Caritativa. Uma vida completamente diferente
Um grupo de universitários faz companhia aos idosos do Instituto Sagrada Família de Cesano Boscone todos os sábados. Aqui está como eles descrevem essa experiência. E o que estão descobrindo para si mesmosNum canto, Gigi (nome fictício, ndr) de olhos fechados não para de resmungar. Assim que o canto termina, ele se aproxima de Maria: «Desculpa, se não participei. Sinto muito, mas eu gosto muito de vocês». Uma cena que acontece todo sábado de manhã no salão dos pavilhões São Ricardo e São José do Instituto Sagrada Família em Cesano Boscone, nos arredores de Milão, onde os jovens do CLU da Universidade Estatal fazem caritativa com alguns idosos.
«Estou surpresa pelo fato de Gigi sempre voltar», conta Maria. «Ele sempre tem críticas, é polêmico, mas eu me apeguei a ele. Isso para mim é incrível. Para que isso acontecesse, foi necessário tempo e foi preciso observar os amigos que vêm comigo». Observá-los enquanto realizam gestos muito simples: empurrar uma cadeira de rodas conversando com o idoso que responde monossilábico, continuar cantando mesmo que sejam muito poucos os moradores que acompanham, ficar ao lado de uma senhora cega para contar-lhe o que está acontecendo. «No início, eu ficava preocupada que as coisas dessem certo, mas o imprevisto aqui é a norma», continua Maria. «A essa obstinação sucedeu uma descoberta: eu não posso resolver nenhum dos problemas deles, muito menos “distraí-los” da tristeza e dor. Posso apenas estar com eles. Eu defino isso como um saudável esquecimento de mim que faz emergir a verdade do sentido que me sustenta. Sozinha isso não teria acontecido. Assim, renasce a esperança para a minha vida e a deles». Um sábado Maria não conseguiu ir, e quando Gigi ficou sabendo, parou um dos rapazes: «Vocês têm que me avisar antes, assim me preparo».
São cerca de vinte universitários que chegam todos os sábados: rezam o Ângelus e leem uma página de O sentido da caritativa, de Dom Giussani. Depois, vão aos departamentos buscar os moradores para levá-los ao salão, quando possível, para passear lá fora, tomar um café no bar, e em alguns casos jogar bola, embora «jogar seja uma palavra forte», brinca Matteo: «É uma verdadeira façanha conseguir passá-la de um para o outro! E ainda assim eles sempre agradecem no final. Mesmo quando parece que cantamos mal, que nada correu bem. Eles desfrutam do afeto daquela hora. O desejo de fazê-los felizes é sempre grande, mas quando se choca com a exigência de resolver é um fracasso. Me surpreendo desfrutando da felicidade deles». Alguns moradores perguntam o porquê da dor e da tristeza que sentem, ou: «Por que comigo?» «Não posso dar uma resposta completa, mas me emociono vendo-os felizes nessas duas horas. Eles reabrem a questão sobre meus próprios sofrimentos».
Após reconduzir os moradores, os jovens comem juntos contando o que aconteceu. Do velhinho que é “maníaco” por dentes e inevitavelmente pergunta a um deles se cuidou do dente do siso; do que descreveu detalhadamente o personagem que vai interpretar na peça de Páscoa. Mas, sobretudo, «eles se lembram do que você disse de si mesmo. E de um sábado para outro querem saber do irmão ou da mãe que você mal tinha mencionado», diz Francesco. «Posso chegar irritado ou desapontado, mas sempre vou embora contente».
«Becca, você veio! Você está tão bonita hoje!» Rebecca sorri com a exclamação de Liliana (nome fictício, ndr), que, junto com outros deficientes cognitivos, mora na Villa San Vincenzo, também dentro do Instituto Sagrada Família. Antes da covid, Rebecca fazia caritativa numa instituição parecida. «O sofrimento que eu via me fez questionar muitas coisas que eu não queria deixar passar», conta. Por isso, quando seus amigos sugeriram ir ao Sagrada Família, ela aceitou. «Alguns meses atrás, quando percebi que aquele gesto estava como que se esvaziando, entendi que aqueles amigos eram fundamentais para compreender o que Dom Giussani escreveu: “Continuo indo à caritativa porque todo o meu sofrimento e o deles têm um sentido”».
Com os moradores da Villa, os jovens cantam, têm longas conversas ou tentam jogar simples jogos de tabuleiro. Eles até conseguiram jogar um pseudovôlei. Rebecca fica preocupada quando vê um deles triste e dá tudo de si para deixá-lo feliz. Mas quando isso vira uma obsessão, ela acaba cansada e o morador com quem tentou de tudo fica tão triste quanto no início. Um fracasso? Não, ela percebeu isso ao reler estas linhas de O sentido da caritativa: «Esperando em Cristo, tudo tem um sentido: Cristo. Consigo, finalmente, descobrir tudo isto somente participando do gesto da “caritativa”, exatamente pela impotência final do meu amor: e esta é a experiência em que a inteligência se aprofunda na sabedoria, na verdadeira cultura». «Aquele “final” me pôs de pé de novo», explica. A experiência da caritativa também a acompanhou na Ligúria quando foi visitar suas duas avós idosas. Uma em particular costuma repetir: «Minha vida não tem mais sentido». Rebecca sente o dever de estar o máximo possível com a avó para preencher esse vazio, como se isso dependesse dela. Até que algo mudou: «Tendo em mente meus amigos com quem havia retomado o gesto da caritativa, tudo ficou mais simples. Estive com ela sem a ânsia de resolver suas preocupações e tristezas. Uma vida completamente diferente».