Silvano Petrosino (©Franco Lombardi)

O risco do lar

A família, insubstituível e frágil. O lugar da liberdade e da geração, que nos coloca diante de uma alternativa radical: segurança ou fecundidade? Entrevista com o filósofo Silvano Petrosino
Giuseppe Frangi

«A família é uma “invenção” humana, e agradou tanto a Deus que Ele decidiu usá-la para si. Tornou-se homem, cresceu e viveu dentro de uma família.» Silvano Petrosino é filósofo, professor de Teoria da Comunicação e Antropologia Religiosa na Universidade Católica, muito querido por seus alunos por sua capacidade de trazer as grandes categorias do pensamento para o nível da experiência de todos. Dado que pedimos a ele que desenvolvesse uma reflexão sobre a família, por coerência e completude, acrescentamos que ele é casado com Loredana, tem dois filhos e um neto. A frase citada acima sobre Deus e a família foi dita durante a entrevista e, lendo-a, vamos descobrir qual é o valor que Deus agregou quando se encarnou naquele cantinho do mundo que era Nazaré. Mas, para começar, não podemos deixar de citar algumas questões doloridas: a crise, a fadiga, a fragilidade com que a família se defronta atualmente.

Como o senhor sempre diz, é bom partir da história. E hoje, do ponto de vista da história, a família é um sujeito que se tornou muito frágil. Quais são as razões disso?
Vamos começar deixando claro um conceito: a família é uma invenção humana. É uma instituição projetada para responder a exigências fundamentais. Por exemplo, não podemos negligenciar sua função biológica: o homem é um “animal” que nasce muito prematuro, uma vez que antes dos quatro anos não adquirimos um nível suficiente de autonomia. Para fazer uma comparação, a gazela recém-nascida já é capaz de correr. Nós, ao contrário, precisamos de muitos cuidados. E a família é o âmbito que garante esses cuidados. Também precisamos pensar que no passado a mortalidade infantil era muito alta, e a família foi o reduto insubstituível que protegeu as novas vidas e permitiu que a humanidade crescesse e se espalhasse. A partir dessa função fundamental, depois, a família desenvolveu outras capacidades imprescindíveis: é o lugar onde as relações são cultivadas, partindo da relação de gênero – entre homem e mulher –, passando pela relação entre as gerações – entre pais e filhos –, chegando às relações entre diferentes clãs.
De fato, a família não é um organismo fechado, mas através do matrimônio ela sempre se abriu a alianças, muitas vezes até com um inimigo. Durante muitos séculos as pessoas não se casavam por amor… Em suma, não haveria sociedade humana sem a família, esse instrumento de contenção dos impulsos destrutivos, cuja eficácia não tem rival.



E o que mudou, hoje?
Pela primeira vez na história, o homem pode gerar sem uma relação entre homem e mulher. O filho se tornou um “direito”; então, se você quiser ter um, pode fazê-lo sozinho. Desse modo, a família pode muito bem ser substituída por agências que garantem a realização do seu desejo e dão suporte em tudo o que decorrer disso. Além do mais, há uma vulgata dominante no meio cultural e midiático que insiste no fato de que hoje somos muitos e precisamos ser menos. Assim, também a função de assegurar a continuidade do gênero humano simbolicamente perde importância. Lembro-me do episódio bíblico de Agar, a escrava egípcia que teve um filho com Abraão para garantir a continuidade da estirpe, já que sua esposa Sara era considerada estéril. Quando Sara, mesmo em idade avançada, deu à luz Isaac, Agar foi condenada a morrer com seu filho Ismael no deserto. E, neste momento, Deus interveio, salvando-a e garantindo a realização da profecia segundo a qual Abraão seria “pai de uma multidão de nações”. Deus não é rígido, muda de lado, sempre abre novas perspectivas…

O senhor introduziu o tema de Deus. Deus que ouve o grito de Agar. E Deus que, para se fazer homem, não usa efeitos especiais, mas se insere numa família de Nazaré…
Sim, porque, se é verdade que a família é uma invenção humana, é ainda mais verdade que esta invenção agradou a Deus. Não havia maneira mais clara de expressar seu consentimento do que dizer «virei ao mundo ali». Mas, ao escolher para si a família, Deus introduziu um novo fator: a ideia de amor, que encontra sua quintessência na relação entre José e Maria. Houve um precedente com Jacó, que, por amor, pediu a Labão para se casar com Raquel, que era estéril e não era a primogênita, como Lia. Biblicamente, o símbolo perfeito da relação homem/Deus é realmente a relação homem/mulher…

Porém amor também significa eros.
Certamente. Sempre gosto de enfatizar que Deus criou o hormônio que desperta a atração. Mas depois precisamos reconhecer que isso também contém um prenúncio que vai além da atração e nos permite dar outras formas ao amor. Acho maravilhoso o exemplo de Filomena Marturano, de Eduardo De Filippo, que, por amor, usa da astúcia e do engano e, no final, obtém sucesso no objetivo sacrossanto de forçar Domenico Soriano a se casar com ela, sem revelar a ele quem, entre os filhos, é seu filho verdadeiro. «Filhos são filhos… E são todos iguais…», lhe diz. Ele é o pai de todos.

Neste período, o imprevisível irrompeu em nossas vidas. A família é tal quando é capaz de acolhê-lo?
Sim. No entanto, hoje prevalece a metafísica da segurança. Para me explicar, gosto de falar da distinção entre casa e lar. Casa é o edifício e deve garantir padrões de segurança, pois é justo pretender viver numa ordem. Então, podemos deixar a casa em segurança. Mas não podemos pretender fazer o mesmo com o lar, que é o lugar dos laços. A pretensão de ordem e segurança pode ser, de fato, um obstáculo ao desenvolvimento humano. Por exemplo, o ato de apaixonar-se não pode ser salvaguardado através de dispositivos técnicos, mas depende da sua liberdade, porque cada relacionamento carrega um componente de drama. E nós devemos aceitar o risco. No fundo, o que realmente queremos? Ser amados livremente, mesmo à custa de correr um risco. Se você pedir sua companheira em casamento, deve levar em conta que ela pode dizer não. Não existe uma poção mágica…

Dom Giussani sugere uma pergunta “de origem”: para que um homem e uma mulher se tornem pai e mãe «é preciso um olhar diferente entre eles». Você se reconhece nisso?
Com certeza. Vou tentar reformular: no horizonte do lar, eu preciso aceitar que o outro seja “outro”; devo reconhecer o seu mistério, no sentido de que tem seus sonhos, suas feridas e seu inconsciente. Muitas vezes, no dia a dia, na vida doméstica, chamamos de desordem o que, na realidade, é a ordem do outro. Não podemos ter nenhuma pretensão sobre o outro: aceitar que não podemos calcular o outro é a única condição para que uma relação seja autêntica. No entanto, muitas vezes acontece que, quando percebo que o outro traiu minha expectativa, tento eliminá-lo. Mas, nestes casos, não foi o outro, ou a outra, que falhou. Fui eu que fiz da minha expectativa uma pretensão. E, dessa forma, privilegio a segurança em detrimento da fecundidade.

Em que sentido?
O homem está constantemente em busca de algo estável, seguro, de um fundamento. É a ideia da verdade como certeza, como acontece, por exemplo, com a verdade da ciência: algo absolutamente certo, absolutamente seguro, incontestável, sobre o qual se apoiar. Na verdade, o homem é chamado a fazer outra experiência, mais profunda: a experiência da fecundidade. Na Bíblia, a promessa que Deus sempre faz aos homens nunca é a de uma certeza, mas a de fecundidade. «Tornar-te-ei fecundo». A característica da fecundidade é que você não é o dominus, você participa do processo, mas o resultado não depende só de você e, sobretudo, você não pode possuí-lo. Além disso, voltando ao tema, se dentro de uma relação nos perguntamos qual é a verdade do nosso amor, só podemos responder indicando a fecundidade que o marcou nas muitas formas com que ela pode se manifestar.

Às vezes, apelamos aos valores como a salvaguarda para que a família se mantenha. O que o senhor acha?
Os valores também correm o risco de ser uma palavra mágica. O valor, de fato, não está no início de uma relação, mas se impõe quando a relação é verdadeira e é vivida. O mundo católico caiu nessa armadilha, porque não entendeu o tema da liberdade na sua grandiosidade privilegiando a primazia da obediência, que muitas vezes resultava em subjugação. Há duas formas de trair as leis: ou desobedecendo ou limitando-se a obedecer de modo mecânico, na lógica do «eu sempre faço só o que você diz». Como Jesus sempre repetia aos fariseus sobre textos sagrados: vocês leem, mas não entendem, limitam-se a aplicar a lei de modo mecânico sem pôr em ação o pensamento, sem entender o significado. Mas, se você não pensa, não consegue ter uma atitude de respeito, no sentido etimológico do termo: ou seja, não sabe olhar por trás. Então, não entende nem o significado dos valores. Voltando à experiência recente da pandemia e do fator “imprevisível” que fez irromper em nossas vidas: se o vírus nos atinge e estamos sozinhos, ele nos destrói, torna-se terrível. Se nos atinge dentro de um vínculo, ele continua sendo terrível, mas podemos considerar resistir ao seu impacto. A família é o vínculo que permanece crível justamente pelo fato de ser uma “história”, antes mesmo de ser um conjunto de valores.