Fazei com que eu viva feliz

«Qualquer tipo de humanidade pode ser conquistada por Cristo». O testemunho da Fraternidade São José, que acolhe homens e mulheres chamados à virgindade na experiência do carisma de Dom Giussani, dentro das condições em que estão
Paola Bergamini

Giovanni enfia as luvas, pega a vassoura e, como toda manhã, faz um gesto de revolta. Formado, com certeza não era este o trabalho que gostaria de exercer: operador ecológico. Ou gari, na prática. Como toda manhã, reza uma Ave Maria e diz: «Tudo por vós, ofereço-vos tudo». Só então o dia começa de verdade. As orações prosseguem, enquanto recolhe os recicláveis e esvazia as lixeiras. No fim do turno, feliz, pensa: «Limpei um pedaço do vosso Reino, então fiz uma coisa importante. Ver a cidade limpa me faz pensar em vós, ó Deus, que a quisestes assim». De onde nasce essa consciência? Giovanni, tendo às costas uma vida rica de dificuldades e derrotas, deu a explicação no retiro de Advento da Fraternidade São José: «A vocação à virgindade é relação com Ele e só! Permite ficarmos mais atraídos pelas coisas, impele-nos a ver mais além das coisas em si». É a plenitude da vida até no meio do lixo. Pois a São José, no fundo, é apenas isto: uma Fraternidade que acolhe e ajuda homens e mulheres que, a certa altura da existência, o Senhor chama à virgindade. Uma radicalidade do relacionamento com Cristo como vocação, dentro das circunstâncias da vida.

Esta foi a intuição original de Dom Giussani. Em meados dos anos oitenta, com efeito, algumas pessoas lhe tinham expressado o desejo de dedicar-se totalmente a Cristo, mas por situações familiares, de trabalho ou por outras razões não haviam entrado nos Memores Domini. Dom Giussani indica então como fundamentais para a identidade da São José: «Uma certa escolha e gosto pela oração; um esforço de entreajuda. Uma fidelidade ao reconhecimento da presença do Senhor. Esta escolha faz com que se perceba a vida no seu cansaço, nas suas dores, como testemunho de Cristo no mundo, quer dizer, uma exaltação missionária do sentido da vida. É o conteúdo do Batismo levado às suas últimas consequências», como se lê num trecho citado em Luigi Giussani: A sua vida, de Alberto Savorana.

Nestes trinta anos, aquele pequeno grupo foi crescendo pouco a pouco. Hoje são no mundo cerca de seiscentas pessoas que, permanecendo nas próprias circunstâncias pessoais e de trabalho, consagram sua vida a Cristo, conforme os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. «A fonte viva da qual bebemos é o movimento de CL», explica Pe. Michele Berchi, que desde 2009 guia a São José. «Por isso a autoridade última, reconhecida como essencial para a própria vocação, é hoje Pe. Julián Carrón, como antes tinha sido Dom Giussani. Quanto ao resto... não há “forma”».

Toda história é o testemunho de como qualquer tipo de humanidade, em qualquer momento da vida, pode «ser conquistada por Cristo, e conquistada até as entranhas. Por isso é maravilhoso ver isso no Evangelho e também em vocês», como disse Pe. Carrón no último retiro. Aliás, muitas vezes, justamente quando se toca o fundo, quando só permanece o fracasso, o desespero ou a resignação, o Senhor chama de modo simples e claro, inequívoco. Exatamente o que aconteceu com a Samaritana e com Zaqueu. Assim como São José, que silenciosamente cuidou de Nossa Senhora e a amou, cada um deve viver dentro da própria condição de viúvo, separado ou divorciado, ou simplesmente continuando a viver sozinho.

Aos 19 anos, depois da morte do pai, Laura rompeu com a Igreja e passou a ter uma série de relacionamentos, até com homens casados. Uma vida dissoluta, em busca do que pudesse preenchê-la afetivamente. Aos 26 anos casou-se no civil e foi trabalhar no hospital como enfermeira. Seu sobrinho, memor Domini, um dia lhe disse: «Vi como você fica com os doentes. Não é só uma profissão para você. Por que não vai frequentar a comunidade da sua cidade?» Por fim ela cedeu, foi aos encontros de CL e voltou a ir à missa. E pediu ao Senhor: «Fazei com que eu viva feliz. Quero voltar para a Igreja, reerguer-me». Quando Bento XVI renunciou ao pontificado, ela teve esta intuição: «Quero ser livre como ele».

Pouco tempo depois, a vida tomou um rumo diferente. Laura se separou do marido e pensou que a direção mais adequada seria a clausura, porque «com um muro ao meu redor vou parar de causar problemas». Antes de partir, encontrou Pe. Carrón, que lhe perguntou: «O que a faz feliz?» «Ficar com os doentes». «Bem, verifique se no mosteiro você tem o mesmo sobressalto que sente quando está no hospital». Depois de dois meses, entendeu que as paredes do convento não eram o seu caminho. Voltou a falar com Carrón e começou seu caminho de verificação na São José. Naqueles meses, uma colega do hospital que sempre a julgara cinicamente por sua fé ficou gravemente doente, e por três meses Laura a assistiu dia e noite. Pouco antes de morrer, a mulher lhe sussurrou: «Você é a minha esperança. Chame um padre. Quero me confessar».

Naquele lapso de tempo, Laura se “esqueceu” da São José. «Dá para ver que não preciso dela», pensou, e foi conversar sobre isso com Pe. Michele, que respondeu: «Fique até o retiro de Quaresma». Foi a reviravolta, inesperada. A São José é a sua estrada. «Como Nicodemos, renasci depois de velha. O Senhor me tomou de novo vencendo a percepção que eu tinha do meu mal, que ainda me deixava estagnada. Apostou em mim, respeitando o meu desejo de viver sozinha». Hoje Laura assiste numa casa de repouso aos doentes terminais. Quando é possível, prepara-os para o encontro com Jesus. «Com eles eu tenho uma relação virginal: eles me pertencem, sem que eu os possua».

No nascimento da quinta filha, Roberta foi abandonada pelo marido. Perguntou a Pe. Michele: «Mesmo separada, minha vocação continua sendo o matrimônio. Mas eu vivo como se o Senhor me oferecesse algo mais nesta condição. Tem a ver com a São José?» Tem, porque a Fraternidade não preenche um vazio. «É mais. O Senhor me chama a Lhe consagrar a vida como forma de viver o casamento estando separada».

O Senhor surpreende quando a vida já parece estar em ordem, mesmo afetivamente. Walter ficou viúvo com quarenta anos. Tem um filho, dirige uma comunidade de recuperação para toxicodependentes e é o responsável do Movimento em sua cidade. «Eu achava que não precisava de nada mais». Pelo trabalho, conheceu algumas pessoas com quem experimentou uma sintonia, com eles se sentia em casa. Posteriormente descobriu que pertenciam à São José. Todos os seus pensamentos sobre “estar tudo em ordem” desmoronaram perante essa possibilidade à qual o Senhor o estava chamando. «No dia em que fui pedir a Pe. Michele para começar a verificação, fiz a mesma experiência de quando me declarei a Maria, minha mulher». As preocupações de trabalho, que antes lhe davam insônia, agora já não são um impedimento para o sono. «Estar magnetizado por Cristo dá uma paz que não é fruto da minha capacidade. É uma Graça da qual se é investido».

A missa diária, a hora de silêncio, a oração, as reuniões anuais e o encontro com o próprio grupo são os gestos simples que ajudam a reconhecer a presença de Jesus, a fazer memória d’Ele. Mais nada. «A carne de Cristo à qual a gente se entrega é a circunstância», explica Pe. Michele. «Antes vem a vocação à virgindade, depois a São José. A verificação é principalmente isto». Por exemplo, uma atriz sempre em turnê pelo mundo, praticamente nunca conseguia participar das reuniões ou do grupo de Fraternidade. «Frente a essa situação, fomos até Carrón para lhe perguntar qual era o “mínimo” para pertencer à São José». E ele, invertendo a questão, respondeu: «A São José consegue sustentar a vocação de uma mulher que vive essas circunstâncias de trabalho?»

«Essa humanidade mesma – que tantas vezes vivemos quase com desgosto, pois as contas não fecham, pois não gostamos, por causa de todos os limites que identificamos em nós –, essa humanidade é a única, a única capaz de ser conquistada por Cristo», disse Carrón naquele retiro de Advento. Chiara, nutricionista, chegou a quase detestar-se porque ainda não tinha conseguido viver uma relação afetiva definitiva. Mas sentia com força a pergunta de Pedro: «Se for para longe de Ti, a quem irei?». No entanto o Movimento, os amigos, a Escola de Comunidade... nada era uma resposta exaustiva. «Foi uma luta, eu entendia que não podia abrir mão do meu relacionamento com Cristo. Ele me queria a mim. Digamos que me cortejou bem de perto». Numa manhã de 2013 ela ligou para a secretaria da São José. «Quando ouvi Pe. Michele falar, pensei: é a minha história, me corresponde, porque salva todas as minhas características. Sou eu». Agora os pacientes do centro nutricional que ela coordena repetem: «Ela está diferente». A psiquiatra, cruzando com ela no corredor, lhe disse: «O seu departamento é outro universo».

No início, Dom Giussani tinha imaginado: «Se esses grupos se multiplicassem [...] poderíamos invadir a Itália, mas não com a finalidade de invadir a Itália». Estava errado. Não a Itália, mas o mundo foi “invadido”. Na África, padres, irmãs e até memores são aceitos porque, por assim dizer, são bem identificáveis. Mas uma experiência como a da São José é inconcebível.

Em 2002, Marta foi pela primeira vez às férias da comunidade de Yaoundé, em Camarões. Uma pessoa em particular lhe chamou a atenção: Alice. À amiga que a convidara, Marta perguntou: «Por que a Alice é assim? Atenta, calma, maternal, gentil...». «Ela fez uma escolha de vida: não é casada, não tem filhos. Faz parte da Fraternidade São José». «Isso, eu queria ser como ela», exclamou. Dois anos depois, na Itália para a Assembleia Internacional de Responsáveis, apresentaram-lhe algumas pessoas da São José, entre as quais Adele, que lhe perguntou: «Falaram-me de você, do seu desejo. Quer vir conosco, então?». Marta não hesitou: «Agora!». No dia seguinte começou a verificação. Voltando para casa, contou à família de sua decisão. O clima pesou. Sua escolha era incompreensível. «Com todo o estudo que você fez! Vai se reduzir assim!». A partir desse momento, para a sua família ela não existe mais. Agora Marta é educadora num centro social para jovens. «Na relação com esses jovens eu pergunto: “Que quereis de mim, Senhor, neste momento?”».

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«Nas entranhas do dia a dia» significa até mesmo subverter uma mentalidade. No Quênia, depois do retiro, pediram a Pe. Michele para fazerem uma grande festa para comemorar a entrada na São José. «Sempre disseram que não, por discrição». Mas a pessoa em questão insistiu. Pouco antes da missa, ele conversou na sacristia com Pe. Pietro Tiboni, que conhece bem a mentalidade africana. O missionário comboniano não hesitou: «Na África, a virgindade vivida tão laicamente é um desafio. Por isso digo para não fazer. Não pela festa em si, mas não há necessidade de “formalizar” esse gesto. É você, com a sua fé e a sua vocação à virgindade».

«Sempre fico surpreso por como Cristo preenche afetivamente a vida dessas pessoas», disse Pe. Michele. «Ele as alcança bem na característica particular de cada uma delas. E dentro da São José descobrem uma familiaridade inesperada, uma amizade impensável. O que Nossa Senhora fez depois do anúncio do Anjo? Foi até Isabel, para compartilhar o que lhe acontecera». Valem as palavras de Romano Guardini: «Na experiência de um grande amor, tudo o que acontece torna-se um acontecimento no seu âmbito».