As palavras não bastam
Para explicar à família o encontro com CL, Misha, da Bielorrússia, leva trinta amigos a Gomel. Saiba o que aconteceu naqueles dias e as perguntas que nasceram deste evento. "O que significa seguir um carisma católico?"Misha estuda Teologia em uma universidade ortodoxa de Moscou e está escrevendo uma tese de doutorado sobre a pedagogia de Dom Giussani. É de Gomel, segunda cidade da Bielorrússia, com meio milhão de habitantes. “Volto ali duas ou três vezes por ano para ver minha família e meus amigos”, diz. “Eu lhes contava que conheci amigos italianos católicos, tentava explicar, mas na cabeça deles não havia nenhuma imagem precisa”. Decidiu, então, utilizar a Mostra sobre o Metropolitano Antonij di Suroz, organizada para o Meeting de 2015, para falar do encontro com o Movimento e da novidade que entrou em sua vida.
Essa Mostra é uma das muitas iniciativas que nasceram da “Comunidade itinerante”, o grupo de católicos e ortodoxos que seguem a experiência de CL em diversas cidades da Rússia, Bielorrússia, Ucrânia e Itália. Misha pergunta se alguém pode ir com ele explicá-la. E o que acontece ali em Gomel, na segunda metade de outubro, é algo que marca a todos. Os jovens ortodoxos percebem não apenas que encontraram um modo apaixonante de viver a fé, mas que se trata de uma experiência comunicável também dentro da sua Igreja.
“Uma semana antes, chegaram Aleksandr Filonenko, de Carcóvia e Dmitri Strotev, de Minsk para um encontro de apresentação da Mostra”, conta Misha: “E Filonenko disse: ‘Preparem-se, porque a companhia de amigos que vai chegar lhes mostrará a verdadeira origem dessa Mostra’”. De fato, chegam trinta jovens entre 18 e 25 anos, da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. Não fazem nada de especial. No entanto, o que dizem, como dizem e, sobretudo, como ficam juntos, toca alguns.
Misha trouxe, além da namorada Anja e do inseparável Roman, também Angela. Ela não sabe o que é CL. “Não tinha nada a perder, então, disse sim ao convite deles. Em Gomel fazíamos turnos para explicar a Mostra: no resto do tempo, passeávamos e ficávamos juntos. E uma noite, enquanto cantávamos, experimentei uma felicidade tão grande que não conseguia explicar de onde vinha. O que me tomava desse modo?”.
Angela participa da Assembleia que Misha organizou para encerrar o fim de semana em Gomel: “Estava junto com aqueles novos amigos. E naquele momento me perguntei: se este não é Deus, o que é, então?”. Começa a frequentar a Escola de Comunidade: “Não sabia nada do Movimento e de Dom Giussani, mas pensei que se aquela estranha felicidade está ligada a eles, não posso não ir até o fundo para entender. Deus começa a responder assim às necessidades da pessoa e ela não pode continuar a viver como antes”.
Slava, o irmão mais novo de Misha, também está na Assembleia. “Eu o repreendia pela música que escutava, criticava suas escolhas e o convidava, de modo moralista, para ir à igreja. E ele me dizia para deixá-lo em paz”, explica Misha. Naqueles dias, porém, a casa está cheia de gente e Slava não consegue se afastar. Durante a Assembleia, Slava diz: “Sempre pensei que eu era muito ruim para ser crente. Porém, estando com vocês, de repente vi que não sou assim”.
Misha volta para Moscou com o coração pleno. “Minha família e meus amigos viram com os próprios olhos o que sempre tive dificuldade de explicar com palavras”. Depois, Anja conta a surpresa que viveu: “Percebi que, ali, vi que estava acontecendo a mesma beleza que normalmente acontece entre nós em Moscou. Mas éramos apenas nós, os estudantes. Até aquele momento não tinha entendido de que modo a nossa comunidade estava ligada ao Movimento. Pensava que a alegria nascesse da possibilidade de estar com pessoas especiais. Em Gomel, ao contrário, fomos nós que levamos aquele algo tão extraordinário. Estava reacontecendo conosco e através de nós. Começa a ficar claro para mim que se não fosse Dom Giussani, tudo isso não teria acontecido”. Brotou nela o desejo de entender realmente o que lhe aconteceu no encontro.
Dessa exigência que nasceu o projeto de uma Mostra sobre Dom Giussani visto “com os olhos dos ortodoxos”. A “Comunidade itinerante” se moveu rapidamente dividindo-se em grupos: Minsk, Moscou, Carcóvia, Kiev e Milão. A primeira fase do trabalho é que em cada uma das cidades se discuta sobre uma série de textos fundamentais de Dom Giussani.
A Mihail, coube apresentar um texto de título “A razoabilidade de começar”. Ele tem 20 anos, e trabalha como garçom. Diz: “Giussani explica que é razoável começar um caminho que não conhecemos para seguir algo belo e verdadeiro que nos aconteceu. Se não o seguimos, contradizemos a nós mesmos. Foi o que aconteceu comigo. Não entendo tudo, não sei o que vai acontecer. Mas não posso não ir atrás daquilo que me aconteceu”.
Lydia, de Kiev, trabalhou sobre o tema da obediência. Uma questão polêmica entre a Igreja ortodoxa e a modernidade, visto que a pastoral é centrada no relacionamento pessoal entre fiéis e sacerdote. É preciso fazer sempre o que o padre espiritual diz? E, se sim, por quê? “Depois de anos na Igreja, tornei-me alérgica a estes temas. Ao contrário, aqui se fala da ligação necessária entre amizade, liberdade e obediência. Maravilhoso. Giussani devolveu-me uma palavra muito cara a mim”. E Lydia disse isso também ao seu padre espiritual!
Em Moscou, os curadores da Mostra encontraram-se com padre Carrón, que estava ali para a Assembleia de Responsáveis de CL, que aconteceu no mês de março. Um aumento de consciência através de muitas perguntas. “De onde nasce a nossa história?”. “O que é realmente CL?”. “O que significa para nós, ortodoxos, seguir um Movimento católico?”. E também: “O que quer dizer, para CL, que nós, ortodoxos, nos reconheçamos dentro do carisma?”. E sobre este ponto, o responsável de CL respondeu: “Guardo a pergunta. Quero responder continuando a amizade com vocês. É somente na experiência que se entende aquilo que nos acontece. Tenho certeza de que nos ajudarão a compreender mais, com sua sensibilidade, o dom que nos foi dado com o carisma de Dom Giussani”.