Recomeçar em Atlanta
Em uma cidade onde «as pessoas estão sempre de passagem», Marco vive um vínculo que não o abandona. E que em plena pandemia alcançou os outros. Até o Alabama.Viver em Atlanta é como morar em um porto marítimo. Aquele que antigamente foi o território dos índios Creeks e Cherokees, e então a terra natal de Martin Luther King, hoje é a sede de prestigiosas universidades e grandes empresas como a Coca-Cola e a CNN. «As pessoas aqui estão sempre de passagem. Permanecem por um tempo para um estágio, para um mestrado, e depois vão embora. O nomadismo, típico da vida americana na Geórgia, se torna macroscópico», diz Marco Saccaggi, engenheiro milanês, que hoje trabalha em Atlanta, para onde se transferiu 11 anos atrás, após 10 anos passados em Dayton, Ohio. Ele chegou aos Estados Unidos em 2000, com esposa, filhos e um contrato de dois anos. «Nos pareceu uma boa oportunidade, inclusive para os meninos, que, naquela época, estavam em idade escolar». E então a América se tornou sua casa. Com um único centro afetivo: a comunidade do Movimento (Comunhão e Libertação). «Nos tempos de Dayton, íamos de férias com as comunidades dos estados mais próximos: percorríamos 14 horas de carro para passarmos 4 dias juntos. Depois, quando chegamos a Atlanta, as únicas pessoas do Movimento que havia ali foram embora. E ficamos sozinhos, com os filhos mais velhos que estavam começavam a sair de casa para fazer faculdade».
Marco e sua esposa se apegaram à paróquia. Foram muitos encontros nestes dez anos: justamente devido ao constante ir e vir de pessoas, muitas pessoas ao conhecê-los ficam impressionadas com o vínculo estável que há entre as pessoas do Movimento. «Eles se dão conta de que na nossa vida há algo mais forte do que qualquer mudança de casa, um rio de relacionamentos e de afetos, pelos quais nos sentimos acompanhados, onde quer que vamos. E que permite nos abrirmos a todos.» Marco sempre propôs aos seus novos amigos fazer Escola de Comunidade. A sala de estar de sua casa em Atlanta viu muitos pequenos grupos se alternarem e, ao longo do tempo, por vários motivos, naufragarem. Mas eles não falam sobre isso como uma coleção de falsos começos. Pelo contrário, em seus olhos prevalece a gratidão por aqueles que compartilharam um trecho de estrada juntos. E a paciência de quem sabe que a vida é uma promessa. «Nós sempre aderimos ao que acontecia, sem a pretensão de construir nada, mas recomeçando todas as vezes. Para nós, são os passos lentos e misteriosos do desvelar do nosso caminho.»
Então, em abril do ano passado, a eclosão da pandemia paradoxalmente se torna o terreno no qual começam a florescer novos relacionamentos. Marco foi surpreendido em várias frentes.
A primeira foi a da universidade, onde nunca houve uma verdadeira comunidade do CLU, até que o padre Branson Hipp, um jovem padre diocesano que conheceu o Movimento no seminário, foi nomeado capelão do Instituto de Tecnologia da Geórgia, uma das mais importantes universidades do estado. «Esse novo compromisso dele, combinado com restrições de saúde, havia diluído nossas reuniões», diz Marco. Mas o que poderia parecer mais um obstáculo foi o começo de uma outra coisa, que teve início na cafeteria do campus onde o Padre Branson tomava café da manhã. Em sua mesa havia waffles, café e o livro da Escola de Comunidade. Em um dado momento, percebe olhos curiosos sobre ele. Ao se virar, vê dois meninos tímidos, que o cumprimentam. São italianos, que chegaram lá para o semestre letivo. Quando viram um padre lendo um livro de Dom Giussani, se sentiram em casa. «Naquela manhã nasceu a Escola de Waffle, meia hora de leitura do texto, enquanto tomam café da manhã, à qual aos poucos foram se juntando outros alunos.»
A outra frente que se abre fica no estado vizinho do Alabama. É final de agosto quando Marco recebe um e-mail da Irmã Magdeleine Marie, da diocese de Birmingham, onde um novo bispo havia chegado recentemente, Dom Steven Raica. Ela lhe contou que havia conhecido os jovens de CL durante a universidade e ele a instigou a procurar uma Escola de Comunidade e retomar o fio condutor daquela experiência. Mas não só. Ele pediu-lhe que estendesse o convite a tantos outros que prestam serviço na diocese. «Então, em setembro eu me vi no Zoom, semanalmente, com cerca de quinze pessoas que eu não conhecia e talvez nunca possa encontrar. Mas a familiaridade e a fidelidade dos nossos diálogos são incríveis», diz Marco. Muitos deles ensinam catecismo, então a pergunta recorrente é como comunicar a fé aos jovens. Marco não tem receitas, mas continua a convidá-los a todos os gestos, ainda que on-line, do Movimento.
Alguns deles participaram de um encontro nacional com Julián Carrón e ficaram maravilhados com a liberdade com que podem enfrentar todos os aspectos da vida. E pediram a Marco para retomar esse diálogo durante a reunião de segunda-feira. «Todas as vezes, antes de me despedir, pergunto: “Então, queremos continuar? Vejo vocês novamente na próxima segunda?” Ninguém nunca faltou a um encontro, e são eles que pedem o texto a ser trabalhado, para preparar as questões.»
Por fim, a última frente das novidades diz respeito ao pequeno grupo da Escola de Comunidade de Marco, formado por algumas jovens famílias que se conheceram nos últimos anos. «O habitual encontro em nossa casa no domingo à tarde, sempre seguido de um jantar, foi cancelado devido à covid, tal como todos os outros momentos de encontro». Emma, mãe de dois filhos pequenos, durante o último Zoom, contou como entendeu o que Marco lhes explicava desde o início: «Sempre me fascinou a característica de convivência do Movimento. Cantamos, tocamos e comemos. Agora me dei conta que o que realmente quero dessa amizade é que ela me mantenha apegada à minha humanidade, às minhas perguntas. Foi o que aconteceu desde que Carrón nos perguntou: “O que nos arranca do nada?” Quem no mundo teve a coragem de nos desafiar assim? Começar a responder a esta pergunta coincidiu com o aprofundamento do meu vínculo com esse lugar».
É uma clareza que não é só de Emma: também para as outras amigas, os meses transcorridos separados marcaram uma mudança de ritmo. Marco, que aos olhos delas é o “veterano” da situação, olha tudo como se tivesse sido o último a chegar: «Estou diante de uma maturidade que tanto esperei. E me impressiona que isso aconteça em um momento tão complicado e desfavorável. Essa plenitude não é fruto de um empenho nosso, mas é algo que nos surpreende quando Deus quer».