Canadá. Na fila para se despedir de Jojo
Um câncer incurável, a dor e o pedido pela “morte assistida”. Mas então ela recebe a visita de Cristina, uma ex-colega da sala de cirurgia, que lhe pergunta: «Você quer ver os outros?»No Hospital Geral Judaico de Montreal, Jojo era uma instituição. Uma vida na sala de cirurgia. Todos, médicos e enfermeiros, conheciam-na, todos tinham aprendido com ela. Desde que se aposentou, em 2016, Cristina Benetti, enfermeira-chefe, italiana há vinte anos no Canadá, encontrava-a de vez em quando na missa na igreja perto do hospital. Depois de algumas frases sobre colegas, a ex-enfermeira lhe confidenciou: «Sinto falta um pouco da vida na enfermaria. Mas agora eu posso me dedicar aos netos». «Que bom! Você merece.»
Em maio, Anne parou Cristina no corredor: «Você sabia? Jojo está internada com uma forma muito rara e agressiva de câncer, já em seu quarto estágio». Alguns segundos de silêncio e a colega acrescentou: «Ela está na fase terminal e pediu a morte assistida» (por lei no Canadá é possível pedir eutanásia). Ao sair do hospital, Cristina pensou em quando elas se cruzavam na sala de cirurgia. Quantas vezes ela lhe pedira ajuda, conselhos. Lembrou-se de sua dedicação aos doentes.
Alguns dias depois, com uma colega, Cristina foi visitá-la. A mulher, presa à máquina de diálise, lutava para respirar. Ela se aproximou da cama e sussurrou: «Oi, aqui é a Cristina». Jojo abriu os olhos, um aceno leve de seu rosto para fazê-la entender que a reconhecera, e depois abaixou as pálpebras. «Não fale, mantenha sua força para respirar. Só queríamos cumprimentá-la. Estamos aqui com você». Por alguns minutos só dava para ouvir a vibração da máquina. Em seguida, Jojo, pesando a respiração, começou a contar: «Estou em tratamento desde outubro. As terapias devastaram meu corpo. É um mal cruel, a dor às vezes é insuportável. Cri, não aguento mais. Decidi pedir a morte assistida». «Se você quer morrer, vamos orar ao Senhor para que a ouça, de acordo com o tempo d’Ele. Você quer que eu chame um padre?» «Eu já recebi o óleo santo e dei disposições para o meu funeral. Está tudo certo». Cristina exclamou: «Você é mesmo uma ótima enfermeira! Tudo sob controle, como na sala de cirurgia». Quase sorrindo, a mulher respondeu: «Obrigada por sua visita». «Tenho certeza de que outros colegas viriam vê-la também. Você gostaria de vê-los?» O rosto da ex-enfermeira se iluminou. «Sim, sim. Mary, John, Lucy…» Lembrava-se dos nomes de todos, mesmo daqueles que se mudaram para outro lugar. «E se eu disser isso aos cirurgiões também?» «Você realmente faria isso? Eu ficaria tão feliz…»
Os olhos brilharam. O tempo de organizar e, dois de cada vez, enfermeiras, cirurgiões, até mesmo as secretárias do hospital fizeram fila para ir visitá-la. Alguém saiu com olhos brilhantes. Na porta da sala, Cristina encontrou um cirurgião plástico, famoso por seu cinismo. «Lembramos quando trabalhávamos juntos. Conversamos sobre a vida», contou com emoção. Ela se surpreendeu com essa reação e, antes disso, pela vontade de ir. Ele se sentou ao lado da cama. «Jojo, todos querem vir. Você ainda tem vontade?» «Sim, mesmo com a pressão muito baixa e toda a dificuldade. Estou tão feliz que posso dizer adeus a eles. Meu filho veio com a esposa e as netas. Você sabe, eu pedi que não me reanimem». «Eu teria feito o mesmo.» A ideia da morte assistida não estava mais presente.
A condição piorou e Jojo foi transferida para o setor de cuidados paliativos contra a dor. Ela não conseguia mais falar. Cristina lhe disse: «Você já viu quantas pessoas vieram? Espere por nós no céu. Faremos uma boa festa de Natal juntos. Eu rezo por você». E a colega que a acompanhava acrescentou: «Vamos comer sua deliciosa pancit, vamos brindar e dançar juntas». Jojo acenou um sorriso. O último. Naquela tarde ela morreu.
Após o funeral, Cristina escreveu a uma amiga: «Há uma nova familiaridade entre nós, colegas, você percebe que o outro faz parte da sua história. Só juntos podemos olhar para cada circunstância, mesmo as mais dramáticas, e aceitá-las. Para Jojo foi assim».