“Eu não estava em Stanford, mas agora me interroga”
“Não desperdice a vida, siga sempre o seu coração”. A fala é do número um da Apple, em 2005, diante de um grupo de universitários americanos. Com a notícia da sua morte, um estudante italiano relê aquelas palavrasNaquele dia eu não estava em Stanford. Não sou americano e em 2005 ainda deveria prestar o vestibular. Mas hoje de manhã, com a notícia da morte de Steve Jobs, mergulhei na internet e me deparei com o seu discurso feito seis anos atrás na prestigiosa universidade americana. Fiquei de boca aberta. Provavelmente porque eu, como os milhares de estudantes presentes naquele dia, esperava um discurso sobre como ser criativos ou sobre como obter sucesso na vida. E talvez ele tenha feito esse discurso. Mas passando por um outro caminho, inesperado. “Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu gostaria de fazer o que farei hoje?”. O inventor da Apple relata que há anos se colocava essa pergunta todos os dias. E agora ele a coloca para mim. É incômoda, machuca, mas me faz voltar à realidade: “Ninguém quer morrer. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos”. A notícia da sua morte precoce, aos 56 anos, é de hoje. Mas é como se o sofrimento e a dor tenham sempre sido uma constante na sua vida, uma ferida sempre aberta. Não só pela doença, mas também pela clara percepção do último e da finitude das coisas. Enquanto o vejo falar, fico impressionado com a sua decisão, com sua fala sem rodeios nem retórica. Apenas o essencial. Mesmo os estudantes que riam no início, estranhando um pouco, depois ficaram sérios. Porque Steve Jobs não está falando de nada além de sua experiência, e do que ele aprendeu. Que não é uma simples constatação da nossa natureza mortal: "A Morte é muito provavelmente a principal invenção da Vida". Mas como? A morte? E, no entanto, ele entendia bem de invenções… E de fato é assim: a nossa incompletude, a nossa fragilidade é o que nos torna seres especiais. Também é graças a esse impulso que a existência se torna plena e intensa, e cada instante se torna digno de ser vivido. Desde que não seja censurado. “Não desperdice a vida, siga sempre o seu coração”, continuava a desejar aos que o ouviam.
E agora que ele está morto eu não posso deixar de me perguntar se ele ficou satisfeito pelas escolhas que fez e por como gastou a vida, se encontrou aquilo que buscava. Não sei muitas coisas sobre ele, mas sei que nos últimos seis anos não deixou de fazer a sua empresa crescer. Aliás, talvez tenha sido exatamente neste último período que a Apple produziu as suas criaturas mais brilhantes. Com o seu fundador sempre na linha de frente.
Agora entendo mais o que está por trás do elegante computador no qual estou escrevendo, o que está por trás do iPad ou do iPhone. O que está por trás de cada tentativa, mais ou menos genial, do homem. Um desejo infinito, uma desproporção insuperável. “Continue faminto, continue bobo.”
(Veja aqui o link para o vídeo do discurso de Steve Jobs em Stanford, em 2005)