não deixa passar: “o sinal da experiência verdadeira é estar gratos”. E acrescenta “o porquê é a pergunta humana! Do homem grande”! E deixa o desafio para todos: “Disseram: foi diferente, foi especial, foi como uma família e uma amizade diferentes. Quando forem embora, façam como o Martim: perguntem porquê! Porque é que esta amizade é diferente? Porque é que parece uma família? Que cada um se pergunte: porque é que me dá gosto?”.

"Tijolo sobre tijolo" (como cantámos nestes dias), o caminho não acabou, está agora a começar e, como dizia a Rossana, “espero para o ano estar aqui outra vez”! Para seguir, como a Lygia contava, aquela positividade sobre si que faz querer recomeçar de novo, levando estas perguntas, que trazem novos amigos, até que sejam nossas, para sempre.