"As chuvas cessaram, o sol nos dá esperança"

Reproduzimos o testemunho de Saul Ponce Cesal, Coordenador da Juventude em El Salvador, que visitou as famílias que perderam suas casas devido as chuvas que castigaram o país no último mês
Saul Ponce

As pessoas começaram a emergir dos abrigos para descobrir o que resta de suas casas, em meio à lama, cascalho recuperando o pouco que podem das posses de uma vida ...
Após uma semana de notícias das inundações, deslizamentos de terra e destruição de casas e plantações milhares de pessoas, sem comida ou abrigo, eram o foco de atenção. Agora o sol se impõe sobre a realidade, fazendo com que quase pareça que nada aconteceu.
Tudo parece que retornará ao normal ... Como estamos errados! Enquanto atravessamos os municípios ficamos mais conscientes da extensão do desastre, parece que tudo já aconteceu, mas lá fora, entre as malas e a ansiedade, as famílias tentam encontrar um meio para começar de novo.
Ao visitar um dos abrigos localizados na Casa Comunal do parque encontramos Agner Sacacoyo Castillo, um menino de 6 anos de idade, filho de um casal de camponeses. Agner brinca com folhas secas caindo de uma árvore que abraça-o com sua sombra e parece jogar chuva e folhas secas em sua cabeça.
Pergunto a ele: o que acontece com seus brinquedos? Agner responde que sua bola de plástico está presa no telhado do abrigo e que não consegue achá-la. Outra pergunta: Onde você morava? Ele respondeu: " Eu vivo aqui perto mas minha casa está cheia de lama e não podemos mais morar lá. Mas não se preocupe, minha mãe diz que vamos ter outra casa".
Como você gostaria que sua casa? Com um sorriso no rosto, disse: "Eu gostaria que fosse grande, com um jardim. Mas eu gosto disso! Sim, eu quero assim" (referindo-se ao albergue), "É que estamos em frente a um parque e é como se pudesse jogar bola para sempre".
Os pais de Agner nos dizem que hipotecaram um terreno para construir sua casa e quando finalmente terminou o pagamento da dívida, veio a chuva e destruiu o lugar.
Tudo parece calmo e vai voltar ao normal, mas a realidade vem até nós. As pessoas ainda estão em abrigos e não tem nada com o que contar além do tempo e da ajuda uns dos outros...

(*) Saul Ponce Cesal é Coordenador da Juventude em El Salvador


(Revista Huellas)