Estados Unidos. Onde a vida acontece
A busca de Vanessa, passando pelo Vale do Silício, Itália e Los Angeles. E aquele dia, infiltrada no funeral de Giussani… «Bastava-me a experiência que eu vivia para entender que a fé testemunhada por ele era razoável»Vanessa fala um italiano perfeito, ainda que o sotaque californiano misturado à cadência florentina o torne algo único. Único como a sua história, iniciada há cinquenta anos em Saratoga, cidadezinha do Vale do Silício, e transferida para a Itália, primeiro em Milão e depois em Florença, quando Vanessa ainda era moça. «Eu era modelo de várias agências italianas. Eram os tempos da “Milano para beber”, mas eu não conseguia me apaixonar pela Itália. Sentia uma enorme diferença em relação à América e tinha saudades de casa». Na verdade, é uma saudade que ela sempre conheceu, que percebia desde menina, quando depois da separação dos pais foi morar com o pai. «Aos sete anos, tive a primeira crise de pânico, estava aterrorizada com a ideia de que meu pai poderia morrer. Chorando, eu lhe dizia: “Como vou conseguir não te ver mais?” Aos nove anos pensei em aplacar minha ansiedade decidindo ir morar com minha mãe em Los Angeles. Mas a dor me acompanhou lá também».
Durante os anos do colegial, ela se lançou em mil e uma experiências, procurando algo que pudesse ajudá-la. Encontrou um grupo de jovens protestantes, e numa Páscoa decidiu ir com eles. «Era um Easter Project, uma espécie de acampamento onde alternavam orações e atividades de voluntariado. Eu estava muito feliz». Mas no momento da despedida, antes de voltar para casa, quando pedem aos jovens que deem um passo à frente se desejarem deixar Jesus entrar em seu coração, Vanessa ficou parada. «Enquanto todos deram aquele passo, eu senti que não podia dá-lo com verdade. Como podia garantir isso sozinha? Jesus, tão ligado aos meus sentimentos daquele momento, ainda era uma coisa incerta».
Aos 19 anos, nas praias da Versilia (Itália), conheceu Simone. Os dois se apaixonaram. Ele também era um tipo inquieto. E paradoxalmente o encontro com a garota dos sonhos reacendeu a sua inquietude. Um dia, uma amiga o convidou para umas férias do Movimento. «Ele me ligou em Nova York, onde então eu estava a trabalho, para me dizer que estava indo… Pensei: “Pronto, não sou mais suficiente. Acabou”». Simone voltou para casa e lentamente Vanessa o viu mudar, cada vez mais apegado a esses novos amigos que ela também passou a encontrar quando voltou para a Itália. «Eu estava acostumada ao ambiente dos desfiles, e aqueles caras que discutiam política, cantavam juntos e organizavam férias para trezentas pessoas me pareciam de outro planeta». Uma noite Simone foi pegar Vanessa no aeroporto, num de seus retornos dos Estados Unidos. No carro, ela percebeu que o trajeto estava diferente. «Hoje você não vem pra minha casa», disse ele, enquanto estacionava no centro de Florença. «Achei uma vaga para você num apartamento de universitárias. Há também outra garota americana. Este caminho pode se tornar seu também, se você desejar. Você não pode continuar sendo só a minha namorada.» Vanessa o olhou com lágrimas nos olhos sem entender nada. Mas depois ela foi conquistada por essa vida diferente: «Eram pessoas especiais, aproveitavam todos os aspectos da vida. Aquela era a felicidade que desde menina eu desejei encontrar. E além disso me amam». Elas a ajudaram a encontrar um trabalho como secretária na faculdade. Depois, quando teve de passar por uma cirurgia importante, dividiram-se em turnos para nunca deixá-la sozinha. «Naquele leito de hospital entendi tudo. Disse a mim mesma: “Agora estou pronta para casar com Simone. Graças a esse povo que vejo. Graças a essa vida diferente que brota da fé e do carisma de Dom Giussani”». Na igreja da Santíssima Anunciada, com 23 anos de idade, Vanessa recebeu o Batismo e a Primeira Comunhão. Era 1995, e finalmente ela se sentiu em casa.
Ela só ouviu Dom Giussani falar uma vez, nos Exercícios do CLU. «Não entendi muita coisa. Mas me bastava a experiência que estava fazendo para entender que a fé que ele testemunhava era algo razoável, que mantinha unidas todas as minhas exigências. Foi por isso que na vida pude reconhecer Cristo». Depois do casamento, vieram os filhos. Vanessa começou a ensinar inglês na escola elementar de Prato, onde moram. A vida provinciana, os filhos pequenos e um marido sempre no exterior a trabalho trouxeram de volta a saudade de casa, e ela falou disso com os amigos do Movimento. Giovanni, um memor Domini, um dia lhe disse: «Você pode viver em qualquer circunstância, sem sonhar em estar em outro lugar. Mas, para verificar isso, precisa fazer como fez o conquistador Cortês quando seus homens começaram a querer voltar para a Espanha: precisa “queimar os navios”. Quer dizer, pedir que cada instante seja tudo».
Mas só alguns anos depois é que Vanessa captou a profundidade a que aquelas palavras a levaram. Era o alvorecer de 24 de fevereiro de 2005, no trem para Milão. Com os amigos de Prato, Vanessa saiu cedo para participar do funeral de Dom Giussani. Simone estava na China e ela deixou seus quatro filhos em casa com a babá. «Chegando ao Duomo, a igreja já estava cheia e nos amontoaram num setor da praça. Não sei o que deu, mas me esgueirei para dentro, entrando sorrateiramente por uma porta lateral». Ali, apoiada numa coluna do lado do altar, ela entendeu quem era aquele homem para ela. «Entre autoridades, políticos e parentes próximos, estava também eu, uma mulher da Califórnia, moradora de Prato, invadida pela gratidão pela vida cheia de alegria que eu tinha descoberto. Senti-me diante do pai a quem devia tudo».
Hoje, Vanessa e Simone moram com os quatro filhos em Redondo Beach, perto de Los Angeles. As exigências do trabalho dele os levaram de volta para os Estados Unidos. «Assim que cheguei, procuramos alguns amigos de CL. Passamos a encontrá-los, muitos deles eram italianos. Trabalhavam em empresas americanas, tinham amigos americanos e entre si falavam inglês… Eles também tinham queimado os navios. Também para eles “casa” é onde o significado da vida acontece.»#100Testemunhos