A Coleta de Alimentos em Ribeirão Preto: uma surpresa

No dia 5 de novembro de 2011 foi realizado o Dia Nacional da Coleta de Alimentos. Passados alguns meses contamos aqui o que significou este gesto na comunidade de Ribeirão Preto
Carmen Justo, Comunicação Coleta

A experiência da Coleta de Alimentos nesse ano foi algo surpreendente! Desde os primeiros contatos que fizemos em busca de parceiros, passando pelos convites aos voluntários, as apresentações da proposta do gesto nas empresas parceiras e o convívio com as pessoas no dia da coleta, em todo o trabalho a sensação era de muita amizade e carinho entre as pessoas.
Duas semanas antes do Dia da Coleta de Alimentos na cidade, realizamos uma Mesa Redonda na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, com o título “Construindo juntos formas de vida solidária, evento que marcou a abertura oficial das atividades da Coleta de Alimentos de Ribeirão Preto. Nesse dia reunimos o Prof. Rafael Marcoccia da FEI – Fundação Educacional Inaciana Padre Sabóia de Medeiros, da cidade de São Bernardo do Campo, para apresentar o seu trabalho de pesquisa junto a Associação dos Trabalhadores Sem Terra , da cidade de São Paulo e o Prof. Márcio Henrique Ponzilacqua , da Faculdade de Direito da USP, que apresentou o tema “Um contraponto às sociedades fragmentadas do espetáculo e do consumo”. Na fala de ambos a questão da solidariedade como experiência de vida das pessoas foi marcante para o público presente.
Em outro relato, na mesma apresentação eu e minha amiga e colega de trabalho , Profa. Raquel Lovatti, do curso de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Moura Lacerda, apresentamos juntas, o trabalho que realizamos com nossos alunos “Os Publicitários Solidários e a experiência educativa numa ação voluntária – a coleta de alimentos em Ribeirão Preto”.
Lembro da fala do depoimento de uma das Amigas da Coleta em Ribeirão Preto, a Giovana, que disse “Foi maravilhoso e sublime”! “Por que algo de verdadeiro e humano aconteceu nesse dia, uma discussão acadêmica, mas baseada em fatos e acontecimentos reais.”
Alguns dias antes da Coleta, todos os parceiros que ajudam a Coleta através de investimento financeiro na impressão do material de comunicação e divulgação, fizeram campanhas internas em suas empresas para recrutar voluntários. O gesto foi muito emocionante, pois no dia da coleta tínhamos representantes de todos eles. Eram jovens universitários (dos mais variados cursos – Direito, Economia, Administração, Psicologia, Publicidade e Propaganda e Ciências Contábeis), de diferentes instituições (USP e Moura Lacerda) que se uniram nos supermercados para a arrecadação num espírito de voluntariado e de amizade. Também participaram jovens do ensino médio, entre eles alunos dos Colégios Auxiliadora e Marista.
Outro grupo de voluntários foi formado pelos representantes do Grupo São Francisco Saúde: eram enfermeiros, administradores, gerentes e coordenadores. Dessa empresa destacamos a participação de um grupo de crianças (10 ao todo), que vieram conhecer a Coleta de Alimentos junto com um casal, um deles funcionário do Grupo S. Francisco. Esse casal realiza um trabalho voluntário numa comunidade de favela da periferia de Ribeirão Preto, junto com esse grupo de meninas de 9 a 12 anos.
Os amigos Robson e Liliam e seus filhos pequenos levaram as 10 crianças para participarem da arrecadação, sendo que elas também recebem doações através das entidades cadastradas pelo Banco de Alimentos. Isso foi incrível! Meu marido, Antonio Justo, que também trabalha nessa empresa ficou emocionado ao ver o envolvimento das meninas nesse dia, aprendendo como é uma arrecadação de alimentos para as pessoas carentes. Com certeza esse trabalho ficará registrado na mente e no coração das pequenas!
Um fato desse dia que não posso deixar de relatar é a presença de pessoas de várias religiões que se uniram pela Coleta. Eram evangélicos, judeus, espíritas e católicos juntos, dividindo o mesmo espaço pelo gesto de voluntariado. Foi muito bom compartilhar experiências com essas pessoas durante do dia da coleta.
E, finalizando, quero destacar a presença maciça dos meus alunos do curso de Publicidade e Propaganda, que se revezaram no Tonim Supermercado durante todo o dia. Pude sentir o entusiasmo deles , quando na semana seguinte alguns me abordaram no corredor da faculdade e pediram para que eu não me esquecesse de convidá-los para o próximo ano. Como parte da participação do dia 5, os alunos e professores do curso organizaram a I Semana da Coleta de Alimentos do Moura Lacerda. A ideia foi dar continuidade aos trabalhos da coleta de alimentos e estender para toda a comunidade acadêmica o sentido do gesto. Toda a arrecadação foi somada a arrecadação da Coleta de Alimentos Ribeirão Preto e foi destinada a Cooperativa de Catadores Projeto Mãos Dadas. A montagem de 57 cestas de alimentos, contendo 15 kg cada foi um momento de grande emoção para os alunos e catadores! Além de arrecadar, as doações foram entregues na sede da Cooperativa Mãos Dadas.
Uma catadora, muito agradecida disse: “Esse é o nosso presente de Natal!”
A Coleta de Alimentos de Ribeirão Preto vai deixar saudades pelo carinho, envolvimento e comprometimento de todos, mas principalmente pelos encontros proporcionados pelo gesto, que se estendeu para várias pessoas e comunidades.

TESTEMUNHOS

SER VOLUNTÁRIO:

Foi muito gratificante participar deste trabalho voluntário. Agradeço a oportunidade.
Regina Troca Queiroz

Participar da coleta foi gratificante. Sinto-me útil por ajudar alguém. E saber que com os pequenos esforços, como de uma formiguinha, conseguimos arrecadar 800kg em apenas um dia.
Giuliana (Centro de Voluntariado Universitário)

A ABORDAGEM:

Foi um dia excepcional. O contato com as pessoas na abordagem para falar sobre a coleta nos faz aprender muito, sobre nós mesmos e sobre os outros. Aprendemos que cada um tem seus trejeitos, suas reservas e seu modo particular de demonstrar sua generosidade. O mais interessante foi o fato de estarmos em um supermercado de um bairro de classe média, talvez classe média baixa. E aos nossos olhos, assistimos a doação do supérfluo ocorrer, mas aprendemos muito mais com aqueles que doam um pouco do seu. O clima criado entre os trabalhadores voluntários não poderia ser melhor, com uma descontração incrível e um sorriso sempre a mostra no rosto, como se por alguns momentos estivéssemos ali entre amigos, nos divertindo saudavelmente, contribuindo de uma forma agradável, com a coleta e com nós mesmos.
Daniel Bellissimo

A EXPERIÊNCIA DO GESTO:

Para mim a coleta começou enquanto eu convidava meus alunos para participar do gesto. Em um momento anterior eu havia pensado em convidar "alguns", depois me dei conta que devia lançar o convite à todos, afinal, quem era eu para "selecionar" o coração de alguém? Como eu havia ficado mais próxima de alguns por causa de uma oficina livre que eu havia proposto este ano, foram justamente estes os que mais aderiram: Fiquei com vinte fichas de alunos cadastrados e um pedido que o gesto fosse uma experiência de gratuidade para eles, porque sei que o coração se abre à presença do Senhor em cada experiência de gratuidade que fazemos. Comovente também foi o fato de dois irmãos ficarem gripados no dia e, como não puderam ir, enviaram a mãe. Vê-los com liberdade e seriedade durante a coleta foi um momento de ternura e afirmação do Senhor para comigo e com eles.
Cristina Langer

Irmãos na Caridade! A experiência de cada ano que passa na participação como voluntária na campanha do Dia Nacional da Coleta de Alimentos me mostra, cada vez mais, o quanto o coração do homem é bom e aflora o desejo de caridade latente em cada um de nós. É um trabalho que vem sendo organizado desde os meados de julho e teve seu ponto mais forte no dia 05 de novembro, quando aconteceu a Coleta em quatro lojas de supermercados na cidade de Ribeirão Preto e um na cidade de Sertãzinho. Do amanhecer ao entardecer, foram horas de atividades incessantes de abordagem, informações, recebimento da doação, agradecimento, separação de produto, contagem, registro, interação com os trabalhadores e clientes das lojas de supermercados, bem como com os voluntários. A participação de todos foi surpreendente. A ação da doação comove o homem. Um senhor chegou por volta das 17 horas e na abordagem falou que só tinha o dinheiro do marmitex e que foi lá para comer, era pedreiro e estava trabalhando até àquela hora. No retorno, saindo da loja, entregou um saquinho com uma lata de ervilha falando assim: “Olha deu para comprar isso”. A emoção toca ao coração! Outro senhor na abordagem disse que foi lá só para pagar uma conta na casa lotérica. A voluntária falou ok, se o senhor for até lá em cima... Quando o senhor retornou estava com um carrinho do supermercado com seis pacotes de arroz e seis pacotes de feijão e disse: “Então, está bom assim?” E nos surpreende! E o desejo de bondade manifesta-se mais intensamente quando lhe é proporcionado agir!
Sueli Cortellini

A Coleta esse ano me fez compreender a força de um gesto humano que tem sua origem numa experiência autêntica de comunidade. A partir de uma experiência real de comunhão, entre pessoas de tantos lugares diferentes, nasceu a caridade: conosco e com “desconhecidos” a quem os alimentos seriam destinados. Nesse acontecimento ninguém era estranho: as pessoas que abordávamos, as pessoas com as quais trabalhamos ao longo do dia, todas assumiam o rosto de um amigo, tinham no semblante a oferta de uma companhia. A maior prova disso aconteceu dois dias atrás e vinte dias depois da coleta, quando encontrei o motorista do ônibus do meu bairro que foi ao supermercado no dia da coleta e fez também a sua doação junto com a família – que eu pude ter a alegria de conhecer. Ele me disse: “dessa vida não levamos nada mesmo, se não é um ajudando o outro.” E fiquei com as suas palavras ressoando em mim como gratidão, porque o que de fato importa estava sendo afirmado na beleza daquele dia que ele não tinha esquecido e nem eu.
Giovanna Ottoni